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SDH participa de audiência pública sobre diversidade religiosa e laicidade do estado
A Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara realizou, nesta quarta-feira (19), audiência pública com representantes do poder público e de várias crenças para promover o diálogo inter-religioso e debater a liberdade religiosa e o Estado laico no Brasil.
Participaram como expositoras lideranças ligadas a igrejas Cristãs e ao Candomblé, além do coordenador da Assessoria de Diversidade Religiosa e Direitos Humanos da SDH/PR, Alexandre Brasil Fonseca. Fonseca citou algumas das ações da secretaria para garantir o respeito às diferenças de crença, à liberdade de culto e à laicidade do Estado: fortalecimento dos comitês e fóruns estaduais de diversidade religiosa, campanhas contra a intolerância religiosa, inclusive por meio de cartilhas e livros; e popularização do Disque 100 como instrumento de denúncia.
O Disque 100 registrou 543 denúncias de violações de direitos por discriminação religiosa entre 2011 e 2014. Desse total, 216 casos tiveram informação sobre a religião da vítima: 35% candomblé e umbanda, 27% evangélicos, 12% espíritas, 10% católicos, 4% ateus, 3% judaicos, 2% islâmicos e 7% outras.
Para ilustrar a crescente violência contra os cultos afros, a líder do candomblé no Pará e conselheira do Comitê Nacional de Respeito à Diversidade Religiosa da SDH/PR, Oneide Rodrigues, mais conhecida como Mam'etu Nangetu, citou o caso da menina Kayllane Campos, de 11 anos, apedrejada, na zona norte do Rio, quando voltava para casa com roupas típicas do candomblé. Mam'etu Nangetu fez um apelo dramático por paz e respeito.
"O ódio religioso a cada dia cresce mais. Estamos vendo pessoas invadirem os nossos terreiros e destruírem o nosso sagrado. Então, eu vim pedir socorro pelo meu povo. Tem que se dar um basta nisso. Nós temos que fazer campanha e todas as religiões se unirem para que o povo veja que nós só cultuamos um Deus diferente, mas nós somos todos iguais. Nós somos humanos e merecemos respeito", declarou.
Vítimas de intolerância
Líderes evangélicos também afirmaram que os seguidores da religião são vítimas históricas de intolerância no país, resultante de resistências da maioria esmagadoramente católica da população, até o fim do século passado. Em nome dos evangélicos, o senador Marcelo Crivella (PRB-RJ) atribuiu os casos de intolerância religiosa a fanatismos.
"Nós, evangélicos, talvez tenhamos episódios a lamentar por parte de certos segmentos que, no afã de defender seus ideais e a fé, esbarram no fanatismo. Mas não se pode, de maneira nenhuma, sob pena de cometermos uma injustiça histórica, generalizarmos isso. Na sua imensa maioria, o povo evangélico é um povo tolerante, pacífico e amoroso sem arredar um milímetro de suas convicções", disse o senador.
O encontro também contou com religiosos católicos e anglicanos. O bispo anglicano e presidente do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (Conic), dom Flávio Irala, defendeu o Estado laico e afirmou que toda forma de intolerância e discriminação atinge a dignidade humana. "Sou anglicano e busco a inclusividade. Para nós, a diferença é uma bênção", declarou.
Já o escritor, teólogo e monge católico beneditino Marcelo Barros reconheceu "erros históricos" da Igreja Católica, que, segundo ele, "foi uma das religiões mais intolerantes, durante séculos".
Ao fazer essa espécie de autocrítica, ele lamentou que alguns seguidores de grupos pentecostais mantenham hoje discursos discriminatórios, sobretudo contra cultos afros. "As igrejas dominantes têm dívidas históricas. A religião surgiu para ser instrumento de amor universal e não tem a ver com intolerância, discriminação e crueldade", disse Barros.
Ele defendeu ainda o Estado laico como "um bem, uma dádiva; seria muito ruim se o Brasil fosse só católico".
Com informações da Agência Câmara de Notícias
Assessoria de Comunicação Social