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Cátia Oliveira tem escala em Lima para fazer da prata no Mundial um ouro nos Jogos Paralímpicos de Tóquio
Cátia Oliveira é exceção no reino das atletas do tênis de mesa paralímpico. Mesmo integrando uma classe para cadeirantes com tetraplegia, ela adota um equipamento de padrão rápido, agressivo mas de difícil controle para quem joga sentado. As duas borrachas lisas de sua raquete aceleram as jogadas e exigem golpes mais precisos no efeito e no posicionamento. "Acho que na minha classe só eu e uma argentina fazemos isso. Quase todos usam pino (material que inverte o efeito ou cadencia a velocidade da bola). Vou falar que é difícil, mas é assim que gosto", afirmou a atleta brasileira de 27 anos.
A opção de Cátia tem se mostrado acertada. Em 2019, ela conquistou o resultado de maior expressão de um mesatenista brasileiro na história da modalidade. Chegou à final da Classe 2 no Mundial disputado em Celje, na Eslovênia, e terminou com a prata. Na volta ao Brasil, referendou a condição de favorita e levou o ouro no Brasileiro. Recebeu em dezembro o Prêmio Paralímpicos, do Comitê Paralímpico Brasileiro. "Foi um ano muito bom, né? Não foi 100% porque queria o ouro, mas só de estar numa final e conseguir uma medalha inédita para o Brasil foi maravilhoso", afirmou a atleta, integrante da categoria Pódio, a principal do programa Bolsa Atleta, da Secretaria Especial do Esporte do Ministério da Cidadania.
Na temporada de 2019, Cátia será uma das 34 representantes do tênis de mesa brasileiro nos Jogos Parapan-Americanos de Lima, no Peru. O megaevento prevê reunir 1.890 atletas, de 33 países, na disputa de 17 esportes. A competição é apenas no segundo semestre, de 23 de agosto a 1º de setembro, mas desde já o foco da paulista de Cerqueira César que treina em Bauru está voltado para a competição andina. Os medalhistas de ouro de cada classe se garantem nos Jogos Paralímpicos de Tóquio, no Japão, em 2020.
"O trabalho com o tênis de mesa paralímpico tem sido muito bem feito. A modalidade cresceu bastante. Teremos mais de 30 pessoas em Lima. Traremos com certeza vários resultados maravilhosos. O Parapan vale vaga direta. Quero muito esse ouro para chegar a Tóquio e, lá no Japão, tentar a tão sonhada medalha de ouro que escapou por pouco no Mundial", afirmou Cátia.
A temporada de 2018 de Cátia só não foi mais feliz porque, exatamente no dia em que conquistou a prata no Mundial, a atleta perdeu o pai, Flávio Alves, de 47 anos. Emocionado com a vitória da filha na semifinal e a conquista da vaga na decisão, Flávio passou mal, foi internado num hospital em Cerqueira César, mas não resistiu. Desde então, Cátia tem dedicado conquistas e prêmios ao pai, que sempre foi fã e incentivador. "Sei que onde quer que ele esteja vai seguir sempre torcendo por mim".
Retrospecto promissor
A Seleção Brasileira tem tradição de desempenhos expressivos em torneios continentais. No Parapan de Toronto, no Canadá, em 2015, a equipe nacional alcançou o melhor resultado do esporte na história da competição. Foram 31 medalhas, com 15 ouros, 10 pratas e seis bronzes. Entre os ouros, dez em chaves individuais, que valeram vagas diretas para os Jogos Rio 2016. Cátia foi a protagonista de um deles.
Na Paralimpíada disputada em solo nacional, os atletas da casa fizeram história. Foram quatro pódios. Uma prata na chave individual masculina da Classe 7, com Israel Stroh; um bronze no individual feminino da Classe 10, com Bruna Alexandre; além dos bronzes por equipes das Classes 1-2, com Aloisio Lima, Guilherme Costa e Iranildo Espíndola e nas Classes 6 a 10 feminina, com Jennyfer Parinos, Danielle Rauen e Bruna Alexandre. Cátia acabou eliminada na fase preliminar, com duas derrotas. Até por isso, enxerga em Tóquio a chance de ir muito além.
Faro de gol importado
Originalmente, a relação de Cátia era com uma bola bem maior que a de tênis de mesa. Meia-atacante habilidosa do futebol feminino, ela viveu seu melhor momento em 2007, com a convocação para a Seleção Brasileira que disputaria o Mundial Sub-17, no Chile. Um acidente de trânsito exatamente no dia da convocação, contudo, mudou a trajetória da atleta. Em 15 de outubro daquele ano, Cátia voltava de carro com duas amigas de Piracicaba em direção a Bauru, no interior de São Paulo. O carro onde estava se chocou com a traseira de outro veículo. Catia dormia no banco traseiro sem cinto de segurança e, com o impacto, sofreu uma lesão medular cervical que lhe tirou os movimentos das pernas.
"Eu estava no hospital quando, às 17h, saiu a convocação para a Seleção. Eu iria disputar o Mundial Sub-17 no Chile. Era meu maior sonho. Para mim, aquilo foi difícil demais", recordou. "Foi um acidente leve. Minhas amigas estavam com cinto e só ficaram com a marca. Como estava deitada e sem cinto, deu uma chicotada na minha coluna e pronto. Cinco minutos antes da batida eu estava acordada. Deitei e batemos. Tinha de ser".
Vencidos o luto pessoal e a fase de reabilitação, a migração para o tênis de mesa veio seis anos depois. E, se não podia mais atuar como meia-atacante, "importou" a agressividade dos gramados para o novo esporte. "Eu gostava de estar com a bola no pé, de fazer gol de vez em quando. Agora, no tênis de mesa, trago um pouco disso. Tenho um quê de atacante, que gosta de bola rápida, forte. Por isso uso as borrachas lisas", afirmou.
Gustavo Cunha
Secretaria Especial do Esporte do Ministério da Cidadania