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Núcleo do PELC na Bahia transforma idosos em atores
Publicado em
22/03/2019 12h02
Atualizado em
31/10/2022 13h33
A servidora pública aposentada Antonieta Batista de Souza, de 75 anos, botou na cabeça uma obsessão: queria ganhar o papel de Dorothy. Para eliminar a "concorrência", pediu ajuda ao filho. Conseguiu uma versão de O Mágico de Oz. Assistiu ao filme pelo menos 25 vezes. Decorou falas. Enredo. Gestos de corpo da atriz Judy Garland na versão de 1939. Não deu outra: no fim de 2018, lá estava Nieta, como é conhecida pelos amigos, no palco do teatro ISBA, em Salvador. Era a protagonista da adaptação "O Mágico de Nós", encenada com idosos atendidos pelo Programa Esporte e Lazer da Cidade (PELC), da Secretaria Especial do Esporte do Ministério da Cidadania.
Subir ao palco e ser intensamente aplaudida por uma plateia quase 500 pessoas, composta por familiares, amigos e interessados na peça gratuita foi um dos pontos altos de uma mudança radical na vida da agente administrativa. Ela andava cabisbaixa. Com problemas de saúde. Colesterol alto e pressão alta como parceiros frequentes. Até que um dia esbarrou, em um parque, com Ângelo Marcio Correa da Conceição. Formado em educação física, ele é um dos coordenadores do núcleo de São Gonçalo do Retiro, em Salvador, do PELC.
São cerca de 400 inscritos, entre eles 85 idosos do bairro de cerca de 22 mil pessoas. O Pelc aposta em atividades físicas, no lazer e em ações culturais gratuitas como forma de manter as pessoas ativas e espantar o sedentarismo. Em São Gonçalo, o cardápio inclui desde novembro de 2017 futebol, vôlei, ginástica, dança, capoeira, percussão, coral e artes cênicas.
"É um núcleo muito bonito. Temos no Pelc de meninos de sete anos a idosos de 88. Um público muito forte na terceira idade", afirmou Ângelo, de 33 anos, que aproveitou sua formação pessoal para incrementar o cardápio do programa. "Sou formado em educação física, mas já fiz teatro, dança, apresentações. Uma certa bagagem na área de cultura ajudou a proporcionar essa parceria cênica", disse o coordenador do núcleo, que é natural de São Domingos da Bahia e conta com apoio do "Poder Grisalho". O grupo integra o Núcleo de Pesquisa, Ensino e Extensão da Faculdade Social da Bahia e tem como coordenadores a médica geriatra e psquiatra Maria de Lourdes Magalhães Costa Pinto e o fisioterapeuta e professor licenciado em dança Emanoel Magalhães Costa.
Fui criada na roça. Plantando milho, feijão e mandioca. Nem tempo de estudar eu tinha. Agora, depois de velha, aprender essas coisas todas está sendo excelente. Temos lazer, brincadeiras, dança, ginástica"Antonieta Batista, 75 anos
Segundo Ângelo, a adaptação do título para o "Mágico de Nós" era uma forma de reforçar o papel de protagonistas do grupo de idosas que encenou a peça. "O nós eram elas, em cena, e a gente dava só o suporte para o espetáculo acontecer. Cada uma delas, as histórias de superação que fizeram elas chegarem ao PELC e ao teatro", contou. A maioria dos alunos nunca havia pisado num teatro. "A comunidade toda se mobilizou. Foi um sucesso", disse Ângelo. A tal ponto que o grupo já está ensaiando danças para uma próxima apresentação em outubro.
"Fui criada na roça. Plantando milho, feijão, mandioca. Nem tempo de estudar eu tinha. Agora, depois de velha, aprender essas coisas todas está sendo excelente. Temos lazer, brincadeiras, dança, ginástica. Três vezes por dia estou lá pelas manhãs", afirmou Nieta, que experimentou melhorias tanto na disposição quanto na saúde. "Meu filho brinca que até meu jeito de andar melhorou", contou a aposentada, que passou também a ter uma vida social mais regular. "A gente conhece muitas pessoas. Encontra outro tipo de família. Uma amizade sadia. Vamos para a casa uma da outra, passamos o dia fora".
Do particular para o geral
A experiência em São Gonçalo (BA) é similar a que ocorre atualmente em 150 municípios brasileiros. São mais de 143 mil pessoas beneficiadas nas 61 parcerias vigentes do PELC, em 333 núcleos, que representam mais de R$ 79 milhões federais.
O programa do PELC proporciona a prática de atividades esportivas, culturais, mentais e de lazer para todas as faixas etárias com o objetivo de estimular a convivência social, a formação de gestores e de lideranças comunitárias. Criado em 2003, o projeto favorece a pesquisa e a socialização do conhecimento e contribui para que o esporte e o lazer sejam tratados como políticas e direitos de todos.
Gustavo Cunha - rededoesporte.gov.br