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Presidente do Olodum participa de debate na CPI da Violência contra Jovens Negros
O presidente do Olodum afirmou que apesar de constituírem uma população de 105 milhões de pessoas, os afro-brasileiros são invisíveis em várias áreas da sociedade, como na mídia e também nos altos postos dos governos. Durante a audiência pública, ele deu como exemplo o caso de uma representação diplomática brasileira que visitou um país africano sem nenhum representante negro. “Parecia uma delegação escandinava”, ironizou.
Santos procurou também desmistificar as leis abolicionistas e afirmou que, mesmo nos anos 2000, o Brasil ainda convive com a escravidão e criticou a Polícia Militar pela maneira violenta com que age diante dos negros, resultando em casos como o assassinato de 12 pessoas na favela da Cabula, em Salvador, e outros emblemáticos ocorridos no Rio de Janeiro – a tortura e assassinato do pedreiro Amarildo Dias de Souza e a morte de Cláudia da Silva Ferreira, baleada após uma operação da polícia carioca e arrastada por 250 metros por um carro da polícia. O presidente do Olodum fez ainda um discurso contrário à redução da maioridade penal de 18 anos para 16 anos. “Querem reverter a questão da maioridade para a pré-história da humanidade”, ressaltou. E finalizou sua apresentação inicial à CPI mostrando um vídeo com a música “Samba Rap”, que o grupo fez em 1994 para denunciar a violência e as carências de políticas e serviços públicos dos negros.
Já o professor da UFSCAR, Valter Roberto Silvério, afirmou que o Brasil vive um racismo institucional, com implicações no grande número de negros mortos. Segundo Silvério, a população negra é carente de políticas e serviços públicos, o que gera um quadro de desvantagem ocupacional, marcada pelo fato de essa população ocupar as piores posições, seja no mercado de trabalho, com baixa remuneração; na moradia, já que os negros ocupam principalmente as regiões periféricas, desprovidas de bons equipamentos urbanos; ou nas condições educacionais.
O professor citou dados do Censo de 2010 para mostrar que 55,4% das crianças de 4 a 5 anos que estão fora da escola são negros. Na faixa etária de 15 a 17 anos, esse índice sobe para 61,2%. De acordo com Silvério, esses dados têm reflexo direto no quadro de guerra civil que se verifica no país em relação à população negra, em que o número de mortos chega a ser de 4 para 1 em relação aos brancos na faixa etária de 15 a 22 anos.
A CPI investiga o que motiva e quais os custos econômicos e sociais do aumento de mortes e desaparecimentos de jovens negros. Segundo informações do "Mapa da Violência 2014: Os jovens do Brasil", os homicídios são hoje a principal causa de morte de jovens de 15 a 29 anos e atingem especialmente jovens negros do sexo masculino, moradores das periferias e áreas metropolitanas dos centros urbanos. Em 2012, dos 56.337 mortos por homicídios no Brasil, 53,37% eram jovens. Destes, 77% eram negros (assim considerados a soma de pretos e pardos) e 93,3% eram homens. O estudo mostra também que, de 2002 a 2012, o número de homicídios de jovens brancos caiu 32,3%, e de jovens negros aumentou 32,4%.
A Comissão realiza audiências públicas todas as terças e quintas-feiras, na Câmara dos Deputados, em Brasília, e às segundas-feiras os integrantes se deslocam para os diversos estados, onde acontecem as audiências e diligências que estão subsidiando o trabalho da CPI. Para estimular a participação da sociedade na discussão do tema, foi criada uma comunidade virtual por meio da página edemocracia.camara.leg.br.