Notícias
Seppir lança Relatório Anual da Discriminação Racial no Futebol 2016, em parceria com o Ministério do Esporte
Criação de um Plano Nacional de Combate ao Racismo no Esporte, essa é uma das principais ações fruto do debate realizado nesta quarta-feira (22/11), no Lançamento do Relatório Anual da Discriminação Racial no Futebol 2016, em Brasília. O Plano previsto para iniciar em 2018, sob a coordenação técnica da Secretaria Nacional de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), pretende em parceria com instituições públicas e privadas de defesa do futebol, promover a articulação entre Confederação Brasileira de Futebol (CBF), dirigentes e atletas dos clubes e torcidas contra o racismo no futebol e aperfeiçoar as estratégias de enfrentamento a esse tipo de crime, definido na Lei 7.716/89.
A mesa de debates realizada no Ministério do Esporte contou com as presenças do Secretário Nacional de Futebol e Defesa dos Direitos do Torcedor, Gustavo Perrella; Secretário Nacional de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Juvenal Araújo; Silvia Cerqueira, conselheira do Conselho Nacional de Políticas de Igualdade Racial (CNPIR); Maurício Correia, representante da OAB/DF; Marcelo Coelho, representante do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, José Perdiz, representante do Superior Tribunal Justiça Desportiva do Futebol (STJD) e o Deputado Bispo Osséssio Silva, da Assembléia Legislativa de Pernambuco.
Também estiveram presentes ao debate o árbitro Márcio Chagas, vítima de ofensas raciais dentro de campo no Rio Grande do Sul, e os jogadores Fernando Armando dos Santos, Leonardo dos Santos e Fábio Guimarães da Silva, da Sociedade Esportiva do Gama.
Juvenal Araújo se mostrou muito emocionado ao relembrar a trajetória de lutas enfrentada por seu pai, jovem negro que nos anos 70 atuou como goleiro do Cruzeiro Esporte Clube. Ressaltou a importância do futebol como instrumento de transformação social principalmente para jovens negros atingidos pelo racismo e destacou algumas iniciativas que devem ser formalizadas a partir do lançamento do Relatório. “Precisamos atacar em três eixos: a profissionalização dos juízes por meio de uma capacitação sobre as diferenças entre racismo e injúria racial para que os casos ocorridos durante a partida sejam devidamente registrados na súmula. Um segundo foco é conscientização realizada com as torcidas, trabalho a ser desenvolvido junto a CBF e nosso terceiro foco será com os dirigentes de clubes para que possam se responsabilizar em combater o racismo em seus clubes. Lembrando que racismo no Brasil é crime, ele tem que ser combatido, denunciado e punido”, argumenta.
Um quarto e último foco seria o trabalho desenvolvido com o Superior Tribunal Justiça Desportiva do Futebol (STJD) para que as punições das práticas criminosas de racismo sejam devidamente aplicadas de forma exemplar conforme o alto grau do delito cometido.
Em seu pronunciamento, o Secretário Perrella defendeu a punição dos clubes por atos de suas torcidas já que, para ele, a educação dos torcedores tem, também, que partir dos clubes. “A Secretaria está disposta a trilhar todos os caminhos necessários para a extinção do racismo do futebol brasileiro”, garantiu. E formalizou um compromisso por meio de um convite para as instituições presentes se mobilizem para a criação de um comitê interministerial para debater as práticas do racismo e suas punições.
Em quatro anos de monitoramento de casos de racismo no futebol, o Observatório da Discriminação Racial no Futebol, registrou no ano passado 16 casos de racismo, em 2017 já está registrado um aumento significativo para 49 casos. Para Maurício Correia esses casos representam apenas a ponta de iceberg. “Esperamos que o relatório lançado em 2019 traga bem menos casos do que em 2018. Não avançaremos enquanto o racismo existir em nossa sociedade”, pontua.
Faltando apenas oito meses para mais a realização da Copa do Mundo, na Rússia, a conselheira Silvia Cerqueira chamou a atenção para a importância desse debate ser replicado em todas as instâncias do futebol e explicou a origem do futebol ainda no século XVII. “O futebol pertencia a uma elite branca, mas sua prática sempre dependeu de dom e inteligência e os negros sempre se destacaram como expoentes do futebol por suas aptidões”, relembra.
José Perdiz comentou que punições têm sido aplicadas em vários casos de racismo no futebol, em diversos campeonatos pelo país. Para ele, porém, é muito importante a parceira de todos os presentes ao evento para que a legislação evolua e tenha efeito ainda mais firme e pontual. Ainda segundo o representante do STJD, o comportamento dos que vão ao estádio, por exemplo, precisa ser pautado pelos bons princípios. “O torcedor tem que entender que sua paixão pelo clube não pode extrapolar a ética, a educação e o respeito pela lei”, pontua.
Reveja toda nossa programação no link Mesa de debate Enfrentamento ao Racismo no Futebol