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EDUCAÇÃO SUPERIOR
UFSM descobre espécie precursora dos dinossauros
A Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), vinculada ao Ministério da Educação (MEC), publicou estudo no periódico científico Gondwana Research na última semana. No artigo, um paleontólogo da entidade descreve uma nova espécie de réptil que viveu há 237 milhões de anos. O animal traz novas pistas sobre a origem dos dinossauros.
O surgimento dos dinossauros foi um dos processos evolutivos mais importantes da história da vida na Terra. Eles dominaram os ecossistemas terrestres por mais de 150 milhões de anos. No entanto, a ascensão dos dinossauros ainda é um tema desafiador, considerando a escassez de fósseis de seus precursores. O Brasil é conhecido mundialmente por abrigar alguns dos mais completos e bem preservados fósseis dos mais antigos dinossauros do mundo, com aproximadamente 230 milhões de anos. Por outro lado, embora essenciais para se entender a origem do grupo, fósseis de precursores de dinossauros mais antigos ainda são muito raros.
Compreender como foram os precursores dos dinossauros poderá ajudar a entender as características cruciais para sua evolução. Nos últimos anos, foram reportados achados do gênero com aproximadamente 237 milhões de anos no Brasil, mas esses fósseis são usualmente fragmentários e pouco informativos.
Uma mudança nesse cenário se deu agora com a descrição de uma nova espécie chamada Gondwanax paraisensis. Seus fósseis foram descobertos no município de Paraíso do Sul (RS), por Pedro Aurélio. Depois de recolhidos, os materiais foram doados por ele para o Centro de Apoio à Pesquisa Paleontológica (Cappa/UFSM) no início de 2024.
Durante a triagem dos fósseis recebidos pelo Cappa/UFSM, o paleontólogo Rodrigo Müller notou alguns elementos com características interessantes. Levou os materiais para o laboratório e iniciou um trabalho de preparação com uso de ácido e marteletes pneumáticos. Após dias de trabalho, parte do esqueleto de um réptil até então desconhecido foi finalmente revelada. Uma descrição formal da espécie e suas implicações foram apresentadas em um artigo científico publicado por Müller no periódico Gondwana Research. A pesquisa recebeu apoio do governo federal.
Os detalhes do esqueleto fossilizado sugerem que o material pertence a um animal da linhagem dos dinossauros, podendo ser um dinossauro propriamente dito ou um parente muito próximo. Com cerca de 237 milhões de anos, esse é um dos fósseis mais antigos dessa linhagem já descobertos.
Com base nas dimensões dos elementos preservados, estima-se que o Gondwanax paraisensis teria atingido por volta de um metro de comprimento. Já que não foram recuperados dentes ou outros elementos cranianos, não foi possível inferir seus hábitos alimentares. Ainda assim, a maioria dos animais relacionados a ele foram herbívoros ou onívoros, o que torna bastante provável que ele também tivesse esse tipo de dieta. Quanto ao nome, Gondwanax significa “lorde do Gondwana”, referindo-se ao futuro domínio que os dinossauros exerceriam na porção de terra conhecida como Gondwana (Região Sul do Supercontinente Pangeia). Já paraisensis é uma homenagem ao município de Paraíso do Sul.
Brasil no cenário internacional – O Gondwanax paraisensis foi classificado como membro do grupo denominado Silesauridae, devido a características diagnósticas presentes no fêmur (osso da coxa). Porém, existe um debate sobre a posição que os silessaurídeos ocupavam na árvore evolutiva dos dinossauros. Alguns pesquisadores acreditam que esses animais podem ter sido precursores muito próximos dos dinossauros, enquanto outros sugerem que, em vez de precursores, eles eram dinossauros verdadeiros. Esse conflito de hipóteses ocorre porque os silessaurídeos apresentam características típicas de dinossauros, mas também possuem algumas que ainda parecem bastante primitivas.
Essa condição é observada nos elementos ósseos do Gondwanax paraisensis. Por exemplo, o fêmur não apresenta uma das principais cristas para ancoragem de músculos, que é comum em dinossauros. Já o seu sacro (região que conecta a cintura com a coluna) parece bastante avançada, uma vez que apresenta mais vértebras do que outros silessaurídeos com idade similar. Essa combinação incomum de características pode indicar que o Gondwanax paraisensis se locomovia diferentemente dos outros precursores de dinossauros.
A descoberta dessa nova espécie em rochas com aproximadamente 237 milhões de anos na região central do Rio Grande do Sul mostra a importância do Brasil no cenário internacional do estudo da origem dos dinossauros. Há cerca de dez anos, os fósseis de dinossauros eram comemorados com enorme entusiasmo pelos paleontólogos que realizavam escavações no Rio Grande do Sul. Hoje, eles se tornaram mais abundantes, levando os pesquisadores a buscarem vestígios ainda mais antigos, como o Gondwanax paraisensis. O achado demonstra que, além de preservar alguns dos dinossauros do mundo, o Brasil também abriga fósseis dos répteis que marcaram o início da história evolutiva dos dinossauros. Isso revela detalhes até então desconhecidos dessa trajetória que transformou os ecossistemas terrestres durante a Era Mesozoica.
Centro de Apoio à Pesquisa Paleontológica – Os restos fósseis do Gondwanax paraisensis, assim como uma série de outros fósseis, estão depositados no Cappa/UFSM, localizado em São João do Polêsine (RS). A cidade faz parte do Geoparque Quarta Colônia da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). No centro de pesquisa, há uma exposição de fósseis que pode ser visitada sem custo.
Este conteúdo é uma produção da UFSM, com apoio da Secretaria de Educação Superior (Sesu/MEC)