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Campeões da Vida
Valéria Nascimento: das ruas à retomada da perspectiva após passagem por comunidade terapêutica
Durante anos, o uso de substâncias ilícitas fez parte da rotina de Valéria Nascimento. A partir daí, se desenvolve um roteiro semelhante ao de muitos que lutam contra a dependência química. O relato é parte da série Campeões da Vida, que reúne histórias de brasileiros e brasileiras que retomaram sua trajetória no tratamento em comunidades terapêuticas financiadas com recursos do Governo Federal.
Eu encontrei o acolhimento de que precisava na Fazenda da Esperança, no Distrito Federal. Tive oportunidade de conhecer outras profissões e aprendi a mexer com panificação. Depois do tratamento de um ano, pude retornar à sociedade e recuperar meus filhos"
Valéria Nascimento
Valéria lembra que o primeiro contato com o crack ocorreu por volta dos 26 anos, em um momento de instabilidade emocional. A sensação de que tinha o controle da situação se deteriorou lentamente, mas de forma constante, na medida em que perdeu dignidade e vínculos afetivos, econômicos e sociais. Foram mais de dez anos sob influência do crack, até que reconheceu que precisava de ajuda.
"Como toda droga, ela foi me tirando tudo. Primeiro o emprego, depois me tirou o convívio com os filhos, me tirou a família. Passei por volta de um ano e meio vivendo na rua", disse Valéria, em diálogo com o nadador Wendell Belarmino, medalhista de ouro, prata e bronze nos Jogos Paralímpicos de Tóquio, no Japão, em 2021.
"Eu encontrei o acolhimento que precisava na Fazenda da Esperança, no Distrito Federal. Tive oportunidade de conhecer outras profissões em cursos e aprendi a mexer com panificação. Depois do tratamento de um ano, pude retornar à sociedade e recuperar meus filhos", contou Valéria. Na comunidade terapêutica, ela adquiriu e aprimorou técnicas que lhe permitiram criar uma microempresa familiar para a produção de doces para festas.
O tratamento em comunidades terapêuticas une laborterapia (trabalho), acompanhamento psicológico e, em muitas delas, uma abordagem religiosa. Desde janeiro de 2019, mais de 80 mil dependentes químicos tiveram oportunidade de tratamento, em 483 instituições financiadas pelo Governo Federal. Entre elas, mais de 1.500 pessoas em situação de rua com dependência química, durante o período da pandemia do novo coronavírus.
Adaptação sem limites
No bate-papo com Valéria, Wendell Belarmino descreveu um pouco de sua trajetória no esporte. O brasiliense foi diagnosticado com glaucoma com dois dias de vida. Passou por mais de 15 cirurgias nos olhos e atualmente tem menos de 5% da capacidade visual. "O pessoal sempre fica: Ah, e como faz? Como é possível? É como sempre digo: a deficiência não te limita. Ela só requer que você se adapte, que procure uma forma de se adaptar", disse Wendell.
Wendell se encantou pelo movimento paralímpico quando teve acesso aos feitos dos atletas nos Jogos de Londres, na Inglaterra, disputados em 2012. "Eu falei para mim mesmo: se eles conseguem, se estão lá, posso chegar também", afirmou. A partir de 2015, o sonho se estruturou. Wendell foi atrás de um local para treinar e conheceu o treinador Marcus Lima.
A série Campeões da Vida é uma iniciativa do Ministério da Cidadania que une, de um lado, dependentes químicos na fase de retomada de vínculos afetivos e produtivos e, de outro, atletas integrantes do Bolsa Atleta, do Governo Federal, para troca de experiências e vivências sobre desafios, conquistas e dificuldades em suas caminhadas.
A trajetória da dupla foi meteórica. Em 2019, Wendell conquistou o título mundial dos 50m livre e, em sua estreia em Jogos Paralímpicos, foi campeão nos 50m livre, prata no revezamento 4 x 100m livre e bronze nos 100m borboleta. "Quando meu treinador me disse lá atrás que a gente iria para os Jogos de Tóquio, eu achei meio maluco, mas botei isso na cabeça e nunca desisti", recordou.
Ao fim da conversa com Valéria, Wendell viveu uma inversão de papéis. Acostumado a subir ao pódio e receber medalhas, ele foi responsável por entregar a Valéria a medalha de Campeã da Vida. "Já fui premiado por várias pessoas, mas hoje tenho a honra de colocar uma medalha no seu pescoço, porque hoje você é a campeã", resumiu.
Para a microempresária, o gesto teve a simbologia de reconhecimento e incentivo para seguir adiante. "Estou orgulhosa e honrada de receber essa medalha de você, que é um campeão. Fico feliz também de passar para outras pessoas que existe possibilidade de recuperação. E que outras famílias nessa condição podem acreditar, ter esperança. Eu fico emocionada", concluiu Valéria.
Diretoria de Comunicação - Ministério da Cidadania