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Guga, o projeto Campeões da Vida e a “Lei de Incentivo a Sonhos”
No meio de dezenas de crianças ali no chão de umas das quadras da Astel (Associação Atlética e Social de Florianópolis), na capital de Santa Catarina, surge ninguém menos do que Gustavo Kuerten, tenista tricampeão de Roland Garros. Ele se levanta, dá uma arrumada no cabelo e segue participando da animada atividade interativa com os meninos e meninas de um dos núcleos do programa Campeões da Vida, do Instituto Gustavo Kuerten (IGK), beneficiado pela Lei de Incentivo ao Esporte (LIE) há quase dez anos. O local não poderia ser mais simbólico: o mesmo clube onde Guga aprendeu a jogar o esporte da bolinha amarela.
É sempre uma festa quando Guga visita os núcleos do programa, que oferece, desde 2002, aulas de tênis e esportes complementares (futebol, voleibol, basquetebol), atividades recreativas, oficinas culturais e trabalho interdisciplinar com as áreas de educação física, biblioteconomia, pedagogia, psicologia e serviço social. Ao todo, 700 crianças e adolescentes e 20 pessoas com deficiência da COEPAD (Cooperativa de Pais e Amigos da Pessoa com Deficiência) participam das atividades, que são realizadas no contraturno da escola.
"O Instituto Guga Kuerten hoje é uma extensão de nossa família: as pretensões, o desejo de dar oportunidades para que as crianças tenham chances reais de vida e de acreditarem no potencial de cada um deles, na autoestima. E botar fé na vida. O esporte é uma ferramenta extraordinária", analisou o maior tenista da história do Brasil, Gustavo Kuerten, que atendeu em Florianópolis à reportagem da websérie Incentive Sonhos.
Com seu jeito tranquilo, Guga parava a todo o instante para tirar fotos e conversar com as pessoas. Um exemplo de humildade e carisma. Sobre o projeto social que desenvolveu ao lado da família, ele recorda o belo caminho nesses 18 anos de existência. "No ano 2000, resolvemos iniciar esse projeto (IGK). É difícil imaginar chegar tão longe, quase 20 anos de estrada, com o sonho de contagiar as crianças e trabalhar também com os deficientes físicos", explicou, relembrando o irmão Guilherme, que era deficiente físico e faleceu em 2007. "Dar oportunidades para eles entenderem que o protagonismo está dentro de cada um, nos corações espalhados pelo Brasil inteiro", destacou.
O programa Campeões da Vida é orientado por um tema pedagógico anual e embasado pelos quatro pilares da educação: aprender a conhecer; aprender a fazer; aprender a conviver; e aprender a ser. As atividades são oferecidas em sete núcleos (Saco Grande, Itacorubi, Canasvieiras, Biguaçu, São José, Palhoça e Campos Novos), que vão além das aulas de tênis, com foco na inclusão social e na formação dos educandos. "Por isso que é tão bacana observar, com clareza e convicção, a diferença de um auxílio na vida das pessoas. É o mínimo que podemos oferecer para eles", afirmou Guga.
Incentivo a sonhos
Para o ex-tenista, a Lei de Incentivo ao Esporte é uma ferramenta fundamental para transformar a vida das pessoas e para manter nos jovens a capacidade de sonhar. "Temos, aqui no IGK, dez anos de história com projetos da Lei de Incentivo. Se fosse diferente, talvez tivéssemos que desconsiderar 90% das crianças que atendemos", resumiu. "É uma lei de incentivo a sonhos reais. É interessante, pois essa palavra 'lei' dá um sentido de obrigatoriedade. Vamos tentar transformar isso em um movimento de incentivo a sonhos, a convicções. A crença verdadeira de que tudo é possível e de que a vida vale a pena", ressaltou Guga.
A Lei de Incentivo ao Esporte está em vigor desde 2007 e já captou R$ 2 bilhões para projetos esportivos. Só em 2017, 1,2 milhão de pessoas foram beneficiadas de forma direta pelos projetos aprovados. O mecanismo permite que empresas e pessoas físicas invistam parte do que pagariam de Imposto de Renda (IR) em projetos esportivos aprovados pelo Ministério do Esporte. Empresas podem destinar até 1% desse valor e ainda acumular com investimentos proporcionados por outras leis de incentivo. O teto para pessoas físicas é de 6% do IR.
A importância da LIE para o esporte brasileiro é tamanha que existe no Congresso Nacional um projeto de lei para aumentar o teto da porcentagem dos investimentos: de 1% para 3% do IR para pessoas jurídicas, e de 6% para 9% do IR para pessoas físicas. "Qualquer ajuste que seja feito para ampliar essa verba, para incrementar o financiamento às instituições sérias, que trabalham incansavelmente para dar chances a essas crianças, é muito valioso. É um sonho que nasce", definiu Gustavo Kuerten.
Rafael Brais, rededoesporte.gov.br