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PIONEIRISMO
Título de Sueli Carneiro como cidadã beninense mostra fortalecimento de diálogo brasileiro com países africanos
Sueli Carneiro é a primeira brasileira a receber a outorga de cidadã beninense (Foto: Instagram/@carneiro956)
Expoente do movimento negro brasileiro, a filósofa, escritora e ativista Sueli Carneiro foi reconhecida, nesta terça-feira (17), como cidadã de Benin, país localizado África Ocidental. O gesto vai ao encontro do empenho do governo brasileiro em reconhecer e valorizar a herança afrodescendente no país, por meio de ações de promoção da memória negra promovidas pelo Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania (MDHC) e demonstra o comprometimento do país africano com políticas de reparação para a comunidade afro-diaspórica.
A cerimônia de concessão do título, realizada na cidade de Cotonou, acontece alguns meses após a assinatura de memorando para fortalecer a cooperação cultural e de pesquisa entre Brasil e Benin. Na ocasião, o presidente beninense Patrice Talon anunciou, em cerimônia no Palácio do Planalto, que votaria uma lei para conceder nacionalidade beninense aos brasileiros afrodescendentes.
Para o embaixador Carlos Duarte, Secretário de África e Oriente Médio do Ministério das Relações Exteriores, retomada do diálogo com os países africanos é prioridade e parte integral da política externa do Presidente Lula. "A reaproximação com a África é fortalecida por atividades como visitas presidenciais a diversos países daquele continente e à União Africana, frequentes contatos com líderes africanos e a realização, em Salvador, em agosto passado, da Conferência da Diáspora Africana nas Américas, na qual foram discutidos os temas de reparação, pan-africanismo, memória, restituição e reconstrução", declarou.
Sueli Carneiro foi a primeira brasileira a receber a outorga, que foi registrada no documentário “Mulheres Negras em rotas de Liberdade”, com produção da Acarajé Filmes e Mulungu Realizações Culturais. De acordo com o Instituto Geledés, do qual Sueli é membro fundadora, o filme tem o objetivo de revisitar as rotas do tráfico transatlântico de pessoas escravizadas refletindo sobre liberdade a partir da perspectiva de mulheres negras brasileiras expoentes do ativismo, do pensamento intelectual e da arte.
Reparação histórica
Para Fernanda Thomaz, Coordenadora-Geral de Memória e Verdade da Escravidão e do Tráfico Transatlântico de Pessoas Escravizadas (CGMET) do MDHC, trata-se de uma forma de reparação histórica dos dois países e uma oportunidade de reconectar histórias entre a população brasileira e a população beninense. “Não é só um momento diplomático e político, mas também um momento essencial para a nossa identidade, e fundamental para a nossa conexão. Tanto é que a nossa busca pela identidade tenta romper, o tempo todo, com essa desconexão que o tráfico trouxe, buscando um diálogo direto com a África, e uma inspiração no continente africano para a nossa história”, afirma.
De acordo com Fernanda, o título também ajuda a romper com o racismo, e com o apagamento da história e da memória da escravidão. Ela também acredita que ter Sueli como a primeira pessoa a receber a outorga traz um grande simbolismo por ser uma mulher negra que representa muitas mulheres negras no Brasil, pela sua posição política, pela sua trajetória e pelo que ela produz em termos de conhecimento.
Edson Cardoso, doutor em Educação (USP), coordenador do Ìrohìn – Centro de Documentação e Memória Afro-Brasileira e um ativista importante na luta racial brasileira, entende que a identidade originária da maioria dos brasileiros é africana, mas em razão de circunstâncias opressivas, das quais os afro-brasileiros são vítimas, este fato histórico que singulariza o país como nação é frequentemente apagado. “A homenagem e o reconhecimento prestados a Sueli Carneiro pelo Benin, portanto, tem o poder de avivar e reforçar em nós a memória do que efetivamente nos constitui como coletividade”, defende.
A Coordenação-Geral de Memória e Verdade da Escravidão e do Tráfico Transatlântico de Pessoas Escravizadas (CGMET) do MDHC foi criada em 2023 para implementar políticas de valorização à memória em torno da escravidão e tem implementado ações para dar visibilidade à história africana no Brasil como o projeto de Sinalização e Reconhecimento de Lugares de Memória dos Africanos Escravizados no Brasil, iniciativa em conjunto com o Ministério da Igualdade Racial, o Ministério da Cultura (MinC) e o Ministério da Educação (MEC).
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Texto: R.M.
Edição: F.T.
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