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Famílias viajam 3.500km para prestigiar filhas nos Jogos Sul-Americanos Escolares Arequipa 2018
Tudo começou quando o professor do Colégio Ábaco de São Bernardo do Campo (SP) confirmou que o time de handebol feminino da escola representaria o Brasil nos Jogos Sul-Americanos Escolares em Arequipa, no Peru. A partir dali, um grupo de mães e pais de alunos começou a se programar para seguir os passos de seus “bebês”, muitos deles viajando pela primeira vez para competir em outro país. Foi uma correria para negociar folga no trabalho, antecipar férias, deixar os outros filhos com o marido (ou esposa). Ao todo, dez mães e dois pais resolveram encarar com suas filhas o sonho de participar da maior competição do continente para jovens de 12 a 14 anos.
Como muitas famílias acompanham juntas os jogos de handebol em São Bernardo do Campo, cidade que é referência para a modalidade no Brasil, a convivência se tornou amizade. E uma espécie de pacto surgiu dessa parceria: quem viaja zela pelas filhas de quem não consegue ir. “A gente incentiva mas também se preocupa se comeu bem, se dormiu bem, se está tomando água. Se uma mãe não veio e a filha não está bem, a gente dá um remedinho e procura acolher todas, não só as nossas”, diz a gerente de vendas Cybele Costa Crivelenti.
Cybele conta que o planejamento da viagem teve início quando o professor montou um grupo de WhatsApp para passar informações sobre os Jogos em Arequipa. “Eu cheguei em casa e disse: ‘eu vou junto’. Eu não vou deixá-la ir sozinha, pelo menos não na primeira”, relembra. “A gente tenta acompanhar o máximo que pode. É a primeira viagem internacional dela com o time e a gente faz de tudo para estar perto para assessorar, torcer, para que elas se sintam seguras”, explicou.
Mãe de Laís Costa Crivelenti, 14 anos, a paulista destaca a importância do esporte para sua família. “A Laís desde pequenininha praticava todas as modalidades na escola. Eu sou bailarina, então ela abriu mão do balé pelo esporte. Ela até brinca ‘mãe, você não gosta que eu treine’. Daí eu explico para ela que o que ele fizer eu vou apoiar”, comentou. “A gente apoia porque é um meio seguro, saudável para ela conviver”.
No caminho para a preleção do técnico, Laís parou para dar um último beijo na mãe antes da estreia contra a forte seleção escolar do Uruguai. Sobre o apoio materno em uma competição tão importante, a estudante não pensa duas vezes para responder. “É ótimo, não tem preço. Ter a mãe do lado é a melhor coisas nesses momentos. Ela sempre está me dando apoio, falando para eu me concentrar”, destacou.
A professora e empresária Ariadna das Graças Ferreira Gonçalves, mãe de Mirela, de 13 anos, explica que a amizade com as outras mães de São Bernardo do Campo criou uma espécie de rede de apoio para o time. Quando uma mãe não pode ir a um jogo ou viajar com o time, quem está no jogo dá apoio para a filha de quem não foi. “As mães se ajudam muito”, disse.
Para acompanhar a filha, que joga como goleira, ela negociou uns dias de folga no trabalho. “Dou suporte durante a semana no Brasil e, nessa primeira vez que ela sai do país para disputar um torneio, fiz um acordo com minha escola para poder vir”, detalhou. Ariadna salientou ainda os benefícios do esporte na vida da filha. “Mirela está há quatro anos no esporte. Isso trouxe melhoria no comportamento, respeito, disciplina. A parte educacional dela melhorou muito, além das própria alimentação, que é exigida para um atleta. Ela era um pouco tímida e o esporte também ajudou numa maior socialização”, afirmou.
Luciana Moreno, professora de Educação Física, é mãe da Heloísa, 12 anos, a mais baixinha do time. Durante o jogo, a jovem atleta além de distribuir o jogo e ajudar no ataque, marcou a principal jogadora do Uruguai, que é muito mais alta que ela. A mãe, orgulhosa, elogia os valores que o esporte traz para todos que se envolvem com ele. “O esporte ajuda na formação do caráter dela, na disciplina, respeito com as amigas e com os adversários. É uma escola da vida. Vale a pena. Eu deixei dois filhos com o pai e vim para acompanhar a Heloísa”.
O técnico da seleção feminina de handebol nos Jogos Sul-americanos Escolares, Rogério de Lima Carreon, comenta que os pais vão a quase todas as competições internacionais para prestigiar as filhas. “Os pais sempre estão acompanhando e é bom porque eles sabem até onde eles podem ir, eles não interferem no trabalho e estão sempre aí para motivar as meninas”, explanou. “Se de um lado nós como técnicos cobramos, eles, do outro, estão dando apoio, ajudando. Isso é bacana”.
O jogo
Dentro de quadra, as meninas do Brasil sentiram a estreia nos Jogos de Arequipa e foram derrotadas pelo Uruguai por 23 x 10. O próximo jogo da seleção feminina será nesta segunda-feira contra as chilenas.
Rafael Blais, de Arequipa
Ministério do Esporte