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Campeões da Vida
Geovani Barbosa e a trilha da insistência para superar a dependência química
Geovani e Ádria com suas medalhas. Foto: Helano Stuckert/ Min. Cidadania
“Quem caminha sozinho pode até chegar mais rápido, mas aquele que vai acompanhado com certeza vai mais longe”. A frase, atribuída à escritora Clarice Lispector, tornou-se uma espécie de fio condutor do bate-papo entre Ádria Jesus, medalhista de bronze em Jogos Paralímpicos, e Geovani Barbosa, egresso do tratamento em uma comunidade terapêutica. A conversa foi mais um capítulo do projeto Campeões da Vida.
A questão do coletivo foi essencial. Minha vontade de superar a dependência foi reforçada pelos verdadeiros amigos. Eles me levaram à Comunidade Terapêutica, onde cumpri nove meses de tratamento. Quando saí, eles e minha família me abraçaram. Isso fez toda a diferença”
Geovani Barbosa
A iniciativa do Ministério da Cidadania une, de um lado, dependentes químicos que passaram pelo processo de tratamento e retomaram vínculos sociais, afetivos e produtivos e, de outro, atletas olímpicos e paralímpicos, integrantes do Bolsa Atleta, programa do Governo Federal, para uma troca de experiências e vivências.
Consultor de empregabilidade em Samambaia (DF), a história de Geovani em torno da dependência iniciou por volta dos 13 anos, a partir dos primeiros acessos ao álcool e ao tabaco. Perto dos 15, conheceu a cocaína. Desde então, foram 15 anos enredado nessa teia. “Fui avançando no uso. Concluí meus estudos com muita dificuldade justamente por isso. Cheguei a ter envolvimento com a vida do crime”, relatou.
“Por volta dos 30, percebi que precisava mudar. Perdi oportunidades, empregos, confiança da minha família, relacionamentos”, completou. Segundo ele, a ação de amigos, familiares e a rede de proteção oferecida pelo Governo Federal foram determinantes para que ele conseguisse mudar sua realidade.
“A questão do coletivo foi essencial. Minha vontade de superar a dependência foi reforçada pelos verdadeiros amigos. Eles me levaram à Comunidade Terapêutica, onde cumpri nove meses de tratamento. Quando saí, eles e minha família me abraçaram. Isso fez toda a diferença”, lembrou Geovani. Hoje, ele atua para uma agência internacional especializada em buscar vagas para migrantes venezuelanos no mercado de trabalho brasileiro.
O tratamento nas comunidades terapêuticas une laborterapia (trabalho), uma abordagem religiosa e acompanhamento psicológico. Desde janeiro de 2019, mais de 80 mil dependentes químicos tiveram oportunidade de tratamento, em 483 instituições financiadas pelo Governo Federal. Entre elas, mais de 1.500 pessoas em situação de rua com dependência química, durante o período da pandemia do novo coronavírus.
Juntos, mais fortes
A perspectiva coletiva, a partilha de sentimentos e a parceria também retratam a trajetória de Ádria Jesus, atleta do vôlei sentado. “Temos um grito comum no time: Juntas somos mais fortes”, contou a medalhista em Jogos Paralímpicos. Ela começou no esporte paralímpico já na fase adulta. Aos 16 anos, Ádria sofreu um acidente automobilístico que resultou na amputação de sua perna esquerda.
O esporte mudou totalmente a minha vida. Sou amparada pelo Bolsa Atleta, que me deu assistência para chegar onde cheguei”
Ádria Jesus
“Quando tive o acidente, eu meio que estava fugindo da escola, querendo ir para um mundo que não era o meu. Acho que de um jeito ou de outro tudo acontece na hora certa. Depois do acidente, criei responsabilidade, terminei os estudos, encarei o mercado de trabalho e conheci o esporte”, contou a atleta.
Segundo ela, a trajetória esportiva no alto rendimento é repleta de percalços, momentos de dúvida, cansaço físico e mental – sequência também comum a dependentes em processo de tratamento. “Aí entram a persistência, a resistência e a vontade de vencer, em mirar algo que você acha que é futuro para sua vida”, disse ela.
Ao seguir essa receita, ela conquistou com suas equipes duas medalhas de bronze em Jogos Paralímpicos. Uma nos Jogos Rio 2016 e outra mais recente, em Tóquio, no Japão, em 2021. “O esporte mudou totalmente a minha vida. Assim como o Governo Federal abriu as portas para você, por meio das comunidades terapêuticas, sou amparada pela Bolsa Atleta, que me deu assistência para chegar onde cheguei”, afirmou a atleta de alto rendimento, que levou as duas medalhas para Geovani conhecer.
Na sequência, Ádria Jesus adotou um novo papel em sua trilha: em vez de receber uma medalha, foi encarregada de entregar a Geovani a medalha “Campeões da Vida”, da ação promovida pelo Ministério da Cidadania. A entrega reconhece os esforços de Geovani contra a dependência química e pretende incentivá-lo a seguir, no cotidiano, focado na própria recuperação.
“Agradeço demais pela iniciativa e pela homenagem. Quando ela me mostrou as medalhas que ganhou nas Paralimpíadas, achei bonito demais. Nunca tinha visto uma dessas de perto”, contou Geovani, que completou, com emoção: “Fiquei ainda mais feliz quando ela trouxe essa medalha para homenagear minha persistência, minha caminhada, a vitória que consegui até agora. Tenho certeza de que vai ser uma vitória para o resto da minha vida”.
Diretoria de Comunicação - Ministério da Cidadania