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Campeão olímpico no vôlei de praia, Emanuel Rego assume a Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem
O vasto currículo no vôlei de praia é inquestionável. Campeão olímpico em Atenas 2004, medalhista de bronze em Pequim 2008 e de prata em Londres 2012, Emanuel Rego é um dos principais nomes da história da modalidade e também do esporte brasileiro. Além dos títulos conquistados em edições dos Jogos Olímpicos, o ex-atleta, aposentado em 2016, é ainda tricampeão mundial (1999, 2003 e 2011) e dez vezes campeão do Circuito Mundial. A partir de agora, a busca por conquistas será do lado de fora das competições: Emanuel é o novo secretário da Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD).
A nomeação para comandar a entidade, vinculada à Secretaria Especial do Esporte do Ministério da Cidadania, foi publicada no Diário Oficial da União nesta terça-feira (23.04). "Foi uma satisfação receber o convite para a ABCD. Eu tenho uma experiência muito grande em relação a isso, vivenciei esse controle durante muitos anos da minha carreira", comenta o curitibano de 45 anos. "Eu sei o quanto é importante para a história do atleta ser um atleta limpo, e também sei as dificuldades que a gente tem em manter isso mais claro para todos eles. Acho que essa é uma das missões", adianta Emanuel.
No ano passado, o campeão olímpico teve a oportunidade de compartilhar a experiência com jovens atletas, quando participou como modelo de referência dos Jogos Olímpicos da Juventude, em Buenos Aires, na Argentina. Além disso, Emanuel integrou diversas comissões de atletas, inclusive na Agência Mundial Antidoping (Wada, na sigla em inglês), onde teve um contato ainda mais próximo com o controle de dopagem.
“Ali eu aprendi bastante como a gente pode se comunicar e como o atleta pode contribuir no processo. Acho que esse também vai ser um dos pilares da ABCD: tentar trazer os atletas para contribuir nesse processo todo”, aponta o maior vencedor de etapas do Circuito Mundial, com 77 medalhas de ouro, e jogador com mais títulos na história do vôlei de praia, somando 155 conquistas.
Confira, ponto a ponto, a entrevista com Emanuel Rego, novo secretário da ABCD:
Convite para a ABCD
Foi uma satisfação receber o convite para assumir a Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem. Eu tenho uma experiência muito grande em relação a isso, vivenciei esse controle durante muitos anos da minha carreira. Eu sei o quanto é importante para a história do atleta ser um atleta limpo, e também sei as dificuldades que a gente tem em manter isso mais claro para todos os atletas. Acho que essa é uma das missões. Eu fiquei muito satisfeito com o convite porque é uma forma técnica com que eu gostaria de contribuir com o esporte brasileiro.
Prioridade
Acho que a grande visão que a gente tem que ter a partir de agora, talvez na continuidade do processo, que já é bem construído, é a comunicação. Estar mais visível para que os atletas entendam a nossa missão e que a gente está só melhorando o esporte, dando condições para os atletas limpos serem os atletas reais, os verdadeiros campeões. Essa é a mensagem que a gente tem que passar em todo o processo dentro da ABCD.
Ferramenta positiva
A grande visibilidade que tem que ser um pouco mudada na visão do atleta com relação ao antidoping é que ele está sendo favorecido com isso. Por ser um atleta dedicado, fazer tudo certo e ter seu treinamento diário, sua educação alimentar, faça com que isso seja uma vantagem, e não uma desvantagem perante aqueles que usam outros meios para serem campeões.
Experiência na Wada
Eu tive participações em várias comissões de atletas, inclusive no Comitê Olímpico do Brasil, na Confederação Brasileira de Voleibol, na Federação Internacional de Vôlei, e tive uma participação especial na comissão da Wada. Ali eu aprendi bastante como a gente pode se comunicar e como o atleta pode contribuir no processo. Acho que esse também vai ser um dos pilares da ABCD: tentar trazer os atletas para contribuir nesse processo todo, um processo de valorização daquilo que a gente tem de melhor, que é o atleta.
Papel de consultor
A minha participação é muito ativa em todas as comissões de atletas nessas entidades. Ainda tenho que entender todo esse processo, mas, com certeza, aos poucos eu vou sair do meio dos atletas para ser só um consultor, tentar ajuda-los só com opiniões, tentar manter o vínculo de conhecimento que eu tenho com grandes amigos em todas as comissões. Mas acho que, desta vez, a missão é um pouco mais acima e eu tenho como contribuir com o Brasil e com o esporte brasileiro de uma forma diferente.
Principal desafio
Acho que o grande desafio em relação a antidoping é essa luta conforme novas tecnologias vão acontecendo e também a facilidade que temos de investimentos de fora em laboratórios para criar ou aumentar o rendimento. Na realidade, nós temos que ser mais amigos daqueles que fazem bem para o esporte. Por exemplo, criar uma nova estrutura de proteína para que ele tenha melhores condições tem que ser coordenado perante a Wada. Então eu sou muito catedrático em dizer que gostaria de ver o esporte adequado com a tecnologia, de forma que os atletas tenham sua saúde preservada durante os anos e que no futuro a gente possa dizer: “realmente esse atleta passou a carreira dele sendo bem tratado e chegou em grandes condições no final da carreira”.
Avanços após Rio 2016
Acredito que o Brasil está em um processo de evolução, vem crescendo desde a criação da ABCD, e é um processo lento: a educação das pessoas, dos próprios atletas, das confederações, das entidades, de tentar entender o quanto é importante essa missão da ABCD. Acho que isso é um processo, nós estamos engatinhando. A Wada nos ajuda muito trazendo toda a expertise que eles têm nos outros países. Acredito que os nossos profissionais estão ficando mais satisfeitos com o trabalho que está sendo feito nos últimos anos.
Olhar de ex-atleta
Estou muito satisfeito de estar buscando uma nova imagem dentro do esporte nacional. Durante muitos anos fui um representante olímpico, fiz o meu melhor para o meu esporte, que era o vôlei de praia. Agora é uma missão diferente, uma missão de dar um pouquinho do olhar de dentro das quadras, das estruturas, do planejamento que a gente tem durante tantos anos na carreira, e levar isso para a parte que já é bem construída. A parte da organização nos governos, nas confederações, é bem construída. Mas com uma visão um pouquinho mais in loco do que o atleta tem, isso pode dar uma parte mais emocional, uma condução mais real para todos esses trabalhos.
Aproximação com os atletas
Sendo regido por um outro atleta, você já entende que tem uma proximidade. Acho que a minha missão é trazer um pouco desse olhar que eu sempre tive durante os anos com relação aos atletas para que eles possam entender que tem uma pessoa que sabe o que eles estão passando, sabe o que eles passaram na carreira deles e sabe o que pode acontecer. Fico muito satisfeito de poder ajudar. Minha carreira toda eu tentei dar um viés de credibilidade para chegar neste momento e contribuir de uma outra forma. Eu acredito que os atletas, vendo um atleta nesse tipo de gestão, podem ficar mais à vontade e pensar somente em competir e no futuro deles.
Vôlei de praia e Tóquio 2020
O processo de preparação para a Olimpíada já está em atividade. As equipes já estão com o planejamento acontecendo, as etapas de 2019 já são classificatórias para Tóquio. Acredito que estamos bem representados. Temos duas duplas muito boas no feminino, e três no masculino. Então, como sempre, acho que o vôlei de praia vai chegar muito bem constituído com duplas fortes e organizadas para Tóquio, e espero que mantenha a nossa saga de sempre trazer medalha em todos os Jogos Olímpicos.
Tradição da modalidade
A tradição e a expectativa do vôlei de praia são grandes. Sempre trouxe medalhas, ouro, prata e bronze. Desta vez acho que não vai ser diferente. O trabalho está sendo bem feito. Eles já sabem o caminho e espero que consigam manter a estrutura vitoriosa que o vôlei de praia tem.
Ana Cláudia Felizola – rededoesporte.gov.br