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Emoção marca entrega de acervo da Comissão Nacional da Verdade ao Arquivo Nacional
"A ditadura passa, mas o sofrimento jamais passa. A ditadura não sai de nós. Ela sai do País, mas não nos deixa. É uma fissura que jamais se fecha. Contá-la, recontá-la é uma missão que jamais se esgota". Foi assim que Hildegard Angel, irmã do desaparecido Stuart Edgard Angel e filha de Zuzu Angel, resumiu a entrega oficial do acervo da Comissão Nacional da Verdade (CNV) ao Arquivo Nacional, nesta sexta-feira (24), no Rio de Janeiro. Hildegard se emocionou ao agradecer o trabalho da Comissão, que fez investigações, reuniu documentos e depoimentos sobre a ditadura e as pessoas que foram torturadas e mortas durante o regime. "Temos a obrigação cotidiana de recontar essa história para que ela não caia no esquecimento", complementou.
O ministro da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Pepe Vargas, que assinou a portaria interministerial que declara o recebimento pelo poder executivo federal do relatório da Comissão, disse que o Estado brasileiro deve desculpas aos familiares das vítimas da ditadura. Acrescentou ainda que existe um dever de divulgar amplamente o que aconteceu naquele período. "É fundamental que o povo brasileiro conheça sua história. Em uma época em que a gente infelizmente assiste a situações de pessoas que saem às ruas para pedir a volta da ditadura, um trabalho como esse é fundamental", disse o ministro.
O relatório e arquivo multimídia da CNV contêm registros de graves violações de direitos humanos cometidas durante a ditadura militar no Brasil. O material reúne documentos, testemunhos de vítimas e familiares, depoimentos de agentes da repressão política, 47 mil fotografias, vídeos de audiências públicas, diligências e depoimentos, laudos periciais, croquis e plantas de instalações militares e livros.
A CNV, que investigou as violações entre maio de 2012 e dezembro de 2014, recebeu documentos de comissões da verdade estaduais, municipais e setoriais, arquivos de familiares de vítimas da ditadura e documentos oriundos da cooperação com governos de países como Argentina, Alemanha, Chile, Estados Unidos e Uruguai.
O conselheiro da CNV Pedro Dallari lembrou que todo esse conteúdo está aberto para toda a população no site da Comissão. "Cada diligência, cada visita, cada depoimento foi filmado e está disponível para quem quiser acessar. Todas as notícias, desde a criação da comissão também estão aqui. Esse site passa a ser guardado pelo Arquivo Nacional", disse.
O ministro Pepe Vargas ressaltou que esse trabalho ainda terá novos desdobramentos: "é extremamente importante o Estado brasileiro continuar investigando as violações aos direitos humanos. Quer seja pelo trabalho da comissão de anistia, quer seja pelo trabalho da comissão sobre mortos e desaparecidos políticos, continuaremos com esse trabalho doloroso mas necessário de identificação dos ossos, como o caso da Ossada de Perus", concluiu o ministro.