Notícias
03/08 - Discurso da Ministra Eleonora na cerimônia de recebimento do título de cidadã paulistana
Publicado em
03/08/2012 15h55
Atualizado em
03/08/2012 17h15
Discurso da Ministra de Estado Chefe da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República - Eleonora Menicucci
Por ocasião do recebimento do título de cidadã paulistana, conferido pela Câmara Municipal de São Paulo
São Paulo, 2 de agosto de 2012
O meu cumprimento a todas e todos, e um destaque especial para Gustavo,Tais,Ana e Maria Grande.
Agradeço a Vereadora Juliana Cardoso pelo título de cidadã paulistana, e ao Adriano Diogo, Amelinha e Jajá pela força e apoio
Também agradeço a todas as mulheres que lutam pelos direitos sociais, pelos direitos das mulheres, companheiras antigas na luta contra a ditadura e as novas companheiras na luta do movimento feminista, com quem compartilho esta maravilhosa homenagem.
Homenageio grandes mulheres paulistanas, minhas amigas que não estão mais entre nós, mas que marcaram minha vida na luta e na amizade: Miriam Botazzio, Regina Stella, Rosinha, Cida Kopkak, Márcia Mafra e Heleieth Safiotti.
Rendo também homenagens a todos e todas que tombaram na luta contra a ditadura militar em nosso país;
É um orgulho e honra receber este título e passar, de direito, a ser uma cidadã paulistana, nesta cidade que me acolheu em março de 1969, quando para cá vim clandestinamente, com meu então companheiro Ricardo Prata, e grávida de minha primeira filha Maria. Aqui vivi clandestinamente até 1971, quando fui presa pela OBAN- DOI-CODI.
Mas é emocionante dizer e expressar que, além de ser acolhida pela cidade, eu a escolhi para viver, o que fiz e faço intensamente até hoje.
Quero mencionar alguns momentos importantíssimos na minha trajetória de vida com a cidade de São Paulo.
Cheguei aqui em janeiro de 1969, grávida, com apenas 23 anos. Aqui vivi clandestinamente por três anos. Aqui nasceu, na Maternidade São Paulo, em situação de clandestinidade, a minha filha Maria, no dia 27 de setembro de 1969. Aqui fui presa, em 11 de julho de 1971, onde fiquei presa até fins de 1973, passando pelos presídios Tiradentes, Hipódromo e Casa das Mulheres do Carandiru, depois de ficar três meses na OBAN, sofrendo torturas e mais de um mês no DOPS.
Em 1973, quando sai da prisão, fui para Belo Horizonte, onde morei até 1978.Nesse período, tive meu segundo filho, o Gustavo, que nasceu em 29 de dezembro de 1974. Retomei meus estudos na Faculdade de Filosofia da Universidade Federal de Minas Gerais, me graduando em Sociologia em 1974. Foi nesse mesmo período que militei no movimento feminino pela anistia. Depois, no Centro Brasileiro pela Anistia, iniciei minha militância no feminismo e trabalhei no Serviço de Planejamento Urbano do Estado.
Em 1978, fui morar em João Pessoa, onde trabalhei no Centro de Direitos Humanos da Arquidiocese da Paraíba, com Dom José Maria Pires. Fui co-fundadora do grupo feminista Maria Mulher e, também, do Partido dos Trabalhadores.
Retornei para São Paulo, em 1984, para fazer doutorado em Ciências Políticas na USP, ficando quatro anos, época em que militei fortemente no movimento feminista, tendo sido co-fundadora do Coletivo Feminista de Saúde e Sexualidade. Senti que uma parte importante de minha vida me trazia cada dia para fixar residência em São Paulo.
Em 1984, voltei para fazer doutorado, vindo de João Pessoa, para onde fui em 1978, logo depois de sair da cadeia, ficando até 1988, cidade onde entrei para a Universidade Federal da Paraíba, iniciei minha carreira de pesquisadora na área da saúde integral da mulher, violência, direitos humanos, direitos sexuais e reprodutivos e retornando em 1989. E nunca mais sai de mudança. Foi aqui que me titulei como Professora Livre Docente pela FSP-USP e na UNIFESP. Concorri ao cargo de Professora Titular, junto ao Dep. de Medicina Preventiva, na área de Saúde Coletiva. Também na UNIFESP, ocupei o cargo de Pró- Reitora de Extensão, no mandato do Reitor Walter Albertoni, a quem agradeço a confiança.
Participei como co-fundadora do Coletivo feminista de Saúde e Sexualidade; da primeira Secretaria de Mulheres do PT, da primeira Comissão Nacional da Mulher Trabalhadora da CUT, até a transformação em Secretaria Nacional.
Finalmente, quando achava que nenhum desafio maior pudesse surgir em minha vida - estava bem tranquila de férias, em janeiro de 2011, na Praia da PIPA, curtindo meus netos na casa de meu filho Gustavo - recebi o primeiro telefonema por parte da presidenta Dilma, e acertamos para conversar no dia 25 de janeiro. Nada mais significativo do que o dia da cidade de São Paulo, quando aceitei o desafio de ser Ministra de Estado Chefe da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República. E reafirmo minha inteira lealdade à presidenta Dilma Rousseff e a honra de fazer parte de um governo liderado por esta grande mulher.
Esta cidade, o barulho, o trânsito, a exigência pela rapidez em tudo, as inúmeras dificuldades de acesso,as belas avenidas, as diferentes periferias, cada uma. Uma cidade com suas particularidades. A calma depois de um dia inteiro agitado. As lutas por direitos e, em especial, a luta das mulheres pelos direitos de viver sem violência, seja ela qual for, a solidariedade misturada com o individualismo das metrópoles, se misturaram tão intrinsicamente com minha vida e meu perfil, que se entrecruzaram para sempre.
Eu sou Minas e São Paulo juntos. E, por isso, sou feliz. E tenho cravado em mim a esperança e a coragem de viver lutando e nunca esperar sentada. Aprendi, na cadeia, a paciência revolucionária e indignada de esperar, ou seja, fazendo.
Em São Paulo, também atuei com mulheres do Grajaú – Casa da Mulher do Grajaú na Zona Leste. Atuação mais recente pela UNIFESP, enquanto Pró- Reitora de Extensão, construindo as bases para o Campus da UNIFESP, na Zona Leste. Em Santo Amaro também implantei, junto com a equipe da Pró- Reitoria de extensão da UNIFESP, o primeiro Campus Avançado de Extensão da UNIFESP, entregando, para a população de mulheres e homens de Santo Amaro, a resposta concreta de uma antiga reivindicação. Entre tantas outras atuações.
O meu compromisso com a luta pelos direitos das mulheres me acompanha há muitas e muitas décadas. Talvez, desde adolescente na cidade mineira de Lavras, onde nasci, se mesclava e talvez estivesse embutida em toda minha rebeldia de jovem que, após 64, me levou a engajar no movimento estudantil na UFMG, como militante do PCB, Corrente Mineira,Dissidência, POLOP e POC. No movimento estudantil de Minas Gerais, fui do Diretório Acadêmico da UFMG, DCE e da primeira diretoria da União Estadual dos Estudantes, eleita pelo voto direto, como vice-presidente na gestão do Zé Luiz Moreira Guedes e, finalmente, da diretoria da UNE, do mesmo presidente.
A relação com o movimento sindical também floresceu cedo em mim> Como professora primária concursada, em Minas Gerais, participei da Associação dos Professores/as Primárias, da qual fui representante na Comissão Intersindical da Greve dos trabalhador@s de Contagem/Betim. Sempre defendendo o espaço das mulheres dentro das organizações políticas.
O feminismo tomou conta de minha vida desde a cadeia. Me iluminou e ilumina, até hoje, na militância, na pesquisa e estudos, na docência, na luta pelos direitos humanos plenos e universais, na luta pela justiça social com a equidade de gênero, no respeito aos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres e sem medo de errar, na educação de minha filha e filho, no meu cotidiano de trabalho onde reafirmo e ratifico a transparência e a solidariedade.
Aprendi muito, ao longo de minha vida, e, talvez, a maior sabedoria foi a de não perder a capacidade de indignar-me (como nos disse o saudoso Henfil). Indignar-me com a injustiça social, com a fome, com a miséria, com as violências, destacando a doméstica e sexual, com o racismo, com a homofobia em toda sua dimensão, com o preconceito. Enfim, a sabedoria maior e que tem me possibilitado mais leveza no enfrentamento dos desafios é a capacidade de respeitar as diferenças sem abrir mão das convicções, dos sonhos e das esperanças.
Quero reafirmar todos meus compromissos com o avanço dos direitos humanos das mulheres, em toda sua complexidade, e com o desnudamento da verdade e da memória de nosso país.
Dedico esta homenagem a minha neta Stella, meus netos João e Gregório e as mulheres de São Paulo. Vale a pena viver para ver e sentir emoções como esta que vivo e sinto agora.
Obrigada, Juliana, do fundo de meu coração mineiro – paulistano e brasileiro.
Eleonora Menicucci
Ministra de Estado Chefe da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República
Comunicação Social
Secretaria de Políticas para as Mulheres – SPM
Presidência da República – PR
Participe das redes sociais: /spmulheres e @ sp mulheres
Secretaria de Políticas para as Mulheres – SPM
Presidência da República – PR
Participe das redes sociais: /spmulheres e @ sp mulheres