Notícias
Esporte
Brasil sedia primeira edição dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas
Foto: Ministério do Esporte - JMPI2015
A primeira edição do s Jogos Mundiais dos Povos Indígenas 2015 (JMPI) ocorrerá de 23 de outubro a 1º de novembro, em Palmas-TO. Com o tema “Em 2015, somos todos indígenas”, boa parte será composta pelos esportes indígenas, que se dividem em jogos tradicionais demonstrativos ou jogos nativos de integração – particulares de cada povo ou praticados e disputados por integrantes da própria etnia, como corrida de tora, arremesso de força, tiro de arco e flecha; e pelos esportes ocidentais competitivos, tendo o futebol como destaque, nas categorias feminina e masculina.
Paralelamente às atividades esportivas, ocorrerá também o Fórum Social Indígena e um grande número de atividades culturais. Ao todo, são esperados mais de dois mil atletas de 30 países.
Além dos brasileiros, até o momento estão confirmadas as presenças de participantes da Argentina, Austrália, Canadá, Chile, Colômbia, Congo – Brazzaville, Costa Rica, Equador, Estados Unidos, Etiópia, Paraguaia, Guatemala, Guiana Francesa, México, Nicarágua, Nova Zelândia, Panamá, Peru, Rússia, Uruguai, Venezuela e Mongólia.
Em entrevista ao site da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), Marcos Terena, articulador dos Jogos Mundiais, afirma que a promoção da igualdade racial é um dos objetivos do evento. Confira:
Qual o principal objetivo d os Jogos Mundiais dos Povos Indígenas?
É um sonho do índio brasileiro, a gente pode até dizer que é um sonho espiritual, diante de tantos massacres ao longo dos 500 anos, a gente poder mostrar para o mundo que não existe mágoa pelo passado, mas que nós podemos mostrar que os nossos valores foram mantidos graças à articulação de vários líderes, dos pensadores indígenas.
Na questão dos jogos, queremos mostrar os valores da qualidade física indígena, os valores culturais, e também os valores de uma esperança de um futuro melhor.
Quantos participantes estão sendo esperados, e quantos países devem participar?
Esse é um evento inédito na história do mundo. Cada povo tem a sua forma de manifestar os jogos tradicionais de identidade, jogos tradicionais de competição, arco e flecha, a travessia de rios, canoagem, e participam homens e mulheres. Isso fez com que a gente buscasse construir aquilo que a gente chama de geografia indígena mundial, com países da África, Ásia, Pacífico, Europa e também os países das três Américas.
Dentro do plano de trabalho que estamos fazendo com o Ministério do Esporte, pretendemos reunir, entre índios brasileiros e estrangeiros, 2.200 indígenas neste primeiro evento. Nós temos 1.100 vagas para brasileiros e 1.100 para estrangeiros, sendo que cada país tem direito de trazer 50 pessoas, no total de 22 países. Como o Brasil é um país caro, muitos deles provavelmente não vão atingir o número de 50 pessoas. Então abre uma brecha para outros países que estão aguardando, para que possam ocupar os lugares que vão sobrar.
O senhor falou que da África vêm atletas do Congo e Etiópia. Que outros países devem vir?
Mongólia; Filipinas; Austrália; Nova Zelândia; todos os países da América, desde o Paraguai até o Canadá, na América do Norte; e da Guiana Francesa também, que é uma colônia da França. Bolívia, Peru, Equador, Chile, Argentina... todos eles vêm.
E quais as modalidades? Já são definidas ou cada povo define a modalidade que vai trazer?
Um dos patamares seria o de jogos tradicionais de identidade, com o esporte que só aquela comunidade indígena pratica. A outra etapa são os jogos tradicionais de competição, que todos os indígenas geralmente têm, por exemplo, o arco e flecha, tiro de lança; a natação em rios; canoagem; a corrida. São esportes que a gente chama jogos da natureza, esportes da natureza.
Tem também o terceiro, que a gente chama aqui no Brasil de jogos ocidentais como, por exemplo, o futebol masculino e feminino. Aí cada país vai apontar para nós, os organizadores, quais as modalidades que eles vão participar. Alguns já disseram que vão participar de todas. Outros estão estudando se conseguem, se tem flecheiros, se tem canoeiros. É um exercício muito bom, porque cada etnia está se organizando dentro da sua própria cultura.
O foco são os jogos, mas haverá também o Fórum Social Indígena e outras atividades. Quais?
Sim, o Fórum começa no dia 22 e termina no dia 30 de outubro, em todas as manhãs, durante os jogos. Neste evento, serão debatidos os direitos da mulher, os direitos humanos, a questão da diversidade indígena, e o respeito à diversidade étnica.
Vamos ter a feira de artesanato, que é uma cooperação que a gente está fazendo com o Sebrae, para que a feira não seja só o artesanato em si, mas com debates sobre o mercado internacional; o mercado brasileiro de artes, onde a arte indígena possa ser contemplada; e a geração de renda também.
E vamos ter outro espaço junto com o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), que se chama feira de produtos agrícolas das tradições indígenas. Para mostrar o que eles comem – a mandioca, o milho, as batatas, etc – e mostrar também que o MDA vai incrementar duas coisas. Uma, é a criação de um selo, que reconhece aquele produto indígena como produto saudável, algo assim; o outro, um fórum ao longo do Fórum Social Indígena, que vamos ter um dia com o MDA, para discutir a questão da segurança alimentar.
Qual a expectativa da organização para os jogos?
A expectativa é muito desafiadora. Nossa equipe, a equipe do comitê, é muito pequena, mas nós temos atrás de nós em torno de 40 chefes indígenas, que são o conselho dos jogos. Além disso, os líderes espirituais e as mulheres. Mas para operar isso nós não temos recursos, por isso buscamos as parcerias, apoio de instituições como o MDA, Ministério do Esporte, Ministério da Cultura, e a Seppir também. Então, isso estimula a gente a buscar essa nova etapa de afirmação dos povos.
Com isso, a gente vai fazendo a evolução da igualdade racial, seja perante a sociedade brasilei ra, a sociedade como um todo, e também dentro da política institucional dos governos. Nós também estamos empenhados, engajados, de fazer o convite ao presidente dos Estados Unidos, o Barack Obama, e também ao secretário-geral da ONU, Ban ki-Moon.