Notícias
EQUIDADE
Escolas celebram o Dia da Consciência Negra
Foto: Divulgação/MEC
O Ministério da Educação (MEC) celebra na quarta-feira, 20 de novembro, o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra. Em 2023, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, sancionou a Lei nº 14.759/2023, que declarou a data como feriado nacional. A ideia é refletir sobre a importância da contribuição da população negra para a construção da sociedade brasileira e a luta pela igualdade racial. A data já era feriado em cerca de 1,2 mil cidades e em seis estados: Mato Grosso, Rio de Janeiro, Alagoas, Amazonas, Amapá e São Paulo.
A educação é um dos principais pilares da luta pela igualdade racial. Em todo o país, as escolas desenvolvem, neste mês de novembro, diversas atividades de conscientização nesse sentido. Assim, buscam construir uma narrativa que represente a contribuição africana para a formação da identidade nacional, reconhecendo a riqueza da cultura negra e desconstruindo estereótipos.
Em Ceilândia, no Distrito Federal, o Centro de Ensino Médio (CEM) 10 realiza, há três anos, uma Mostra de Curtas, abordando vários aspectos da cultura negra. Um dos temas tratados foi o protagonismo das mulheres negras, que gerou, por exemplo, os curtas Rosa Parks; Mulheres Inspiradoras - Uma história de sucesso; e Elza Soares - A rainha invencível. Os alunos também fizeram curtas sobre a trajetória do povo negro; a conexão entre a África e o Brasil; e relatos de violências sofridas por pessoas negras.
A professora de Sociologia Rodolfa Rocha informou que a iniciativa faz parte do Projeto Político-Pedagógico (PPP) do CEM e oferece a estudantes do 1º, 2º e 3º ano a oportunidade de trabalhar com curtas-metragens debatendo a consciência negra. “Trazemos um pouco da história, das trajetórias e das lutas. Você trazer para o ambiente escolar essa temática faz com que os alunos tenham em mente essa questão da reparação histórica que nós ainda devemos, trazer vivências que eles não vivenciam hoje e entender como é a luta do povo negro”, falou.
Segundo a professora, o projeto permite que haja na escola um ambiente mais conscientizador. “É preciso que os alunos entendam que todos nós somos iguais, temos direitos e que a gente abraçar a causa do outro também é importante. Nesse sentido, [é preciso] fazer com que os alunos entendam qual é a cor deles, a classe social e onde eles possam lutar juntos, trazendo mais equidade, aceitação da diversidade e não deixando morrer a luta daqueles que já venceram o preconceito”, ressaltou.
Para o professor de Geografia Jarson Marcel, a data é um momento de reflexão e a mostra foi uma maneira de diferenciar as atividades realizadas durante o Dia da Consciência Negra. Ele apontou a importância do ensino da cultura afro-brasileira nas escolas. “Qualquer brasileiro tem essa história e essa ligação. Ele precisa respeitar isso. A gente vive momentos difíceis, do não ao diálogo, de várias violências. A escola tem um papel essencial de parar e fazer essa reflexão enquanto comunidade escolar — tratar das questões raciais, de identidade e de gênero. Então, a Semana da Consciência Negra é mais do que uma lei, ela precisa ser efetivada dentro da escola”, considerou.
Mariana Dias, que também dá aula de Geografia no CEM, afirmou que o projeto trouxe, ainda, o tema “Vozes que ecoam” para falar da ancestralidade negra. “Eles explicaram, por exemplo, sobre a capoeira, que foi proibida no país; o samba, que também foi proibido; e essas nuances que vão acontecendo ao longo da história do povo negro no Brasil, as quebras políticas, sociais e estruturais que precisam acontecer constantemente no dia a dia, para entenderem que é uma luta permanente”, disse.
Os alunos também aprovam a iniciativa e se sentem representados ao participarem das ações em promoção da cultura negra e contra o racismo na sociedade. Bianca Diniz, aluna do 2º ano, 17 anos, disse que, desde quando ela era pequena, a consciência negra é muito importante na sua vida. A família sempre a incentivou a demonstrar e valorizar as suas raízes e a sua cultura.
“Eu sou do Maranhão. A minha cultura é bem forte, principalmente pela dança, pela música, pelo meu cabelo. Então, para mim é uma data muito importante e sempre estou inserida nessa cultura. Essa data pode mudar a forma como as pessoas pensam a igualdade e o respeito. A consciência negra sempre foi para isso, para mostrar o porquê da igualdade, porque a igualdade é necessária entre negros, pardos e brancos”, destacou.
No entanto, a estudante lamentou que, apesar de todas as atividades desenvolvidas para o combate ao racismo e à discriminação na escola, ainda existam estudantes que continuam zombando ou fazendo piadas sobre a origem, a pele, o cabelo e as roupas da pessoa negra. “Eles têm consciência de que é errado, porém ainda fazem piadas”, disse.
Kristian Oliveira, 19 anos, aluno do 3º ano, contou que sua turma fez um curta sobre relatos reais de preconceitos com outras pessoas de cor e que foi necessária muita pesquisa para encontrar depoimentos marcantes. “São relatos pesados sobre coisas que acontecem várias vezes com os negros, mas muitas vezes não aparecem na mídia. Tem coisas absurdas”, lamentou.
O jovem ainda comentou que, por meio da Mostra de Curtas e do estudo da história dos afrodescendentes, eles podem conseguir uma maior representatividade. “Até entre nós mesmos, porque muitas pessoas pretas veem o outro com preconceito, mesmo que seja da sua própria cor”, falou.
Já a estudante Gabrielly Sousa, que tem 17 anos e cursa o 3º ano, disse que essa ação aborda muito mais do que a cor, como a culinária, a dança, as festas e a cultura. “O que aprendemos na escola ajuda a construir a nossa identidade. A gente sabendo de onde a gente veio, de onde vieram as coisas que a gente gosta, entender a história faz a gente gostar muito mais e valorizar as nossas origens”, observou.
Zumbi dos Palmares – Zumbi, um dos maiores ícones da resistência negra no Brasil, foi líder do Quilombo dos Palmares, uma comunidade de escravizados fugidos localizada na região que hoje corresponde ao estado de Alagoas. Durante décadas, o quilombo foi um símbolo de resistência contra a opressão colonial portuguesa e da luta por liberdade e justiça para os negros. Zumbi morreu em 20 de novembro de 1695, em combate, e sua memória permanece viva até hoje, representando a luta contra o racismo e a discriminação.
Embora o Dia da Consciência Negra seja um momento para celebrar as conquistas da população negra no Brasil, ele também serve como um alerta sobre a necessidade de mais ações para combater a desigualdade racial. O movimento negro, ao longo dos anos, tem sido fundamental na luta por políticas públicas que visem à igualdade racial.
A luta por um Brasil mais justo e igualitário deve ser contínua. O reconhecimento da contribuição dos negros para a história do país e a promoção da igualdade de oportunidades são passos essenciais, a fim de garantir um futuro mais inclusivo e respeitoso com todas as raças e etnias que compõem a população brasileira. A memória de Zumbi dos Palmares e a luta de tantos outros heróis negros seguem inspirando a busca por um futuro mais igualitário.
História – O Dia da Consciência Negra é comemorado desde a década de 1960. Inicialmente, a data era celebrada em 13 de maio, dia da abolição da escravatura no Brasil. Mais tarde, foi transferida para o dia 20 de novembro, a fim de homenagear a morte de Zumbi dos Palmares, líder do Quilombo dos Palmares, símbolo da resistência à escravidão e da luta pela liberdade e dignidade do povo negro. Desde então, a data tem ajudado a construir uma narrativa mais justa sobre a contribuição africana para a formação da identidade nacional, reconhecendo a riqueza da cultura negra e desconstruindo o racismo que persiste na sociedade.
A escravidão no Brasil, que perdurou por 388 anos, deixou marcas profundas na estrutura social e econômica do país. Estima-se que mais de 4,8 milhões de africanos foram trazidos para o Brasil como escravizados, o que representa um dos maiores contingentes de escravizados na história da humanidade. Esse processo gerou profundas desigualdades raciais, cujos reflexos ainda persistem na sociedade contemporânea, nas áreas de educação, saúde, segurança, emprego e renda.
Assessoria de Comunicação Social do MEC