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Cuidados e prevenção às drogas
Comunidade terapêutica em Goiânia é referência no acolhimento de adolescentes que buscam tratamento contra a dependência química
Entre galinhas, cachorros, cavalos, vacas, araras, pavões, pés de manga, lago e jardins, adolescentes que buscam se recuperar da dependência química são acolhidos na comunidade terapêutica Ministério Filantrópico Terra Fértil - Casa Lar Adonai. Localizada em Goiânia (GO), a entidade é referência por oferecer tratamento que integra educação, atividades profissionalizantes, trabalho com as famílias e ressocialização. Na última sexta-feira, 22.10, representantes dos Ministérios da Cidadania e da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos visitaram a entidade.
A dependência química é um quadro clínico grave, e na adolescência tem impacto muito maior. Essa comunidade oferta a possibilidade de capacitação dos acolhidos para que eles possam receber um treinamento em várias áreas profissionais. Isso com certeza ajuda essas pessoas no processo de ressocialização”
Quirino Cordeiro, secretário nacional de Cuidados e Prevenção às Drogas do Ministério da Cidadania
“Essa comunidade terapêutica é considerada pelo Governo Federal como modelo, pois trabalha de maneira articulada com outros serviços de redes de proteção ao adolescente, como saúde, rede socioassistencial e acompanhamento escolar”, afirmou o secretário Nacional de Cuidados e Prevenção às Drogas do Ministério da Cidadania, Quirino Cordeiro.
Atualmente, o Governo Federal financia 483 comunidades terapêuticas pelo Brasil. Entre 2020 e 2021, foram repassados R$ 193,2 milhões e 50 mil pessoas foram acolhidas. Mais de 80 mil dependentes químicos já tiveram oportunidade de tratamento. Paralelamente, 10 mil profissionais do Sistema Único de Saúde, do Sistema Único de Assistência Social e do Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas foram capacitados no tratamento e prevenção da dependência química.
A Terra Fértil - Casa Lar Adonai oferece um total de 82 vagas, 50% delas financiadas pelo Governo Federal. Os adolescentes de 12 a 17 anos recebem quatro refeições diárias, participam de oficinas socioeducativas, como corte e costura, artesanato e mecânica, momentos de conversa, atendimento psicoterápico e práticas recreativas, como esportes, cinema e aulas de música.
“A dependência química é um quadro clínico grave, e na adolescência tem impacto muito maior. Essa comunidade oferta a possibilidade de capacitação dos acolhidos para que eles possam receber um treinamento em várias áreas profissionais. Isso com certeza ajuda essas pessoas no processo de ressocialização”, disse Quirino Cordeiro.
Financiamento e suporte
A Casa Lar Adonai é referência não só no cronograma de atividades da comunidade terapêutica, mas no bom relacionamento com outros órgãos de cuidado à criança e ao adolescente. Assim que os jovens se internam, é enviada notificação ao Centro de Referência da Assistência Social (CRAS) do município, para cuidados com documentação e necessidades da família do jovem. O Centro de Referência Especializado da Assistência Social (CREAS) e o Conselho Tutelar também são acionados.
Outra parceria importante é com a Secretaria de Educação municipal. Existe uma escola dentro do espaço e, dessa forma, os adolescentes não são prejudicados na formação escolar, pois continuam estudando.
“O investimento do Governo Federal no tratamento em comunidades terapêuticas como a Adonai mostra preocupação não apenas com o dependente de substância psicoativa, mas com a sociedade como um todo”, afirmou o diretor de programa da Secretaria Especial de Desenvolvimento, Saulo Duarte, após a apresentação de uma música pelos jovens, que cantaram e tocaram violão. Durante a visita da comitiva, alguns adolescentes praticavam xadrez, outros trabalhavam em serviços de costura enquanto outros jogavam futebol.
“As políticas de cuidados e prevenção às drogas promovem desenvolvimento social em todos os âmbitos. Entendemos que o dependente reabilitado se transforma em agente de ressocialização, tendo em vista que sua história tem potencial de influenciar positivamente outros à sua volta”, completou Saulo.
Quirino destacou ainda outro importante ponto: as reuniões familiares, que ocorrem no intuito de ensinar aos responsáveis as melhores maneiras de lidar com situações de uso e abuso de drogas pelos adolescentes. “No processo da dependência química, esse contato com as famílias é essencial, pois os vínculos ficam muito desgastados”.
Acolhimento e respeito ao ECA
Em julho de 2020, o Conselho Nacional de Políticas Sobre Drogas (Conad) regulamentou o acolhimento de jovens com idade entre 12 e 18 anos incompletos em comunidades terapêuticas. O documento aprovado prevê a adesão de maneira voluntária e com autorização prévia, por escrito, de um dos pais ou responsável legal. São acolhidos adolescentes que façam uso, abuso ou estejam dependentes de álcool e outras drogas, e tenham a necessidade de proteção e apoio social, sendo previamente avaliados pela rede de saúde e pela equipe multidisciplinar e multissetorial. Todas as garantias previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) devem ser respeitadas nas comunidades.
A Nova Política Nacional de Drogas, reformulada em 2019, tem como premissa focar nas ações de prevenção ao uso de drogas, no combate ao tráfico, no tratamento voluntário e na reinserção desse público na sociedade. As comunidades terapêuticas são fundamentais nesse processo. Elas acolhem pessoas que querem se livrar do vício, utilizando como tratamento atividades recreativas e laborais, como oficinas que ensinam práticas para auxiliarem a pessoa a retornar ao mercado de trabalho. A prática de esporte também está presente no cotidiano das comunidades, assim como o estímulo à criatividade e espiritualidade.
Foto: Mariana Popczyk / Min. Cidadania |
Energia canalizada
Segundo Maristela de Castro Jardim, fundadora e presidente do Conselho Superior da Casa Lar Adonai, um dos segredos do trabalho é canalizar a energia dos adolescentes para mantê-los ocupados o tempo todo.
A escola, a parte ocupacional, o esporte e as oficinas onde eles aprendem uma profissão funcionam de forma integrada. Além disso, temos a criação dos animais, que considero o espaço de melhor poder pedagógico. Além de os meninos gostarem muito, os adolescentes aprendem com a mansidão e docilidade dos animais”
Maristela de Castro Jardim, fundadora e presidente do Conselho Superior da Casa Lar Adonai
“A escola, a parte ocupacional, o esporte e as oficinas onde eles aprendem uma profissão funcionam de forma integrada. Além disso, temos a criação dos animais, que considero o espaço de melhor poder pedagógico. Além de os meninos gostarem muito, os adolescentes aprendem com a mansidão e docilidade dos animais”.
No cotidiano, os adolescentes cuidam da horta, do jardim e os animais recebem carinho especial. O espaço conta com cavalos, vacas, cabras, tartarugas, além de galinhas, pavões e araras. “Sem a ajuda do financiamento Federal seria problemático manter essa estrutura. Nós, como entidade filantrópica, precisamos de ajuda. É o que temos para a manutenção de todos os adolescentes na Terra Fértil”, disse Maristela.
Das ruas ao diploma
Francisco (nome fictício) é um dos exemplos do resultado do processo de ressocialização. Ele se internou na Terra Fértil quando era adolescente, passou por todo o processo de reconstrução de vínculos afetivos, psicológicos e sociais, se formou no Ensino Médio, fez faculdade de Serviço Social e de Direito e hoje trabalha na Terra Fértil.
“Eu morava na rua até que decidi me internar. Tinha idade para ir para a quinta série, mas era analfabeto funcional. Fiquei uns dois anos em tratamento. Fiz cursos de pintura, aula de violão e bateria, coral, artesanato, metalurgia e capoeira. Depois dessa minha caminhada, decidi voltar aqui porque me senti compelido a retribuir um pouco do amor e das oportunidades que recebi”.
Também estiveram presentes na visita o diretor do Departamento de Articulação e Projetos Estratégicos da SENAPRED, Eduardo Cabral, o assessor do MMFDH Francisco Nascimento e os assessores do MMFDH Danilo Machado e João Lança.
Diretoria de Comunicação – Ministério da Cidadania