Notícias
Notícias
Igualdade de gênero é pauta antiga e conquista recente no universo olímpico
A luta feminina por espaço no meio esportivo não é um pleito atual. A primeira edição dos Jogos Olímpicos da Era Moderna, em Atenas, 1896, contou apenas com homens. Quatro anos depois, em Paris 1900, elas puderam competir pela primeira vez. Mas, dos 997 atletas, somente 22 eram mulheres (2,2%). Na ocasião, elas disputaram tênis, vela, croquet, hipismo e golfe, sendo que apenas tênis e golfe eram exclusivamente femininos.
Ao longo dos anos, a presença de mulheres aumentou significativamente, mas foi apenas em 2018 que um torneio olímpico contou exatamente com o mesmo número de homens e mulheres. Nos Jogos da Juventude de Buenos Aires, na Argentina, houve 4.012 atletas: 2.006 homens e 2.006 mulheres, todos com idades entre 15 e 18 anos, de 206 países, que competiram em 36 modalidades. "Foram os Jogos com mais mulheres e mais inclusivos em relação a qualquer edição anterior, não apenas da Juventude", afirmou o presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Thomas Bach, na entrevista coletiva de encerramento do evento.
Nos megaeventos para adultos, a igualdade quantitativa e em postos de comando ainda é um horizonte, mas com avanços importantes. Nos anos recentes, um dos marcos mais relevantes ocorreu em 2012, em Londres, na Inglaterra. A edição britânica entrou para a história como a primeira em que todas as delegações tiveram mulheres.
Leia também:
Nos Jogos Olímpicos Rio 2016, o Brasil recebeu 11.238 atletas de 206 nações mais uma delegação de refugiados. Foram 5.180 atletas do sexo feminino – mais de 45% do total. É o percentual mais amplo da história. Sete países, inclusive, tiveram mais mulheres que homens: Estados Unidos, Porto Rico, Canadá, Austrália, China, Nova Zelândia e Bahrein.
A delegação nacional foi retrato do perfil geral. As mulheres representaram 45% do Time Brasil no Rio de Janeiro. Dos 465 integrantes, 209 eram do sexo feminino. "A partir da segunda metade do século 20, houve uma crescente participação feminina, não só nos esportes, mas no ambiente social como um todo. No Brasil, tivemos resultados desse novo entendimento moderno do papel da mulher na sociedade também por meio do esporte", afirmou o secretário especial do Esporte do Ministério da Cidadania, Marco Aurélio Vieira.
"Os resultados começaram a surgir mais claramente com a dupla Jaqueline e Sandra em Atlanta (1996) e a partir daí não paramos mais. Desde 2008, a equipe feminina brasileira tem conquistado pelo menos duas medalhas de ouro a cada Olimpíada", completou Vieira. Em Pequim (2008), Mauren Maggi, no salto em distância, e a equipe de vôlei subiram ao topo do pódio. Em Londres (2012), foi a vez de Sarah Menezes, no judô, e do bicampeonato do vôlei feminino. Já nos Jogos Rio 2016, os ouros vieram com Rafaela Silva, no judô, e com a dupla Martine Grael e Kahena Kunze, na vela.
Não é engessamento
Para os Jogos de 2020, no Japão, a estimativa do COI é de que o balanço de gênero signifique que pelo menos 48,8% do total de atletas em Tóquio seja de mulheres. "Assim como em todos os segmentos, a mulher conquistou seu espaço no esporte. O COB incentiva e apoia o aumento da participação feminina nas delegações brasileiras. Em Atenas 2004, chegou a ser 50% a 50% na nossa delegação", lembrou Sebástian Pereira, gerente-geral de alto rendimento do COB.
O dirigente reforça, no entanto, que a equidade não pode ser confundida com engessamento para definição do Time Brasil. "Não há proporção definida previamente para as delegações que irão ao Pan de Lima 2019 e aos Jogos Olímpicos de Tóquio. Isso depende da conquista da vaga nas diversas modalidades", explicou o dirigente.
Sebástian citou, ainda, que os Jogos Sul-Americanos de Praia de Rosário 2019 terão uma missão liderada exclusivamente por mulheres: "Elas embarcam em 9 de março. Serão nove profissionais de diferentes áreas para coordenar a delegação de 62 atletas, de nove modalidades. A competição, de 14 a 23 de março, contará com cerca de 2.000 atletas, disputando 24 provas de 13 modalidades".
A busca por paridade se reflete também na gestão do esporte paralímpico. Até a inclusão ou não de modalidades no programa parte desse pressuposto. O futebol de sete, por exemplo, voltado para atletas com paralisia cerebral, mas ainda muito centrado no masculino, saiu do programa de 2020 e não estará também em Paris (2024).
Nos Jogos Rio 2016, as mulheres representaram 35% do total de integrantes brasileiros no time paralímpico: foram 102 num total de 286 atletas. Elas conquistaram 21 (29%) das 72 medalhas nacionais, com destaque para os ouros de Shirlene Coelho e Silvânia Costa, no atletismo, além do título da bocha, nas duplas mistas, com Antônio Leme, Evelyn Oliveira e Evani Soares. Bruna Alexandre foi outra estrela da companhia, com uma prata individual e um bronze por equipe no tênis de mesa, os primeiros pódios femininos brasileiros da história da modalidade.
O tênis de mesa paralímpico, aliás, terá escala estratégica em Lima, no Parapan, em agosto. O Brasil levará uma equipe com 30 atletas, com pelo menos dez integrantes do time feminino. O título individual no Peru vale vaga direta em Tóquio. "Hoje estamos com uma equipe feminina forte, não só tecnicamente, mas física e mentalmente. Todas temos chances reais de ouro em Lima e, consequentemente, de buscar um pódio em Tóquio", afirmou Jennyfer Parinos, atleta das classes 8 a 10, que conquistou um bronze por equipe nos Jogos Rio 2016 e um ouro no Mundial por equipes de 2017, ambos ao lado de Bruna Alexandre e de Daniele Rauen.
Gradativamente
São 119 anos desde o início da participação feminina na história dos Jogos Olímpicos. Uma vez que o esporte se construiu historicamente como fenômeno masculino, associado a elementos como força, velocidade, coragem e exposição pública, as mulheres enfrentaram, cada uma a seu tempo, estigmas e preconceitos para ganhar espaço.
A estreia das mulheres foi na edição de Paris, em 1900, quatro anos após a primeira edição dos Jogos da Era Moderna, em 1896, com apenas duas modalidades estritamente femininas. No Brasil, a nadadora Maria Lenk foi a pioneira. Ela entrou para a história como a primeira mulher do país numa edição olímpica, em 1932, em Los Angeles. A estreia veio 12 anos depois de o país participar de sua primeira edição, em 1920 (Antuérpia).
Nos Jogos de Berlim, na Alemanha, quatro anos depois, Maria Lenk voltou a representar, sozinha, as mulheres brasileiras, mesma situação vivida por Mary Dalva Proença, nos saltos ornamentais, em 1956 (Melbourne), por Wanda dos Santos, no atletismo, em 1960 (Roma), e por Aída dos Santos, novamente no atletismo, em 1964 (Tóquio).
Até o Brasil celebrar a primeira medalha, foram necessários 64 anos desde o primeiro mergulho de Maria Lenk. Nas Olimpíadas de Atlanta, em 1996, o país conquistou quatro pódios, com direito a dobradinha no vôlei de praia: ouro com Jacqueline Silva e Sandra Pires e prata com Adriana Samuel e Mônica Rodrigues. As outras medalhas vieram com a prata no basquete feminino e o bronze no vôlei de quadra.
Em Londres 2012, as brasileiras conquistaram seis das 17 medalhas da delegação: seleção feminina de vôlei (ouro), Sarah Menezes (ouro no judô), Yane Marques (bronze no pentatlo moderno), Adriana Araújo (bronze no boxe), Juliana e Larissa (bronze no vôlei de praia) e Mayra Aguiar (bronze no judô).
Nos Jogos Rio 2016, cinco das 19 medalhas brasileiras vieram a partir de performances femininas. Além dos ouros de Rafaela Silva no judô e de Martine Grael e Kahena Kunze na vela, o país conquistou uma prata com a dupla Ágatha e Bárbara, no vôlei de praia, e dois bronzes, com Mayra Aguiar (judô) e Poliana Okimoto (maratonas aquáticas).
Ana Claudia Felizola, Breno Barros, Gustavo Cunha e Luiz Roberto Magalhães – Ministério da Cidadania