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BOLSA FAMÍLIA 20 ANOS
Vidas transformadas ao longo da história
Foto: Lyon Santos/MDS
“O estudo leva a gente a lugares melhores”
Weslene Rocha, 27 anos, é jornalista e hoje trabalha na Assembleia Legislativa do Estado do Tocantins, em Palmas. Sonha em ver a enteada em uma faculdade pública e com a construção da casa própria no lote recém-comprado. “Quero que ela não precise passar pelo que eu passei”, explica.
A jovem se lembra de quando tinha cinco anos e viu o padrasto brigar com a mãe dela pela quantidade de leite consumida na casa. “Eu lembro que vi minha mãe chorar e falei ‘mãe, a senhora fica tranquila que eu vou trabalhar. Deixa eu crescer um pouquinho que eu vou trabalhar e eu vou comprar quantos leites a senhora quiser’. E eu lembro que ela me olhou e chorou mais ainda”, conta.
Para ela, o auxílio é fundamental na sua trajetória e na de tantas outras pessoas. “Não é justo a gente concorrer com uma pessoa que tem mais oportunidades. Um filho de um banqueiro não é igual ao filho de uma costureira. Não estuda na mesma escola, não tem a mesma formação”. E completa frisando que as condicionalidades do programa, acompanhamento da saúde e educação das crianças, são essenciais para que isso ocorra.
“Tem um tempo para plantar e a fome é hoje”
A Terra Indígena (TI) Katukina/Kaxinawá fica no município de Feijó (AC). Em 2010, o IBGE registrou 1.259 habitantes nos mais de 23 mil hectares do território. Marinalda Nonato Oliveira de Amorim Kaxinawá é uma dessas moradoras. Ela vive na Aldeia de Belo Monte.
Mãe solo, Marinalda tem duas filhas e é beneficiária do Bolsa Família há 13 anos. Ela conta que em sua TI os indígenas cultivam alimentos, mas não é o suficiente. “As pessoas não entendem que tem um tempo para plantar e a fome é hoje”, pontua. Ela estudou até a quarta série e sonha com uma vida melhor para as duas filhas. O Bolsa Família proporcionou que elas continuassem na escola. “Eu só estudei até minha quarta série, então eu não tenho muito o que oferecer. Por isso preciso ajudar as minhas filhas”, acredita.
Na Aldeia de Belo Monte vivem 42 famílias, mais de 200 pessoas. A maioria das mulheres recebem e sobrevivem com a renda do programa, da agricultura e do artesanato. O dinheiro ajuda principalmente nos estudos das crianças e na compra de roupas e materiais escolares. “O Bolsa Família vem para o bem-estar das crianças. Nem todos têm uma oportunidade de emprego. Se você plantar uma roça hoje, não vai colher amanhã. Tudo tem seu tempo”. As sementes, substratos e todo o material necessário para o plantio também são custeados pelo programa.
“O Bolsa Família é uma família mesmo”
Isabel Maria da Costa tem 36 anos e há 12 recebe o Bolsa Família. Antes disso, era dependente de seus pais, também beneficiários. Ela mora em Jaborandi, no cerrado baiano, município com uma população estimada em pouco mais de 8 mil habitantes, a mais de 900km de Salvador.
Isabel não tem renda fixa para além do benefício. Há cinco anos, fez um curso de artesanato com Buriti, espécie de palmeira presente no cerrado, no Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). “A gente vai no brejo e tira a madeira. Trata, lapida, até chegar às peças finais”, conta. Ela passou, então, a integrar uma cooperativa de artesãos. O valor que ganha com a venda dos quadros, caixinhas, vasos e outros produtos ainda não é suficiente para manter os cinco filhos.
A família vive em uma casa de dois cômodos. “O Bolsa Família é um auxílio muito importante e que ajuda muito. A casa é pequena, mas eu agradeço a Deus por ter essa casinha”, comenta. Isabel ajudava na roça de seus pais e concluiu o ensino fundamental, mas sonha que seus filhos cheguem além. “O meu sonho é que eles cresçam, estudem e sejam alguém. Eu almejo o melhor para a vida deles. Que terminem o segundo grau aqui e possam trabalhar e realizar seus sonhos”.
Evolução social por meio da educação
“Quando o gás acabou, minha mãe deu um pouco de refrigerante e biscoito para mim e para minha irmã como almoço”, conta Ana Carolina Oliveira. “Foi com o dinheiro recebido do Bolsa Família que ela conseguiu comprar um novo botijão para preparar a comida”, completa, com a voz embargando pela lembrança triste.
Quem vê hoje a servidora pública que trabalha na consultoria jurídica do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS) não imagina a menina tímida que sonhava em estudar, se formar e comprar uma casa para a mãe morar. “A vida toda a gente morou de aluguel ou na casa de parentes. Hoje, formada, trabalho para realizar o sonho de comprar uma casa para minha mãe”, comenta.
Ana Carolina é chefe de divisão na Consultoria Jurídica do MDS e continua estudando para alcançar a estabilidade que tanto almeja no serviço público. “Lembro que sempre recebíamos cartinhas do Bolsa Família para que os componentes familiares fizessem cursos profissionalizantes. À medida que a educação é inserida na vida das pessoas, é possível conseguir coisas melhores, até mesmo se desvincular do benefício. A partir do momento que você investe na educação, é aberta uma janela que nos mostra novos horizontes”, defende.
“O Bolsa Família me ajudou a realizar meu sonho”
Beneficiária do Bolsa Família há 17 anos, Gerusa Pereira da Silva passou a receber o auxílio quando ainda estava grávida de seu primeiro filho. Quilombola de Kalunga, na cidade de Monte Alegre de Goiás (GO), ela conta que antes do programa não tinha renda nenhuma. “Eu dependia de bicos”, lembra. Depois que começou a receber o benefício, tudo melhorou. A família passou a se alimentar muito melhor e ela conseguiu suprir as necessidades dos filhos.
Foi também graças ao programa que Gerusa pode continuar estudando mesmo depois da gravidez. “O programa me ajudou muito e me ajuda até hoje. Eu só tenho a agradecer”, comenta a estudante do quinto período da Universidade Federal do Tocantins (UFT), onde cursa licenciatura em Educação do Campo.
“Com o programa eu consigo comprar as coisas para a minha filha e manter os meus estudos”, conta. A renda da família também vem do trabalho como produtora rural. “O Bolsa Família me ajudou a realizar meu sonho. Se hoje eu sou uma universitária, é por causa do Bolsa Família. Eu achava que eu nunca ia conseguir. Eu pensava ‘eu, uma menina quilombola, de família pobre e negra, entrar em uma universidade? Não sou capaz’. Mas eu sou capaz”.
“É a principal fonte de renda da minha aldeia”
De acordo com dados da Funai de 2003, a Terra Indígena (TI) de Governador no Maranhão possui mais de 600 moradores. A grande maioria é beneficiária do Bolsa Família.
Na aldeia de Marcilene Cacau Cary Cry, vivem 22 famílias. Lá os indígenas trabalham no roçado, mas não é o suficiente para tirarem sua subsistência. Além da alimentação, o benefício garante principalmente condições para as crianças estudarem. “Colocar comida na mesa, ajudar no material escolar, roupas, calçados… ajuda bastante”, conta Marcilene.
Ela tem 24 anos e recebe o benefício há dois anos, mas antes era dependente de sua mãe, Tatiana Cacau. Marcilene lembra da diferença de antes e depois do programa chegar à aldeia. “Quando eu era criança e precisava das coisas, minha mãe não podia me dar. Eu dou para os meus filhos o que antes minha mãe não podia dar para mim”, compara. Para ela, o mais importante é a perspectiva de um futuro para eles.
Hoje Marcilene preside a associação de moradores da aldeia e faz parte da Associação de Mulheres Indígenas do Maranhão. A comunidade faz artesanato para uso próprio e para venda.
De beneficiário a gestor do programa
Kellison Rocha, 29 anos, é gestor do programa na cidade de Paraná (RN). É filho de Maria Libania Bessa Rocha e José Francisco da Rocha, beneficiários do Bolsa Família.
Em 2003, sua mãe recebeu o auxílio na cidade de José da Penha (RN). A família de agricultores familiares trabalhava muito na roça, mas ainda assim eles passavam muitas necessidades. “Era insuficiente, o Bolsa Família era a oportunidade que a gente tinha. Com isso eu fui estudando e me formei na Universidade Aberta do Brasil pela UFRN, no curso de administração pública”, conta.
Depois de concluir o curso, Kellison especializou-se em Educação, Pobreza e Desigualdade Social, e passou a atuar como gestor do programa em 2019. “A vida toda eu tinha trabalhado na agricultura, junto com os meus pais, e hoje eu estou ajudando a tirar as pessoas da miséria. Isso para mim é algo grandioso”, comemora.
Do Bolsa Família ao empreendedorismo
Francismeire Silva Melo, 45 anos, viveu na sua história o significado da palavra transformação. Mãe de três filhos, foi beneficiária do Bolsa Família por 12 anos. O programa ajudou a sustentar sua família durante um período difícil. Quando a filha do meio foi abusada aos seis anos de idade, ela se separou do marido e saiu de casa para proteger os filhos, apenas com as roupas que tinham.
No CRAS, Francismeire encontrou apoio e orientação. Fez o cadastro no Programa Bolsa Família e se inscreveu no Minha Casa, Minha Vida. Foi quando a família passou a ter acesso a recursos que ajudaram a suprir as necessidades básicas. Também no CRAS, foi encaminhada para a Secretaria de Políticas Públicas para Mulheres de Caruaru, onde recebeu apoio emocional e foi inserida em um grupo de apoio para empreendedores.
Ela começou a estudar e se capacitar, utilizando parte do valor recebido do Bolsa Família para investir em seu próprio negócio. Hoje, Francismeire vive do seu empreendimento. Ela vende cosméticos artesanais e velas aromáticas, superando desafios diários para sustentar sua família e pagar a prestação do apartamento.
“As pessoas precisam de oportunidades. Oportunidade, só isso”
Sergio Lopes nasceu em Triunfo, cidade com menos de 10 mil habitantes do interior da Paraíba. Filho de pais agricultores, morava em uma casa muito humilde. Na infância não tinha televisão ou geladeira. Seus pais não puderam estudar e sempre trabalharam muito no roçado. Quando criança, lembra de sequer achar possível um dia cursar uma faculdade. “Eu não conhecia ninguém que tivesse feito, não sabia nem como fazer. Eu pensava ‘se eu terminar o ensino médio e conseguir um emprego no mercadinho já está de bom tamanho’”.
Hoje, aos 36 anos, depois de estudar administração pública, é chefe de divisão na Ouvidoria do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome. Tudo mudou quando, em 2004, sua família passou a receber benefício do programa.
“Como o presidente Lula fala, a fome tem pressa. A fome não espera, ela dói. Só quem passa é que sabe”, lembra. O Bolsa Família também proporcionou a ele o estudo que os pais não tiveram.
Na Ouvidoria do MDS, Sergio faz questão de treinar toda a equipe para estar preparada e disposta a realmente ajudar as famílias. “Hoje, fazer com que outras pessoas recebam o benefício, podendo pelo menos orientá-las, é muito gratificante para mim”
“Significou muito, não só para Guaribas, mas para o Brasil inteiro”
Héracles Alves tem 33 anos e é formado em Tecnologia da Informação. Ele faz parte da geração que vivenciou a transformação de Guaribas, cidade do interior do Piauí que já esteve entre as mais pobres do Brasil. “Antigamente as crianças com oito, nove anos já tinham que ir para a roça ajudar os pais no plantio de feijão, milho, mandioca. A roça era o único meio de renda que tinha”, recorda.
A mãe dele foi beneficiária do Bolsa Família. “Significou muito, não só para Guaribas, mas para o Brasil inteiro. Quando as pessoas receberam o cartão, eles passaram a usar o benefício não só para sobreviver, mas para empreender também, montar um negocinho. Abriu novos caminhos”, acredita.
Héracles Alves estudou da pré-escola até o ensino médio na escola pública de Guaribas. Em 2009, ele se inscreveu pelo Prouni com bolsa para cursar Gestão em Tecnologia da Informação em São Paulo. Lá estudou, trabalhou na área, ganhou experiência e voltou para Guaribas para montar uma assistência técnica especializada e prestar serviços de informática na cidade.
Quando voltou, Héracles ainda pôde dividir seus conhecimentos com a comunidade, dando aula na escola técnica local. “O município foi contemplado pelo Pronatec com dois cursos técnicos. Eu dei aula nos dois cursos, de informática e administração, e pude ajudar na formação de outras pessoas. Foi maravilhoso poder passar um pouco do conhecimento que eu adquiri na faculdade”, comemora.
Assessoria de Comunicação - MDS