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CRES+5
CRES+5 debate os desafios de um novo modelo de educação superior
Fotos: Thiago Godoy e Tico Fonseca
O segundo dia da CRES+5 — reunião de acompanhamento da III Conferência Regional de Educação Superior (CRES 2018) —, quinta-feira, 14 de março, foi marcado pelo debate sobre a integração regional da América Latina e do Caribe, bem como sobre a construção de uma educação superior mais igualitária e equânime. Nas reuniões setoriais, seis eixos temáticos foram analisados: precarização da profissão de professor; os efeitos da covid-19 na educação superior; mulheres na educação; financiamento e governança; autonomia das universidades; e o futuro da educação na América Latina e no Caribe.
Os debates apontaram a necessidade de esforços dos governos, por um longo período, para que seja possível recuperar a educação aos níveis pré-pandemia. Além disso, em um segundo momento, será preciso melhorar as condições de trabalho e a remuneração dos profissionais de educação, a fim de atrair profissionais capazes e incentivá-los a permanecer na sala de aula. Na avaliação dos debatedores, ainda é preciso garantir o espaço da mulher, presença majoritária na educação, combatendo discriminação e ameaças no exercício da profissão.
Sobre a autonomia das instituições de educação superior, avaliou-se que somente o financiamento público garantido em lei possibilita mudança real no modelo de educação superior da região. Para o subsecretário de Educação Superior do Chile, Victor Orellana, “a mensagem para a América Latina é que o mercado não é a resposta para os nossos problemas, mas sim a garantia do direito à educação, o que não implica replicar modelos de universidades públicas de outros momentos históricos. Hoje necessitamos, por exemplo, de financiamento mais moderno, no sentido de melhores instrumentos para inserir no sistema. Exigimos uma ligação mais eficaz entre o desenvolvimento produtivo e o conhecimento, além de uma maior relação entre a nossa oferta acadêmica e as necessidades sociais, culturais e produtivas dos países”, afirmou.
A região está caminhando nessa direção, segundo o subsecretário, mas não considera fácil sair de um modelo que coloca o lucro como principal motor da educação superior. “Pedimos ao continente um acordo sobre o direito à educação e a vinculação do ensino superior com desenvolvimento para além das bandeiras políticas. Garantir o direito à educação e assumir que o ensino superior é um bem fundamentalmente público, e não um bem de mercado. Não é uma bandeira de um setor, é um consenso internacional, é um consenso que foi alcançado com muito esforço, do qual participam governos de diferentes grupos políticos. Trazemos essa mensagem para aumentar nossa vocação latino-americana, como foi solicitado pelo presidente Boric [Gabriel Boric, presidente da República do Chile], ampliar o nosso compromisso com a América Latina e fazer parte desse processo que esperamos que conduza os nossos países ao desenvolvimento”, afirmou.
A professora Nilma Lino Gomes, ex-ministra das Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos, destacou, em sua conferência, ser possível pensar em um modelo de educação superior diferenciado, respeitando e incluindo os conhecimentos e saberes de importantes segmentos da sociedade, como lideranças indígenas, afro-latino-americanas e caribenhas, especialmente dentro de um cenário de pleno Estado Democrático de direito. Gomes ressaltou, no entanto, não se tratar de uma tarefa fácil, em um momento em que se acirram os conflitos sociais e as posições político-ideológicas. “A sociedade está polarizada, como nós temos visto. Chegou a um certo ápice, porque ela tem uma representatividade política no Brasil que antes não tinha da forma que nós temos hoje. No fundo, se considerarmos que somos uma sociedade com passado colonial, escravocrata, de tentativa de genocídio indígena, o que hoje chamamos de polarização são concepções que sempre existiram, mas que estão articuladas com fundamentalismo de mercado, fundamentalismo religioso, uma grande mídia hegemônica e por representatividade política”, concluiu.
Novo fórum – Nesta quinta-feira (14), o Instituto Internacional da UNESCO para a Educação Superior na América Latina e no Caribe (UNESCO-IESALC) realizou, dentro da CRES+5, a primeira reunião da Rede de Formuladores e Gestores de Políticas de Educação Superior (RedPES) da América Latina e do Caribe. Essa nova instância reúne representantes de alto nível dos sistemas de educação superior da região para discutir desenvolvimento político no setor, comparar experiências, ideias e boas práticas, assim como estabelecer ligações e construir colaborações com pares internacionais.
O encontro estabeleceu as bases para o lançamento do RedPES, discutindo as prioridades dos membros, áreas de interesse e formas preferidas de participação. Foi apresentado também o hub de políticas de educação superior — portal dinâmico do UNESCO-IESALC. A plataforma oferece ferramentas e recursos para formuladores de políticas e partes interessadas na educação superior, com uma cobertura que abrange mais de 150 países, bem como o acesso a publicações de análise e links para podcasts e reuniões relacionados a matérias de políticas.
Na avaliação de Dameon Black, presidente do Conselho de Governo do UNESCO-IESALC, “essa é uma excelente iniciativa. Proporcionará um fórum por meio do qual informações e aprendizados valiosos poderão ser compartilhados em benefício dos sistemas de ensino superior da América Latina e do Caribe. O UNESCO-IESALC deve ser elogiado”.
Encerramento – Na sexta feira, 15 de março, a CRES+5 chegará ao seu último dia, com o Fórum de Políticas de Educação Superior. Os participantes deverão se reunir em plenária para a redação do documento final do encontro, com as análises dos avanços conquistados desde 2018 e as propostas de construção de um novo modelo de educação superior para a região da América Latina e do Caribe.
Assessoria de Comunicação Social do MEC