Notícias
Mundial de Caratê
Seis brasileiros entram em ação no primeiro dia do Mundial de Caratê Madri 2018
Foto: Abelardo Mendes Jr/ rededoesporte.gov.br
A sede da Federação Madrilenha de Karate se tornou por algumas horas, nesta segunda-feira (05.11), casa provisória da Seleção Brasileira de Caratê. Lá, os 26 atletas que vão representar o país no Campeonato Mundial mais badalado da história da modalidade fizeram o último treino antes da estreia. A competição reúne 1.200 atletas de 139 países e será disputada de 6 a 11 de novembro no Wisnik Center, na capital espanhola. A estrutura ainda recebia nesta tarde os últimos ajustes no ginásio do evento.
No primeiro dia, seis atletas entram no tatame para representar o Brasil. Na categoria kumite, de lutas, os integrantes das categorias de maior peso abrem o torneio. São os casos de Alberto Azevedo (+84kg), Kaique Rodrigues (-84kg), Isabela Rodrigues (+68kg) e Gabrielle Sepe (-68kg). Os outros dois brasileiros em cena serão Williames Santos e Nicole Yonamine, no kata individual.
Como o Mundial de Madri é o evento do ciclo até Tóquio que mais vale pontos no ranking que definirá os primeiros atletas olímpicos do caratê, cada vitória e cada avanço na chave é antecipadamente celebrado. "É o último Mundial antes da Olimpíada. Assim, a pontuação obtida aqui não cai. Tem maior peso, de fator 12. Qualquer ponto, qualquer luta ganha, o atleta vai levar para o ranking até o final. Por isso está todo mundo correndo atrás. É um sonho. A gente não sabe o futuro depois de 2020. Esperamos que o caratê esteja em Paris 2024, mas não é certo", ressaltou Lucélia Brose, técnica da seleção brasileira e medalhista de ouro em quatro edições consecutivas dos Jogos Pan-Americanos, em 1999 (Winnipeg), 2003 (Santo Domingo, 2007 (Rio de Janeiro) e 2011 (Guadalajara).
"A gente até toma cuidado com a forma como conduz as conversas, para não criar um monstro maior do que é esse Mundial. A pontuação aqui é importantíssima rumo aos Jogos de 2020. Enquanto comissão técnica, a gente sente a responsabilidade, mas com maturidade, esperança e certeza de que temos um bom time, com atletas experientes, medalhistas em Mundial, e jovens promissores", afirmou Diego Spigolon, coordenador técnico da seleção brasileira feminina.
Conexão Piracicaba-Espanha
Antes do Mundial, o elenco se dividiu para quatro semanas de trabalho após a etapa de Tóquio da Premiere League, no Japão. De lá, um grupo foi direto para a Espanha. Outro se concentrou em Piracicaba. "Tivemos a oportunidade de fazer treinos táticos pensando nos principais adversários, um trabalho neuromuscular, de potência. Pensamos na questão preventiva e regenerativa. Sabemos que é um momento único", explicou Spigolon.
A carioca Isabela Rodrigues, que fez parte da turma da reta final "espanhola", avalia que tudo o que deveria ser feito para chegar bem à competição foi realizado com cuidado. Assim, mesmo que a definição da chave só estivesse prevista para a noite desta segunda-feira, o estudo dos rivais foi feito de forma minuciosa. "A preparação nos possibilitou acompanhar de perto o ranking. Isso nos dá ideia das possíveis adversárias. Planejei meus treinos visando essas atletas, o estilo delas. Não foge muito disso", afirmou a atleta, 65ª no ranking mundial, e que tem como foco o horizonte olímpico.
"É uma categoria bem difícil e sabemos que essa competição praticamente vai definir Tóquio 2020. Para a gente, é como a própria Olimpíada. A expectativa é grande, mas a preparação também foi", disse a atleta, que passou por etapas do circuito mundial em Marrocos, Alemanha e Japão antes de chegar ao Mundial. Isabela define o próprio estilo como "ousado". "Chuto bastante. Gosto de derrubar. Na categoria pesada ocorrem coisas nesse sentido. De um quase show. É aí que me identifico", disse.
"A Isabela é experiente. Já foi bicampeã pan-americana, bronze nos últimos Jogos Pan-Americanos e medalhista em Jogos Sul-Americanos. Disputou bronze no World Games de 2017. Tenho certeza de que vai fazer uma grande competição. A gente torce para que caminhe bastante dentro da chave", comentou Spigolon.
Se experiência sobra para Isabela, no lado de Gabrielle Sepe o que sobressai é a juventude de uma estreante em competição internacional dessa envergadura aos 21 anos. A atleta ganhou a posição de titular da categoria até 68kg em função da gravidez da titular Natália Brozulatto. Cavou espaço, firmou-se e chega empolgada. "É uma experiência nova. Nunca imaginei estar onde estou. Acreditei, fui em busca dos meus sonhos e não vou desistir. É meu primeiro Mundial. Sei que tem as melhores do mundo aqui, mas posso conquistar uma medalha. Se for pensar na grandiosidade do evento, a gente se diminui. Estou aqui porque conquistei e mereço estar", afirmou a paulista de São Carlos, que começou na modalidade aos nove anos por influência de um primo que praticava o esporte.
No masculino, Alberto Azevedo e Kaique Rodrigues são definidos por Spigolon como atletas de boa rodagem. "O Alberto já foi medalhista em Mundial em categorias de base e em diversos eventos internacionais na base. Neste ano está na categoria pesado pela primeira vez. Tem um jogo não muito tradicional, não convencional, o que dificulta a vida dos adversários. O Kaique foi vice-campeão pan-americano em 2018. É jovem. Se estiver com a cabeça no lugar, confiante e não respeitar demais os adversários estabelecidos na categoria, tem tudo para ir muito bem", avaliou o treinador.
"Jogo das sete coreografias"
O kata é a versão mais estética do caratê. Tem um caráter de apresentação, de reunião de uma sequência de movimentos técnicos e sincronizados que mostram as diversas faces da modalidade. Quem vê de fora, contudo, muitas vezes não entende a complexidade do que está em disputa. Cada apresentação que dura em torno de dois minutos e meio é um duelo entre dois atletas em que há uma série de fatores envolvidos. Fatores técnicos, como posições, movimentos de transição, sincronização, foco, dificuldade e conformidade, mas também de caráter estratégico. Isso porque, ao longo da competição, um atleta não pode repetir o kata. Assim, tem de ter treinadas pelo menos sete sequências. Algumas mais complexas. Assim, tem de saber a hora cerca para escolher cada uma.
"A estratégia é montada a partir do sorteio da chave. Como a gente já conhece a maioria dos adversários, imagina qual sequência se encaixa melhor. Se for enfrentar um atleta da Europa, escolhe o kata mais adequado. Se for um asiático ou da América, da mesma forma. A estratégia tem de ser bem feita. Em cada rodada tem de usar um diferente. Se você pega uma rodada contra um adversário mais simples e usa um kata mais forte, perde a chance de usá-lo numa disputa mais complicada", ensina o baiano Williames Santos, que vai para a sua quarta edição de Mundial em Madri.
Assim como no kumite, a regra do kata é de eliminatória simples. As disputas são sempre em dupla. Um atleta se apresenta de cada vez. Após a apresentação, o júri composto por cinco árbitros define quem segue adiante. "As expectativas são sempre as melhores. Eu me preparei muito bem. Foi um ciclo proveitoso", disse Williames, que tem 28 anos e está no caratê desde os cinco anos. Até 2008, se dividia entre as lutas e o kata. Desde então, passou a trilhar de forma mais profissional a modalidade de apresentação.
No feminino, Nicole Yonamine é medalhista pan-americana. Segundo o técnico Diego Spigolon, a dupla nacional tem grande projeção continental, mas no âmbito mundial as grandes forças no kata são Japão, França, Espanha e Itália. Assim, mesmo com os avanços do Brasil, ainda há degraus a serem cumpridos. "Atletas e técnicos têm se desdobrado, mas em âmbito mundial falta um pouco. Estamos no caminho, mas dentro dessas modalidades é difícil ter surpresa. Vamos torcer para nossos atletas passarem por diversas rodadas", disse.
Gustavo Cunha, de Madri (Espanha) - rededoesporte.gov.br