Entrevista com o pároco
Frei Hans Stapel
Como surgiu a Fazenda da Esperança?
Tudo se iniciou em 1983 na Paróquia de Nossa Senhora da Glória, em Guaratinguetá. Surgiu da iniciativa de um encontro que houve com um grupo de jovens que fazia uso de drogas. Eles, pedindo ajuda, foram acolhidos na casa paroquial e na casa do Nelson Giovanelli, que permitiu dar início a uma experiência de mudança de vida através de uma proposta de vivência do evangelho numa realidade comunitária.
O que levou a Fazenda da Esperança a acolher dependentes químicos?
O que levou a Fazenda da Esperança a acolher os dependentes químicos não foi algo planejado. Na verdade foi uma iniciativa que nasceu do desejo de acolher aqueles jovens que estavam necessitados. Eles pediram ajuda e, no esforço de dar uma resposta a esse pedido é que nasceu a iniciativa de acolher-los, inicialmente na paróquia e depois na nossa casa. Não tínhamos um planejamento de acolher. E, assim, fazer um centro ou uma comunidade de recuperação. Foi mais uma resposta a um desejo de mudança de vida.
Quais as ações são realizadas na Fazenda da Esperança para os dependentes químicos?
A Fazenda da Esperança oferece aos jovens que estão em recuperação a possibilidade de acolhimento por 12 meses. Nesse período, através do trabalho como forma de conseguir a auto sustentação e a valorização de si mesmo, da espiritualidade como caminho de descoberta de vida e da convivência como um caminho de reinserção, eles conquistam a sua sobriedade, dignidade, e se tornam homens novos. E isso acontece em 141 comunidades terapêuticas espalhadas em 23 países, sendo que 91 delas estão no Brasil.
Quantos dependentes químicos já passaram pela Fazenda da Esperança?
Estima-se que mais de trinta mil jovens em todas as Fazendas da Esperança localizadas no Brasil e no mundo tenham passado pela obra e recuperado ou achado o seu sentido de vida. Pois lá eles aprendem que toda vida tem esperança e que eles têm valor.
Qual o segredo do sucesso da Fazenda da Esperança?
O segredo do sucesso da Fazenda da Esperança está ligado ao voluntariado, aos homens e mulheres que se colocam a disposição para acolher, cuidar de todos os jovens que são acolhidos em suas comunidades.
Esses voluntários são pessoas consagradas, vocacionadas, que têm uma disponibilidade em tempo integral. É esse espírito de gratuidade que permite que eles possam a ser acolhidos de uma maneira que dê muito resultado.
Qual a importância da espiritualidade no tratamento de dependentes químicos?
A importância da espiritualidade no tratamento dos dependentes químicos se liga ao fato de que nosso objetivo é dar aos jovens instrumentos para que eles conquistem a sobriedade. Não só durante o período que ficam na fazenda, mas para toda sua vida. Por isso, na Fazenda da Esperança, eles ganham um sentido de vida, já que o nosso objetivo é dar-lhes esse norte, ajudando na descoberta de um Deus que é amor. E eles podem responder a esse amor dando amor para outros jovens, dando amor para seus familiares, dando amor para todos aqueles que assim como eles passaram por essa situação.
Como funciona o atendimento de familiares de dependentes químicos na Fazenda da Esperança?
O atendimento aos familiares acontece desde o primeiro dia em que o acolhido desembarca na comunidade. Ou seja, se começa o percurso de recuperação com os familiares participando de encontros mensais que antecedem à primeira visita deles aos acolhidos em três meses.
Eles precisam passar por um retiro de formação e, na continuação dos dias de visita, a Fazenda da Esperança realiza um encontro com familiares. Depois disso eles são acompanhados pelo Grupo Esperança Viva. Esse grupo realiza reuniões semanais, próximas da casa que os familiares estão. Nessas ocasiões são oferecidas às famílias a espiritualidade que se vive na fazenda, com o objetivo de fazer com que eles encontrem um sentido de vida. Essas reuniões permitem, em primeiro lugar, a descoberta de Deus como esperança maior e a preparação para possíveis dificuldades que possam ocorrer no caminho da sobriedade. Caso ocorra uma recaída, por exemplo, eles são preparados para entender que estão ao encontro com Deus, com a sua palavra, com o amor e a visão. Não somente com a preocupação do filho, mas também com a preocupação para com outros familiares que sofrem esse problema da dependência química.
O que o motiva a trabalhar com este tema?
O que me motiva trabalhar com este tema é a descoberta de que tudo aquilo que a gente faz para qualquer pessoa se faz para Deus. Tudo é fundamentado naquela frase do evangelho de Mateus que diz: “ Tudo que fizeres ao menor dos meus pequeninos, a mim tu fazes”. A maior motivação é a possibilidade de um encontro com Deus na pessoa de todos esses jovens que são acolhidos nas fazendas. Por isso, o resultado é uma consequência, pois a chance de poder ter esse encontro pessoal com Deus é que dá a maior motivação para esse trabalho.
Como o Obid pode contribuir em seu trabalho?
Quando vejo as pesquisas fico triste pois os problemas com drogas têm aumentado. Por outro lado, é um incentivo para aumentar o trabalho da Fazenda Esperança. Para abrir mais Fazendas da Esperança e dar mais oportunidades para acolher as pessoas que sofrem com esta doença, podendo ajudá-las a se libertarem das drogas.
Frei Hans Stapel é pároco e fundador da Fazenda da Esperança, comunidade terapêutica que atua desde 1983 no processo de cuidados e prevenção às drogas