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IV CONAPIR, estrutura elogiada e renovação no movimento
A IV Conferência Nacional da Igualdade Racial (CONAPIR) foi a que teve a melhor estrutura e organização entre todas as edições realizadas. Esta foi a opinião da maioria dos (as) participantes, entre delegados(as), observadores(as) e expositores(as). Outro diferencial desta Conferência foi a renovação, com muitos (as) delegados (as) com atuação recente no movimento social.
Era por volta das 8h30 da manhã do dia 28 de maio, segunda-feira, quando os (as) primeiros (as) delegados(as) da IV CONAPIR começaram a chegar ao Centro Internacional de Convenções de Brasília (CICB). Enquanto as várias frentes da organização do evento (segurança, apoio, recepção, etc.) terminavam seus últimos ajustes, as pessoas transitavam pelas áreas do primeiro piso do espaço que abrigaria mais de mil pessoas (entre delegados (as), convidados (as), palestrantes e pessoal de apoio) pelos próximos três dias.
Poucos minutos depois dava-se início ao credenciamento e o espaço já tinha se transformado num grande formigueiro humano, com a chegada de mais de 600 dos (as) cerca de 800 delegados(as) esperados(as). Em seguida, o animado Grupo União de Capoeira do Distrito Federal apareceu tocando berimbaus e pandeiros, cantando e dançando para recepcionar as delegações.
Carisma de Nelson Mandela
No “túnel” de entrada, passadiço que dava acesso ao evento, fotos de ícones da luta pela igualdade racial no Brasil e no mundo desejavam boas-vindas aos participantes. No saguão principal, à esquerda, um grande painel com a foto de um Nelson Mandela sorridente e esbanjando carisma se tornou um dos lugares mais frequentados. Era ali que aconteciam entrevistas de TVs e onde os participantes tiravam fotos e selfies.
Também no saguão de entrada, um pequeno e iluminado palco serviu para etnias mostrarem um pouco de sua cultura e música. Ali chamaram a atenção o Hino Nacional cantado todas as manhãs pelo cacique Paykan, um dos líderes das etnias Kayagan, Yeta e Guarany no estado do Paraná. Cantor e compositor admirado por seus “parentes”, o cacique Paykan, além do Hino Nacional, também cantava o Hino dos Povos Indígenas em línguas nativas.
Outro que deu o tom da festa foi o cigano Carlos Calon, cantor e compositor. Ele apresentou um vasto repertório de músicas ciganas e trouxe um esclarecimento aos desavisados: boa parte das músicas latinas que fazem sucesso na boca de cantores famosos mundo afora são parte do folclore cigano. Também chamou atenção a dança cigana, tendo na graciosa Zingara Piemonte, filha do Carlos, uma de suas mais marcantes expressões.
A organização impecável do evento chamou a atenção dos participantes pelos simples detalhes e sofisticações. Desde os totens com tomadas para carregamento de baterias de celulares, passando pela qualidade do almoço no amplo e agradável restaurante do CICB, até as estruturas e apoios nos grupos de trabalho e no grande auditório onde ocorreram a abertura, as palestras e a plenária final. “Tudo funcionou perfeitamente. Foi a melhor de todas as conferências”, certificou Lucimar Alves Martins, do Centro de Referência do Negro (Cernegro) e membro com Conselho do Negro do Distrito Federal.
Sangue novo na militância
Para alguns participantes, a renovação significa a inserção de novas lideranças nos movimentos de luta pela igualdade racial em todo o Brasil. Luzia Nascimento, presidente da União dos Negros pela Igualdade (Unegro) em Rondonópolis, Mato Grosso, também considera importante a renovação das lideranças dos movimentos pela igualdade racial. “E isto ajuda na formação dessas novas lideranças”, afirmou, se referindo à participação de delegados com pouca experiência em conferências “e outros foros de debates”. Simone Mendes, liderança de Belém do Pará, também tem a mesma avaliação. “A Conferência foi ótima. Uma organização impecável e uma participação renovada”, acrescentou.
Sua amiga Nodozoidè faz análise semelhante. “Foi uma Conferência politizada, embora boa parte dos delegados, percebe-se claramente, são novos no movimento. A politização foi refletida nas posições políticas claras dos diversos grupos étnicos e segmentos, mas sobre as questões específicas do movimento, faltou um debate mais radical”, pontuou.
Feira de afro-empreendedores(as)
Para além dos debates de conteúdo político-ideológico, a Conferência trouxe a oportunidade para empreendedores(as) negros(as) e muita arte e literatura. Estandes expuseram o artesanato e moda afro-brasileira, livros e material informativo, com a presença do Ministério dos Direitos Humanos (MDH), da Fundação Nacional do Índios (Funai) e outros espaços organizados pela coordenação da IV CONAPIR.
O Ógan Luiz Alves, repórter-fotográfico e assessor do Ministério dos Direitos Humanos, preferiu se expressar na Conferência com sua arte fotográfica. Há muitos anos ele reporta imagens do cotidiano dos templos e sacerdotes das religiões de matrizes africana e ameríndia. Como assessor da Câmara dos Deputados, há cerca de dez anos atrás, ele acompanhou a CPI do Sistema Carcerário e retratou os horrores das prisões brasileiras. Na Conapir ele compareceu para fotografar, mas também para mostrar a exposição Ará Aiyê – Corpos da Vida, uma colagem de várias fotografias exibidas num amplo aparelho de TV. “Aqui eu retratei o cotidiano das comunidades tradicionais de matriz africana”, disse.
Maria Joana, uma das expositoras, lamentou não ter podido participar dos debates da Conferência, mas disse ter ficado muito feliz pela organização do evento. “Tudo funcionou muito direitinho, sem nenhuma falha. Quanto a nós expositores, não temos o que reclamar. Tudo esteve muito organizado aqui, desde o formato dos estandes até o espaço em que ficamos, muito próximo da movimentação dos participantes, o que favoreceu muito as vendas”, acrescentou.
Leiza Oliveira, outra expositora, considerou que o evento superou todas as suas expectativas. Embora não tenha feito as vendas que desejava, afirmou que a feira da IV CONAPIR deu oportunidades para os afro-empreendedores e valorizou o trabalho de todos. “Foi um evento muito legal. Gostei muito de participar e com certeza estarei presente nas próximas, esperando comercializar melhor meus artesanatos”, afirmou a artesã, que mora na Asa Norte, em Brasília.