Notícias
DESENVOLVIMENTO REGIONAL
Rotas de Integração Nacional fortalecem e desenvolvem cadeias produtivas na Região Norte
Para Eunice Gutzeit, filha de pioneiro cacauicultor na Região Norte, a criação da Rota do Cacau foi fundamental para a busca de soluções eficazes para o setor. (Fotos: Arquivo Pessoal)
Brasília (DF) – Do cacau ao açaí. Muitas são as riquezas que a Região Norte do País tem a oferecer. Para desenvolver esses atrativos e fortalecer as cadeias produtivas, as Rotas de Integração Nacional, projeto da Secretaria Nacional de Políticas de Desenvolvimento Regional e Territorial (SDR) do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR), atuam conectando comunidades e produtores rurais a novos mercados, considerando o potencial de cada estado.
“O projeto gera oportunidades de emprego, renda, inclusão social e ainda promove integração territorial”, explica a secretária de Desenvolvimento Regional, Adriana Melo. Atualmente, sete rotas funcionam em toda a região. São elas: Açaí, no Pará e Amapá; Biodiversidade, no Amapá e Amazonas; Pescado, em Roraima e Amapá; Mel, no Pará; Cacau, em Roraima e Pará; Economia Circular, no Amapá, e Tecnologia, Informação e Comunicação, também no Amapá. Essas redes de arranjos produtivos são capazes de promover a inclusão produtiva e o desenvolvimento sustentável das regiões brasileiras priorizadas pela Política Nacional de Desenvolvimento Regional (PNDR).
Em agosto de 2023, o programa foi atualizado para dar ênfase nas ações com foco em sustentabilidade e inovação e na inserção de mulheres e jovens no processo produtivo. Outra inovação foi o incentivo à criação de startups e a busca por parcerias com universidades e institutos de ensino e pesquisa de forma a encontrar soluções mais eficientes para as necessidades de cada arranjo produtivo local.
Rota do Açaí
Fruto originário da Amazônia que, nas últimas décadas, se popularizou no País e ganhou mercado no exterior não apenas pelos atributos nutricionais, mas também pelo sabor forte, o açaí costuma ser consumido em polpa congelada, vinho, outras bebidas ou cápsulas como complemento alimentar. Seus frutos, geralmente, são obtidos por meio do extrativismo, atividade típica da agricultura familiar ribeirinha.
Levando em consideração a relevância do produto, bem como a capacidade de gerar emprego e renda, pois a cadeia produtiva envolve desde pequenos produtores até indústrias processadoras, o MIDR atua impulsionando esse potencial, ampliando a capacidade de atendimento aos mercados interno e externo e gerando emprego e renda. “A Rota do Açaí foi fundamental para o fortalecimento e desenvolvimento da cadeia produtiva do açaí na nossa região e, principalmente, para a verticalização da cadeia do açaí por meio da nossa cooperativa”, afirma o atual presidente da Cooperativa Amazonbai, Amiraldo Picanço.
Segundo ele, a empresa deu um salto no número de sócios cooperados. Atualmente, são mais de quatro mil hectares de áreas certificadas, manejadas de forma sustentável por dois mil produtores. “Esse é um momento histórico para nós”, acrescenta Amiraldo. De acordo com o Censo Agropecuário, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2017 e publicado em 2019, o estado do Pará foi responsável pela produção de 242 mil toneladas de açaí em 35,4 mil estabelecimentos rurais, o que o colocou como maior produtor do fruto no País, com 60% da produção nacional.
“A humanidade está passando por vários problemas ambientais, principalmente na região da Amazônia, e a Amazonbai vem, com o apoio do ministério, fazendo um trabalho diferenciado para trazer desenvolvimento econômico e sustentável para a região, sem degradar o meio ambiente e sem desmatar nossas florestas”, ressalta Amiraldo. “De fato, isso está gerando um impacto muito grande de desenvolvimento e de crescimento socioeconômico dentro da nossa região”, finaliza.
No caso do açaí, o programa Rotas traz inovação e transforma o fruto por inteiro em fonte de renda. Desde as raízes, que, quando novas, podem ser usadas como chá vermífugo, até a palha utilizada como telhado de casas de ribeirinhos, a cadeia do açaí é formada por um sistema integrado, constituído de atores interdependentes e por uma sucessão de processos de educação, pesquisa, manejo, produção, beneficiamento, distribuição, comercialização e consumo de produtos e serviços.
Rota do Cacau
As Rotas de Integração Nacional promovem a coordenação de ações públicas e privadas em polos selecionados, mediante o compartilhamento de informações e o aproveitamento de sinergias coletivas visando propiciar a inovação, a competitividade e a sustentabilidade dos empreendimentos associados. “Esse programa é fundamental para garantir que o desenvolvimento chegue a todos os cantos do País, respeitando a diversidade e as potencialidades da região", destaca a secretária Adriana.
Filha de pioneiro cacauicultor na Região Norte, Eunice Gutzeit conta que a criação da Rota do Cacau foi fundamental para a busca de soluções eficazes para o setor. “Essa é uma região que, por vezes, esteve à margem das políticas governamentais. A lentidão burocrática e a falta de infraestrutura impediam o progresso desejado. Nós, que cultivamos a cacauicultura, somos os verdadeiros guardiões da floresta. Nosso trabalho não apenas integra a produção do cacau ao bioma local, mas também promove um desenvolvimento sustentável”, conta a produtora.
Desde 2018, Eunice faz parte do comitê da Rota do Cacau, elo importante de interação entre diversas instituições. “A criação da rota nos permitiu atender às demandas de Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER), fortalecer as pesquisas e promover unidades demonstrativas nas propriedades de agricultores nos municípios”, destaca.
A cadeia produtiva do cacau e do chocolate é estratégica para o desenvolvimento regional pelo grande número de ocupações e postos de trabalho gerados pelo setor. Ela é composta por produtores, transportadores, comerciantes – em atacado e varejo – e beneficiamento (artesanal e industrial). A Rota do Cacau no Pará representa um esforço conjunto dos membros da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam), cooperativas de produtores e MIDR em parceria com o Comitê Gestor do Polo Transamazônica da Rota do Cacau.
Rota da Biodiversidade
Na Rota da Biodiversidade, todo potencial da Amazônia é considerado. Nela, a missão é estimular o desenvolvimento econômico, social e sustentável das regiões a partir da estruturação da cadeia produtiva de fitomedicamentos, fitoterápicos, fitocosméticos e alimentos nutracêuticos. “As rotas promovem a valorização da biodiversidade ao mesmo tempo que viabilizam a circulação de produtos com alto valor agregado, contribuindo para o crescimento econômico sustentável e alinhado com as especificidades regionais”, explica a secretária Adriana.
O diretor-presidente da Cooperativa Mista dos Produtores Extrativistas do Rio Iratapuru (Comaru), Bruno Dutra de Freitas, explica que, apesar de ser uma rota nova e ter pouca experiência com ela, é possível sentir os efeitos positivos do projeto no setor. “Eu entendo que o programa Rotas é uma grande oportunidade para as organizações de base comunitária trabalharem a cadeia produtiva de seus produtos”, avalia o empresário.
Atualmente, existem dois polos na Região Norte. O Bioamazonas, que reúne profissionais de 13 localidades do Amazonas, e um no Amapá. Assim como as demais, a Rota da Biodiversidade também promove atividade estratégica para o desenvolvimento regional com grande potencial de geração de emprego e renda para as populações tradicionais.
Rota do pescado
Entre as mais recentes, a Rota do Pescado tem como objetivo profissionalizar a cadeia produtiva do pescado integrando os subsistemas de insumos, produção, processamento e comercialização por meio da criação de sistemas agroindustriais integrados. “Estamos trabalhando no diagnóstico da pesca e da agricultura no Amapá. Foi licitado pelo MIDR e a equipe está trabalhando há mais de um mês. Até o momento, fizeram Oiapoque, Calsoenia, Ferreira Gomes e, agora, vão para Pracuúba”, explica o secretário da Pesca e Aquicultura do Amapá, Paulo Nogueira.
Segundo ele, a intenção é fazer o levantamento de todos os 16 municípios do estado. “Estamos trabalhando junto à rota Distrito Pesqueiro, que vai nos dar dados para a pesca no Amapá ser uma realidade no mapa nacional”, disse o secretário. “Ainda não aparecemos como um estado que tem a pesca como atividade forte e, por isso, não temos dados. A rota tem se mostrado muito importante para nos nortear em relação às políticas públicas que serão feitas com todos esses atores, principalmente aqueles que precisam ser alcançados por ela”, acrescenta.
Rota do Mel
Também no Pará, a Rota do Mel apresenta grande potencial para gerar renda e encadeamento produtivo. A apicultura, se desenvolvida de forma segurada, pode ser um grande mecanismo de promoção econômico-social de diversos segmentos da população rural.
O MIDR, por meio do programa Rotas, tem fomentado a produção de mel pelo Brasil com o objetivo de estimular o empreendedorismo, o cooperativismo e a inclusão produtiva. Dessa forma, é possível viabilizar que os produtores trabalhem em conjunto, ganhem escala e possam comercializar com outras localidades, estados e até países.
Desde a criação da Rota do Mel, o MIDR investiu mais de R$ 13,7 milhões na estruturação da cadeia da apicultura (abelhas apis mellifera) e da meliponicultura (abelhas nativas sem ferrão) em oito estados do País. Foram beneficiados mais de 2,3 mil produtores, responsáveis por cerca de 24,1 mil toneladas anuais de mel e derivados, como própolis, pólen, cera de abelha e geleia real.
A secretária Adriana Melo destaca que as cadeias da apicultura e da meliponicultura são altamente inclusivas, pois trabalham com a perspectiva de gênero. “Diversas comunidades lideradas por mulheres têm protagonismo no desenvolvimento desse setor produtivo no País. É uma cadeia que também envolve o componente da sustentabilidade devido à polinização, que é feita pelas abelhas nos diversos biomas onde essa rota se desenvolve”, afirma. “A Rota do Mel está fortemente ligada a outros setores produtivos e envolve diversos polos na Amazônia, Caatinga e estados do Sudeste e Sul. Portanto, integra a Rota da Integração Nacional de fato, pois leva a qualidade do mel do nosso País para o mundo”, completa.
Rota da Economia Circular
Com o compromisso de alcançar padrões sustentáveis de desenvolvimento, a Rota da Economia Circular chega com a missão de ir contra o modelo econômico linear de produção-consumo-descarte. No Brasil, são identificadas várias oportunidades de novos modelos de negócios, com geração de investimento e emprego nos setores de design e recuperação de materiais (engenharia reversa, reciclagem, reutilização e remanufatura).
A Rota da Economia Circular foi estruturada com a justificativa de criar alternativas sustentáveis de gestão e encaminhamento produtivo de resíduos, promovendo a inclusão produtiva e o desenvolvimento regional a partir do seu aproveitamento econômico.
A Coordenação Geral de Sistemas Produtivos e Inovadores (CGPI) definiu como segmentos de atuação da rota, inclusive no suporte ao desenvolvimento de funcionalidades para Cidades Inteligentes, conforme iniciativa sob a coordenação do MIDR em parceria com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e Ministério das Comunicações (MCom):
a) Recuperação dos resíduos sólidos por intermédio do fortalecimento da cadeia produtiva da reciclagem, com a reutilização, regeneração e transformação de resíduos sólidos;
b) Desenvolvimento, difusão e gestão das energias renováveis (eólica, biomassa, fotovoltaica, heliotérmica, térmica) para o desenvolvimento regional e urbano;
c) Desenvolvimento e implantação de tecnologias para otimização do uso dos recursos hídricos (reutilização de água, dessalinização, osmose reversa).
Rota da Tecnologia, Informação e Comunicação
Com olhar voltado para a tecnologia, a Rota da TIC busca estruturar uma rede de polos de TICs capazes de alavancar o desenvolvimento de cadeias produtivas regionais e contribuir para a estruturação de uma rede de cidades inteligentes (smartcities).
Segundo o coordenador-geral do Programa Rotas de Integração Nacional, Tiago Araújo, essa rota tem sido importante para dinamizar a economia da região. “O mercado está mais evoluído. Temos diversas ações sendo bem executadas, com muitos casos de sucesso. Há, por exemplo, startups que surgiram com a proposta da Rota da TIC e, hoje, são empresas”, afirma.
Em 2022, a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), vinculada à SDR, destinou cerca de R$ 6 milhões, por meio de subvenção econômica, para apoiar 11 startups que integram o projeto Centelha II, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).
Atualmente, o Brasil soma 77 polos e 13 rotas. São elas: Mel, Açaí, Leite, Fruticultura, Moda, Cacau, Biodiversidade, Economia Circular, Pescado, Cordeiro, Tecnologia da Informação, Mandioca e Avicultura Caipira.
Outras notícias:
MIDR reconhece a situação de emergência em 22 cidades do Nordeste
Ministro Waldez Góes defende mais diálogo entre governos no combate à seca extrema
Um passo importante para a governança e distribuição da água no Brasil