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Mês da Mulher
Da invisibilidade à luta pela valorização da atividade de cuidados
Fotos: Lyon Santos/ MDS
Márcia Andréa Macedo, 49 anos, nascida em Curuçá, pequeno município do Pará, carrega em sua trajetória a árdua realidade de milhares de mulheres brasileiras: desde criança, assumiu a responsabilidade de cuidar de outras pessoas, sacrificando sua própria infância e educação.
Com o Dia Internacional da Mulher se aproximando, celebrado em 8 de março, a voz dela ecoa para o mundo, clamando por uma sociedade mais justa e igualitária com a valorização da atividade. "Nós, realmente, somos o pilar do mundo", enfatizou.
Aos nove anos, Márcia migrou para Belém em busca de melhores condições de educação. Porém, ao ser acolhida em casas de família, ela teve que assumir, desde cedo, a responsabilidade de cuidar da casa e das pessoas que moravam nelas. "Assim, não tive tempo de fazer o que fui fazer, que era estudar", recordou.
Historicamente as mulheres são as responsáveis pelas atividades do dia a dia, que inclui a preparação de alimentos, a manutenção, limpeza e organização dos domicílios, o apoio às mais diversas tarefas do cotidiano a pessoas com diferentes graus de autonomia ou dependência. "A política de cuidado precisa ser fortalecida", reforçou a paraense, hoje conhecida como Mãe Márcia de Xangó.
Com a experiência de vida, somada à sua trajetória no MMIB (Movimento de Mulheres das Ilhas de Belém), ela se tornou referência na luta por políticas públicas que reconheçam e valorizem o trabalho de cuidado. Márcia participou do seminário internacional sediado em Belém para discutir o tema, cidade pioneira na construção de uma Política Municipal dos Cuidados.
“Queremos que nasça em Belém, no Pará, uma lei que possa ser para todos, para criar sistemas de cuidados. Por que isso é importante? Porque a mulher não tem tempo. Todo o tempo é dedicado aos cuidados. As mulheres realizam trabalho não remunerado, os trabalhos de cuidados, três a quatro vezes mais que os homens”, destacou María-Noel Vaeza, diretora regional da ONU Mulheres para as Américas e o Caribe.
O evento, que contou com o apoio do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), buscou identificar boas práticas e soluções para a redistribuição do trabalho de cuidado entre o Estado, as famílias, o setor privado e as organizações da sociedade civil.
A secretária nacional de Cuidados do MDS, Laís Abramo, explica que a criação da Política Nacional de Cuidados parte do princípio de que todas as pessoas, ao longo da vida, ofertam e demandam cuidados, sobretudo crianças, adolescentes, idosos e pessoas com deficiência. “A gente considera que o cuidado deve ser entendido como um direito de todas as pessoas ao longo do seu ciclo de vida e também como um bem público”, pontuou.
O seminário reuniu 250 pessoas de governos, sociedade civil organizada, academia e setor privado. Além do Brasil, o encontro contou com representantes de cerca de dez países latino-americanos e caribenhos, além de membros de organizações com atuação em diferentes países, como a ONU Mulheres para as Américas e o Caribe, a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), o Instituto Procomum, entre outros.
"Foi uma troca de experiências no espírito da cooperação Sul-Sul, entre os países da América Latina. Mas, também tem como objetivo fazer esse diálogo do global, regional, nacional e local", destacou Laís Abramo.
Márcia Andréa convida as mulheres a não desistirem da luta por seus direitos. "As políticas de cuidados representam um passo fundamental para a construção de um futuro mais justo e sustentável", finalizou, reconhecendo que essas políticas contribuem para a emancipação das mulheres, a redução das desigualdades sociais e o desenvolvimento social e econômico do país.
Assessoria de Comunicação - MDS