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Emanuel: “Resultados demonstram o quanto o Bolsa Atleta é eficiente na preparação”
O ambiente do alto rendimento é como a extensão do quintal de casa para Emanuel Rego. Como atleta do vôlei de praia, o paranaense de Curitiba sentiu o gosto dos três degraus do pódio olímpico. Foi campeão em Atenas (2004), bronze em Pequim (2008) e prata em Londres (2012). É considerado um dos maiores atletas da história de sua modalidade. Entre 1996 e 2011, foi tricampeão mundial e dez vezes campeão do circuito mundial. Em Jogos Pan-Americanos, deixou sua marca duas vezes. Conquistou o ouro nas edições de 2007, no Rio de Janeiro, e em Guadalajara, no México, em 2011.
Com a bagagem de quem conhece com intimidade o ambiente e os interesses dos atletas, Emanuel esteve no Pan de Lima, no Peru, ao lado do ministro da Cidadania, Osmar Terra. Em vez de sacar, receber, bloquear ou fazer passes, exercitou a “escuta”, em especial de atletas e de representantes de confederações esportivas. A intenção, explica, é garantir que a reta final de preparação do ciclo que se encerra nos Jogos Olímpicos do Japão, em 2020, seja percorrida pela delegação nacional da forma mais profissional e atenta. Na opinião dele, o novo edital do Bolsa Pódio, lançado em julho, terá grande relevância nisso. “A nossa intenção é que a Bolsa Pódio seja um grande fomento. Nossa intenção é que algo perto de 200 atletas, entre olímpicos e paralímpicos, estejam entre os apoiados pelo governo federal nos Jogos de 2020”, afirmou, em referência à categoria mais alta do programa Bolsa Atleta.
Responsável no Ministério da Cidadania pelos esportistas de alta performance, o ex-jogador atestou durante os Jogos Pan-Americanos o impacto de políticas públicas na vida e rotina de jovens que defendem o país na competição internacional. Dos 485 atletas inicialmente inscritos na delegação nacional, 333 são integrantes do programa do governo federal, num investimento de R$ 14,6 milhões ao ano. “Acho que o Bolsa Atleta ajuda o esportista do lado que ele realmente precisa: na construção de um plano de carreira”, afirmou. Confira a entrevista:
Representantes de atletas
Conversei com as duas representantes da Comissão de Atletas do Comitê Olímpico do Brasil: a atual vice-presidente, Yane Marques (medalhista olímpica no pentatlo moderno nos Jogos de Londres, 2012), e a Duda Amorim, representante do handebol (campeã mundial com a seleção em 2013 e integrante do time que chegou ao hexa em Lima). Troquei ideias com elas sobre as propostas que temos para a preparação final para os Jogos Olímpicos. A intenção da comissão de atletas é promover um fórum e reunir todos os presidentes de comissão de atletas das confederações para termos uma conversa ampla. Falarmos também sobre o futuro, depois de 2020. É importante desenhar desde já o próximo ciclo. A partir dessa reunião, teremos uma ideia do que está acontecendo em cada confederação. Uma visão interna de cada entidade, de como está a preparação, o ranqueamento para os Jogos, as dificuldades e os desafios.
Transparência federal
As representantes dos atletas gostaram dessa proximidade do ministro Osmar Terra. Foi a primeira vez que tiveram a oportunidade de estar perto dele. Gostaram da forma aberta como o ministro conversa sobre o esporte. Acho que esse é o caminho. Unir atletas, comissão de atletas, Ministério da Cidadania e Comitê Olímpico e Paralímpico vai fazer bem ao esporte.
Bolsa Pódio
A nossa intenção é que a Bolsa Pódio seja um grande fomento. O último edital voltado para os Jogos Olímpicos de 2020, inclusive, já foi publicado. Agora, estão sendo formados os grupos de trabalho com as comissões da secretaria de Alto Rendimento, representante do COB e do CPB e de cada uma das confederações. Num primeiro momento, são apresentados os projetos e os atletas que têm grande potencial olímpico. No segundo passo, os atletas apresentam os projetos. Nossa intenção é que algo perto de 200 atletas, entre olímpicos e paralímpicos, estejam entre os apoiados pelo governo federal nos Jogos de 2020 (nos Jogos Rio 2016, entre olímpicos e paralímpicos, foram 208, e 70 ganharam medalhas).
Repercussão do Bolsa Atleta
Os números do Bolsa Atleta são fortes. Em 2018, atletas vinculados ao programa ganharam 37 medalhas em Mundiais. Nos Jogos Pan-Americanos, são 333 bolsistas. Em quatro dias de competição, 40 deles já subiram ao pódio. Acredito que os resultados demonstram o quanto o programa é eficiente no auxílio à preparação dos atletas. Espero que para o ano que vem a grande maioria dos atletas que irão ganhar medalhas olímpicas também sejam bolsistas e que falem bem do projeto. O programa fomenta um dos lados que o atleta mais precisa, que é a possibilidade de construção de um plano de carreira.
Percepções de Lima
Primeiro, a sensação é de que os resultados que estão acontecendo agora vêm de um trabalho feito desde o ciclo para os Jogos Olímpicos Rio 2016. Acredito que as Olimpíadas de 2016 deixaram um legado técnico muito grande. Muitos estão se aproveitando de estruturas criadas para os Jogos. Voltei também com a sensação de que muitos dos resultados estão vindo com a nova geração. O taekwondo é um bom exemplo, com grandes nomes diferentes do que a gente estava acostumado. É uma geração que aproveita os efeitos da Rio 2016.
Ex-atleta, agora gestor
Penso que é uma continuidade. O esporte tem seus momentos. Quando paramos de jogar, temos a missão de deixar um outro tipo de contribuição. Quando a gente é atleta, sentimos emoção na construção do dia a dia. Agora, como gestor, consegui ver os resultados e a emoção dos atletas nas vitórias e rever muitos deles. Muitos vieram falar comigo.
Recordações do Pan
Acredito que os Jogos Pan-Americanos, por serem o maior evento das Américas, criam uma pressão maior para todos os atletas saírem com medalhas. Eu tive a sorte e o bom trabalho de ir a duas edições e voltar para casa com dois ouros. Sempre acreditei que era importante chegar lá e dar o melhor. Sempre pensei que os Jogos Pan-Americanos são importantes para ganhar a medalha para o Brasil. Acho que é isso que esses atletas estão pensando e fazendo agora. Eles não estão pensando só nas suas modalidades, mas que é importante para o Brasil conquistar um grande número de pódios para ficar entre os três primeiros no quadro. O sentimento de estar contribuindo é muito válido.
O espectador do Pan
Eu sempre gostei de assistir aos esportes de luta, porque o atleta tem um dia só para performar. Naquele dia só ele tem que ser o melhor de todos. Eu me lembro muito do Flávio Canto, quando foi medalhista de ouro na República Dominicana, em 2003 (-81kg). Eu me lembro da garra com que ele competiu. Gosto de ver a dificuldade de cada modalidade. No vôlei a gente joga uma partida por dia e isso vai reduzindo a pressão. Muitos esportes individuais têm pressão total em um dia só. Essa é uma das grandes magias do esporte.
Breno Barros e Jéssica Barz, de Lima, Peru – Ministério da Cidadania