29/06/2020
Entrevista com o CEO e fundador do MADD Brasil
Ronaldo Rissetto
1. O que significa o termo MADD?
Significa “Mothers Against Drunk Driving”, que em tradução livre seria “Mães Contra o Dirigir Embriagado”.
2. Como surgiu o MADD?
Há 40 anos, uma mãe chamada Candace Lightner perdeu sua filha Cari quando um motorista bêbado se chocou com a garota, de 13 anos, tirando sua vida. A partir deste momento, Candace dedicou-se a mudar o panorama existente, onde situações como essa ocorriam sem ação da comunidade ou do governo.
3. Qual é o objetivo principal da MADD?
É zerar o número de vítimas de acidentes de trânsito provocados pelo uso de álcool ou outras drogas.
4. Quais são os demais objetivos da MADD Brasil?
A Prevenção! Promover a conscientização de jovens e crianças para formarmos motoristas responsáveis e garantir um trânsito mais seguro no amanhã. Outro objetivo é usar a tecnologia como aliada no controle do uso de qualquer substância psicoativa pelo motorista antes que ele venha a ligar o veículo. E, finalmente, um dos programas mais importantes nos Estados Unidos, o Programa de Apoio às Vítimas.
5. Qual é o índice de acidentes sob efeito de álcool e seus impactos?
Hoje em dia, com base no DATASU, temos uma média de mortes no país de aproximadamente 90 pessoas por dia, resultando em 32.655 mortes por ano (2018). Entendemos, com base em vários levantamentos, que um percentual de 30 a 40% dessas mortes são diretamente ligadas ao ato criminoso de beber, ou usar outra droga, e dirigir. Ou seja, 27 a 36 pessoas poderiam ter suas vidas poupadas, diariamente, caso não houvesse esse hábito compulsivo e irresponsável de beber e dirigir.
6. Como as famílias podem se beneficiar do MADD Brasil?
O “Programa de Apoio às Vítimas”, iniciativa esta que não existe similar em nosso território, beneficiará a todas as famílias, já que as vítimas de impactos no trânsito, resultado do uso de álcool e outras drogas, terão apoio legal inicial para ações contra o responsável, bem como apoio à sua saúde mental, o que, infelizmente, acaba se tornando recorrente, pois após mortes, ou mesmo lesões permanentes, o que encontramos são famílias totalmente desestruturadas onde esse trabalho é fundamental para que retomem suas vidas. E claro, o “Programa de Prevenção”, que capacitará a família, para um diálogo construtivo de uma sociedade mais sóbria e garantirá que as situações acima amparadas pelo “Programa de Apoio às Vítimas” se tornem obsoletas com o passar dos anos, pela formação de uma geração mais consciente e fiscalizadora.
7. O que é necessário para evitar acidentes e crimes relacionados ao álcool?
Primeiramente, conscientizar a sociedade sobre a gravidade desse crime que mata milhares de pessoas todos os anos, além de incapacitar outras tantas por invalidez ou sequelas permanentes. É preciso mostrar às pessoas esses números chocantes. É o equivalente a uma “epidemia” diária em nossas ruas e estradas, mas que é pouco repercutido. Precisamos mostrar os riscos reais de ingerir álcool e dirigir, o quanto isso, além de afetar a capacidade de direção, também influencia para que o comportamento seja mais imprudente e perigoso, por exemplo, fazendo o motorista dirigir em alta velocidade não respeitar o farol vermelho. No âmbito geral, propor a discussão sobre a banalização do consumo do álcool.
8. O que o motiva a trabalhar este tema?
Desde o ano de 2005, em virtude de conviver com um familiar que sofria de dependência química, passei por situações muito difíceis e que me trouxeram momentos de muita preocupação e constrangimento pelo uso de substâncias psicoativas, lícitas e ilícitas, por este familiar. Pude entender, de forma inequívoca, o mal que causa o álcool e outras drogas no corpo do ser humano e os reflexos negativos que impingem na vida dele, de sua família e, infelizmente, para a comunidade. Frequentei assim, desde tal época, um grupo de apoio chamado Federação de Amor Exigente para reequilibrar minha vida e de minha família. E então, tendo sucesso nesse objetivo, entendi que a missão deveria se estender em buscar ajudar em um outro campo de atuação, onde entendo que hoje falta um maior trabalho tanto de apoio, quanto de orientação e conscientização. E a MADD tem todos os requisitos para trazer tal benefício à sociedade.
9. Como o OBID pode ajudar neste seu trabalho?
O Observatório Brasileiro de Informações sobre Drogas é um centro responsável de informações e pode, associando-se a nossos programas, trabalhar no sentido de orientar a sociedade com eventos conjuntos e trabalhos estatísticos, que entendemos ser um dos pontos fortes de nosso projeto, da criação de um algoritmo virtual sobre dados do trânsito nacional, e, acima de tudo, criar mais um canal de comunicação entre o governo, organização social e comunidade.
Ronaldo Rissetto é engenheiro químico, além de conselheiro do Conselho Estadual de Políticas sobre Drogas (CONED-SP), conselheiro-Suplente do Programa Nacional de Voluntariado-Governo Federal, trustee da AFINET - Europa (Addiction and Family International Network) e CEO e fundador do MADD Brasil (Mothers Against Drunk Driving).