18/6/2019
Entrevista com o pesquisador
Rodrigo Grassi-Oliveira
Quais tipos de pesquisa você realizou sobre drogas?
Nosso grupo de pesquisa Neurociência Cognitiva do Desenvolvimento está vinculado à Escola de Medicina da PUCRS e ao Instituto do Cérebro (InsCer). Nossa pesquisa é de natureza translacional, ou seja, estuda como as adversidades na infância podem alterar o funcionamento do cérebro e aumentar o risco para o desenvolvimento de problemas relacionados com o uso de drogas a partir da adolescência. Temos um interesse particular na saúde das mulheres usuárias de cocaína-crack.
Quais são as formas de divulgar as pesquisas?
Em geral nossa divulgação se dá através de revistas científicas altamente qualificadas. Além disso, quando possível, temos uma preocupação com a inserção desses achados na mídia e também divulgamos junto aos serviços estudados, dando a devolução.
Quais transformações aconteceram na sociedade (ou você espera que aconteça), a partir do uso das informações da sua pesquisa?
Nosso foco sempre foi que as políticas de prevenção na infância passassem a integrar a linha de frente da abordagem dos problemas de álcool e drogas no território nacional. Isso implicaria uma ação coordenada com foco em crianças em alto risco para desenvolver transtornos relacionados com substâncias.
Por que é importante que pesquisas sejam realizadas em universidades?
A pesquisa desenvolvida em universidades é a base para o desenvolvimento de um país. É apenas no ambiente acadêmico, no contexto da formação de recursos humanos especializados, no âmbito da pós-graduação e da iniciação científica, que o conhecimento é gerado de maneira integral interdisciplinar. Esse é o capital mental de uma nação e esse capital deve ser constantemente engajado no desenvolvimento social, científico e tecnológico.
Qual é a importância do financiamento das pesquisas pelo Governo Federal?
O financiamento de pesquisa pela União é alicerce do desenvolvimento científico e tecnológico. Grandes nações, líderes na ciência mundial, como os EUA, Israel, Japão e Alemanha dedicam em torno de 3% do PIB pois sabem que as soluções para os problemas nacionais capitalizam o seu desenvolvimento.
Qual é a importância das parcerias realizadas por meio do Governo Federal entre pesquisadores, universidades e organismos internacionais de incentivo à pesquisa?
Hoje em dia não existe uma ciência desconectada da realidade internacional. Eu particularmente não acredito em desenvolvimento científico e tecnológico sem a cooperação entre os pesquisadores da academia, a união e a comunidade internacional. Há muitas oportunidades internacionais de incentivo à pesquisa no país, porém as ações nesse sentido eram insipientes até agora. A pesquisa no Brasil precisa cada vez mais se tornar competitiva no cenário internacional, pois isso reverte em investimentos.
Você está realizando, atualmente, pesquisas com incentivo do Governo Federal? Sobre o quê?
Sim. Estou sendo continuamente financiado pelo governo federal e estadual desde 2008. Atualmente mantenho financiamentos federais via CNPq, CAPES e Ministério da Cidadania. As pesquisas vão desde modelos animais de estresse precoce até um ensaio clínico para o tratamento da abstinência de cocaína e crack.
O que motiva você a realizar pesquisas?
Tenho muitas oportunidades de fazer pesquisa fora do país. Mas o que mais me motiva a ficar no Brasil e a fazer pesquisa no país é contribuir para a formação de pesquisadores éticos, altamente qualificados e que ajudarão no desenvolvimento da nossa nação. É acreditar que através da pesquisa científica que as políticas públicas poderão se tornar cada vez mais efetivas e eficazes.
Que importância o OBID pode ter para o seu trabalho?
Acredito que a OBID possa ter esse papel de difusão do conhecimento produzido na academia para nossa população.
Rodrigo Grassi-Oliveira é Livre-Docente e Pesquisador Produtividade 1C do CNPQ. Psiquiatra, com mestrado em Psicologia Cognitiva e Doutorado em Psicologia na área de Cognição. Docente Permanente do Programa de Pós-Graduação em Medicina e Ciências da Saúde, na área de Neurociência e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da PUCRS. Professor colaborador do Pós-Graduação em Pediatria e Saúde da Criança da PUCRS. Pesquisador vinculado ao Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul (InsCer) e líder do Developmental Cognitive Neuroscience Lab (DCNL).