Entrevista com o psiquiatra e psicanalista
Sérgio de Paula Ramos
Qual é a primeira droga que os adolescentes experimentam? E a segunda?
No Brasil, a primeira droga de experimentação, sem dúvida, é o álcool. Preocupante é o fato de que a experimentação esteja ocorrendo cada vez mais cedo. Segundo os últimos levantamentos, aos 12 anos, em média. A segunda droga, variando um pouco de amostra para amostra, é o tabaco e/ou a maconha.
A maconha é uma droga inofensiva?
Em absoluto. Existe farta evidência que a maconha, usada na adolescência, talvez seja a mais danosa das drogas de abuso para esta faixa etária. Ela se associa ao comprometimento do rendimento escolar, acadêmico, à depressão, ideação suicida e esquizofrenia.
Com quais lições podemos aprender em relação a países que liberaram as drogas?
Em todos houve aumento do consumo, que em alguns locais dobrou, e a criminalidade não diminuiu em lugar algum. Às vezes até aumentou, como no estado do Colorado, nos Estados Unidos. Além disso, caiu a percepção de risco, por parte dos adolescentes, o que poderá redundar em aumento de consumo ali na frente.
Os estudos atuais indicam quais consequências do uso de maconha?
O uso de maconha vai causando seus malefícios de forma lenta e gradual. Deste modo, o usuário chega a confundir seus efeitos com seu jeito pessoal.
Não raro, alunos de passado escolar brilhante justificam seu declínio estudantil com a frase “eu nunca gostei de estudar”, coisa que falseia a verdade. Então, declínio da produção escolar e acadêmica, precipitação quadros esquizofrênicos, depressão, ideação suicida e suicídio.
Qual a percepção dos jovens ao ouvir falar do termo incorreto “maconha medicinal”?
Este é um aspecto bem grave. A poderosa indústria da maconha sabe que maconha medicinal não existe, mas insiste em seu uso para diminuir a percepção de risco no uso da droga. Queda da percepção de risco acarreta aumento de consumo.
Quais são as recomendações mais atualizadas para prevenir o uso de drogas?
A valorização da vida do jovem e de sua família. Com isso, a experimentação de álcool será adiada e, talvez, a da maconha prevenida.
Quais são os benefícios da manutenção da sobriedade?
A dependência química é uma doença do cérebro. Quando usuário é jovem sua plasticidade vai se alterando, causando os prejuízos descritos. A abstinência, quando prolongada, ajuda a reparação do mesmo.
O que o motiva a trabalhar com este tema?
Nestes 45 anos que o faço, sigo sentindo enorme prazer com a recuperação de meus pacientes.
Como o Obid pode ajudar em seu trabalho?
Divulgando os dados consistentes e alertando a população sobre os danos.
Sérgio de Paula Ramos é psiquiatra e psicanalista, doutor em Medicina pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), membro efetivo da Academia Sul-Rio-Grandense de Medicina, membro do Conselho Consultivo da Associação Brasileira de Estudos. do Álcool e outras Drogas (ABEAD) e Diretor da Villa Janus.