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Arqueólogos encontram sangue em escavação no DOI-Codi
Publicado por Victor Nunes -
Atualizado em 13 de agosto de 2023 às 18:13
Na última quinta-feira (10), pesquisadores de diversas universidades federais de São Paulo encontraram vestígios de sangue embaixo do piso de madeira em salas usadas para o interrogatório de presos na sede do antigo DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações do 2º Exército, em São Paulo). Com informações do jornal O Estado de São Paulo.
A descoberta marca a primeira vez que a arqueologia forense no Brasil encontrou possíveis vestígios de sangue depositados há mais de quatro décadas por meio do uso de luminol (produto utilizado em perícias para revelar manchas em locais de crimes violentos).
“Nós encontramos vestígios de sangue em dois lugares. Eram duas salas do primeiro andar do prédio, que foram usadas para o interrogatório de presos nos anos 1970″, afirmou a historiadora Deborah Neves, responsável pelo projeto.
Uma das salas citadas pela historiadora fica próximo da escada. Embaixo de tacos de madeira, os arqueólogos encontraram manchas escuras que pareciam de material orgânico, e, após o uso do luminol, foi detectada a presença de sangue.
Os arqueólogos trabalham com a hipótese de que o sangue tenha escorrido pelas frestas do piso, impregnando a área embaixo dos tacos.
“Temos relatos de que se tratava de um lugar onde presos eram torturados. Aqui, por exemplo, o preso Joaquim Alencar Seixas foi colocado na chamada cadeira do dragão (uma cadeira com chapas de ferro onde os detentos eram amarrados e recebiam choques elétricos)”, disse Deborah.
No segundo andar, os pesquisadores fizeram outra descoberta. Embaixo do azulejo do banheiro havia inscrições. Era um calendário com datas que associavam os dias da semana com datas que iam de 22 de novembro a 3 de dezembro. Pela sequência, sabe-se que a inscrição se refere ao calendário de 1970 ou de 1981.
“A marcação do tempo é um ato de resistência, pois os carcereiros buscam negar a noção de tempo e de espaço ao prisioneiro. Fazer um calendário ajuda a manter a sanidade, enquanto se está detido”, afirmou Aline Carvalho, coordenadora da arqueologia pública da Unicamp.
O Ministério Público Estadual (MPE) entrou com uma ação na Justiça para que o governo do Estado transforme a sede do antigo órgão de repressão em um memorial. As escavações, que começaram no dia 2 de Agosto, fazem parte desse projeto.
Fonte: DCM, 13/08/2023
Disponível: https://www.diariodocentrodomundo.com.br/arqueologos-encontram-sangue-em-escavacao-no-doi-codi/