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Prêmio Bertha Lutz será entregue dia 7 de março em sessão do Congresso Nacional, em Brasília
Pela primeira vez o Senado Federal concederá o prêmio Bertha Lutz a uma Yalorixá
Mãe Beata de Iemanjá receberá no próximo dia 07 de março, o diploma Mulher-Cidadã Bertha-Lutz de 2007, do Senado Federal, em sessão solene do Congresso Nacional para comemorar o Dia Internacional da Mulher. Ela foi uma das agraciadas do prêmio jutno com Suely Batista dos Santos, Moema Libera Viezzer, Maria Yvone Loureiro Ribeiro e Ivana Farina Navarrete Pena.
O Diploma Bertha-Lutz é conferido anualmente e é concedido as mulheres que se destacam na defesa da cidadania e dos direitos humanos e políticos das mulheres brasileiras.
Houve cinqüenta outras indicações, pelas mais diversas organizações de mulheres para concorrer ao prêmio esse ano. Além de Mãe Beata de Iemanjá mais quatro mulheres foram agraciadas.
A indicação de Mãe Beata de Iemanjá foi feita pela Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres e pela Articulação de ONGs de Mulheres Negras Brasileiras - AMNB.
Um pouco da história de Mãe Beata de Iemanjá:
Beatriz Moreira Costa, mais conhecida como Mãe Beata de Iemanjá. Nascida em 20 de janeiro de 1931, em Cachoeira de Paraguaçu, Recôncavo Baiano, filha de Maria do Carmo e Oscar Moreira, seus exemplos de vida.
Relato sobre seu nascimento: “Minha mãe chamava-se do Carmo, Maria do Carmo. Ela tinha muita vontade de ter uma filha. Um dia ela engravidou. Acontece que, num desses dias, deu vontade nela de comer peixe de água doce. Minha mãe estava com fome e disse: ‘Já que não tem nada aqui, vou para o rio pescar’. Ela foi para o rio, e, quando estava dentro d’água pescando, a bolsa estourou. Ela saiu correndo, me segurando, que eu já estava nascendo. E nasci numa encruzilhada. Tia afalá, uma velha africana que era parteira do engenho, nos levou, minha mãe e eu, para casa e disse que ela tinha visto que eu era filha de Exi e Yemanjá. Isso foi no dia 20 de janeiro de 1931. Assim foi meu nascimento.
Na década de 1940, Mãe Beata muda-se para a cidade de Salvador, ficando aos cuidados de sua tia Felicíssima e o marido dela Anísio Agra Pereira (Anísio de Logum Ede, babalorixá). Durante dezessete anos, Beata (como é conhecida desde a infância) foi abiã de seu tio que, posteriormente, falece levando-a a procurar Mãe Olga do Alaketu, que a inicia para o orixá Iemanjá no terreiro Ilê Maroia Laji. Sua mãe Maria do Carmo, antes de falecer, tutela a filha a sua yalorixá Olga do Alaketu.
Mulher, que mesmo presa a princípios tradicionais em razão da influência de uma família patriarcal, torna-se de vanguarda ao fazer cursos de teatro amador e participar de grupos folclóricos. Casa-se com Apolinário Costa, seu primeiro namorado, com quem teve quatro filhos (Ivete, Maria das Dores, Adailton e Aderbal Moreira Costa).
Em 1969, Beata separa-se do marido e migra para o Rio de Janeiro em busca de melhores condições de vida para ela e sua prole - história comum a tantas outras mulheres negras nordestinas. Para as famílias tradicionais da Bahia, naquela época, mulher separada era mulher de ninguém, ainda mais com quatro filhos. Canta-se num samba-de-roda baiano: “samba bom é de madrugada, mulher sem homem não vale nada. Por certo, não se enquadrava nesse perfil à figura dessa mulher ímpar em questão.
Beata cria seus filhos com muita dificuldade, porém de modo digno, exercendo várias funções (empregada doméstica, costureira, manicure, cabeleireira, pintora e artesã) para prover o sustento próprio e da família.
Trabalha como figurante na Rede Globo de televisão, atividade resultante de contatos já existentes em Salvador, onde participou da novela “Verão Vermelho, filmada na referida cidade. Logo após conseguiu trabalho como costureira na mesma empresa, função da qual se aposentou e mantém contatos de amizade até os dias de hoje.
Apesar de todas essas atividades e uma jornada árdua de mulher negra nordestina, ainda por cima com os fortes estigmas de mulher separada, Beata não se esquece dos seus laços religiosos - Beata atuou em várias comunidades de terreiro no Rio de Janeiro, mantendo e preservando sua descendência ancestral religiosa negra.
Em 20 de abril de 1985, sua Mãe Olga do Alaketu, falecida em setembro de 2005, vem ao Rio de Janeiro, no bairro de Miguel Couto, Nova Iguaçu, outorgar a sua filha o direito de ser chamada de mãe. Daí, então, ocorre a fundação da Comunidade de Terreiro Ilê Omi Ojú Arô (Casa das guas dos Olhos de Oxóssi) onde Beata de Iemanjá ocupa o cargo de Ialorixá.
A partir desse momento, Beata passa a utilizar o espaço da Casa de Candomblé como referência da resistência da Cultura, Religião, Cidadania e Dignidade da população Afro-brasileira. Transmite à comunidade de forma natural toda sua experiência de luta, absorvida facilmente por todos, o que dá início a sua participação ativa em discussões sobre os problemas raciais, sociais e políticos, com enfoque principalmente sobre as mulheres negras.
Seu empenho é logo reconhecido, sendo agraciada com diversas moções, diplomações e convites para a palestrar em eventos, como o Fórum Global em 1992, no grupo mundial pela paz.
Escritora retrata a realidade da tradição das Comunidades de Terreiro nas obras “Caroço de Dendê, Sabedoria dos Terreiros, “Tradição e Religiosidade, in O livro da saúde das mulheres negras e “As histórias que minha avó contava, publicadas em 1997, 2000 e 2005, respectivamente.
Atualmente está empenhada em atividades relacionadas à educação de jovens, ao combate à violência contra a mulher e à saúde da população negra, bem como apoio, através da participação em ação judicial, das ações afirmativas na Universidade Estadual do Rio de Janeiro.
Ela foi indicada por seu trabalho de desenvolvimento de atividades voltadas ao combate à intolerância religiosa, à discriminação racial e de gênero, à violência contra a mulher e prevenção das DST/HIV/AIDS e câncer de mama, realizadas em nível comunitário, local e regional.
Mãe Beata integra a Ong Criola (organização de mulheres negras que atua contra o racismo e o sexismo), na qualidade de presidente, o Conselho Estadual dos Direitos da Mulher - CEDIM, é parceira do Projeto Ató Ire - Saúde dos Terreiros e também integra a Ong Viva-Rio. Dirige o Ilê Omi Oju Aro, instituição religiosa, sem fins lucrativos cujo objetivo é zelar e preservar a tradição e cultura afro-brasileira e combater à discriminação racial e de gênero. É filiada a Articulação Nacional de Mulheres Negras, a Rede de Articulação de Mulheres Negras frente a Violência e a Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde.
Conheça o Curriculum das outras agraciadas:
IVANA FARINA NAVARRETE PENA - É bacharel em Economia e Direito pelas Universidades Católica e Federal do Estado de Goiás. Na sua trajetória funcional inclui: Promotora de Justiça de Alexânia, Morrinhos, entre outras cidades Como Promotora, sempre atuou na promoção da justiça social e na defesa dos direitos humanos. Como participante do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana - CDDPH, é diariamente confrontada em seu trabalho por aqueles que buscam a continuidade de situações violadoras de direitos, geralmente em ações de abuso, para manutenção de poder.
MARIA YVONE LOUREIRO RIBEIRO - Funcionária pública estadual, trabalha na Secretaria Executiva de Planejamento e Orçamento de Alagoas. Economista com pós-graduação em desenvolvimento social urbano e planejamento governamental. Sua trajetória é de luta e combativa militância política contra a ditadura e em prol dos direitos humanos. Iniciou sua militância no movimento estudantil em 1968, sendo duramente perseguida pela ditadura militar por sua ativa participação contra as perseguições políticas e em prol da retomada da democracia. Juntamente com o marido, que foi seqüestrado, torturado e assassinado nos porões do DOPS, empenhou-se no abrigo de foragidos e ativistas políticos. Presa e condenada a 10 anos de prisão, foi posta em liberdade em 1973 e continuou, então, sua luta pela redemocratização do país. Foi uma das fundadoras da Sociedade Alagoana de Defesa dos Direitos Humanos e atua nessa e em várias outras frentes em prol da liberdade, da democracia e da igualdade, e contra as injustiças e discriminação de todo gênero.
MOEMA LIBERA VIEZZER - Doutoranda em Comunicação - USP, Mestre em Ciências Sociais - PUC/SP, Licenciada em Belas Artes - UFRS, Professora Primária - Escola Normal, Garibaldi/RS. Possuidora de um extenso currículo, é, certamente, uma das figuras mais importantes do país na área de Educação para novas relações de gênero e proteção do meio ambiente. Sua tarefa se estende desde os grupos de base da periferia da cidade e áreas rurais, até empresas nacionais e multinacionais que desenvolvem programas de responsabilidade sócio-ambiental e órgãos governamentais que promovem políticas públicas de meio ambiente e para mulheres. A candidata vem desenvolvendo há mais de três décadas, no Brasil e em outros países, sendo seu trabalho reconhecido nacional e internacionalmente.
SUELI BATISTA DOS SANTOS - Jornalista, fundadora do primeiro jornal feminino de Mato Grosso, o Rosa Choque. É fundadora da Associação de Mulheres de Negócios e Profissionais de Cuiabá-BPW Cuiabá. Tem realizado trabalhos com foco em responsabilidade social, que contempla as áreas artística e cultural, para meninos e meninas, com ações extensivas ao impulsionamento na carreira de mulheres chefe de famílias de baixa renda. Tem realizado palestras em várias partes do país, gratuitamente, com enfoque na mulher empreendedora e responsabilidade social. Foi uma das articuladoras da parceria entre a BPW Brasil e a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres-SPM, da Presidência da República, que culminou em outra grande parceria, com o Sebrae Nacional, no qual mulheres de todo o país têm sido beneficiadas com programa de incentivo ao empreendedorismo. Na cidade de Cuiabá, tem promovido vários cursos focados no empreendedorismo feminino, gratuitamente, tornando as mulheres mais ativas e empreendedoras, diminuindo as desigualdades sociais.