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EDUCAÇÃO
Combate à desinformação é destaque no Seminário Educação em Direitos Humanos e Democracia
Seminário foi transmitido ao vivo e convidados da mesa debateram as possibilidades de promoção de direitos e da cidadania digital. (Foto: Reprodução)
A segunda mesa de debates do 2º Seminário Educação em Direitos Humanos e Democracia: Cidadania Digital propôs uma reflexão aos participantes: “Promover direitos humanos dentro ou fora das telas, tem diferença?”. O evento começou nesta segunda-feira (12), no Museu da República, em Brasília. Os convidados da mesa debateram as possibilidades de promoção de direitos e da cidadania digital. A mediação foi da diretora de relações institucionais da Associação de Jornalismo Digital, Carla Egydio.
Durante o debate, o secretário Nacional Substituto da Secretaria de Defesa das pessoas LGBTQIA+ do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, Renato Cani, lembrou que as plataformas digitais estão estruturadas de maneira a favorecer a propagação dos discursos extremistas de ódio. O gestor pontuou que, no caso da população LGBTQIA+, isso ocorre por meio da estratégia de causar pânico moral. “Isso não se dá apenas por parte do usuário, mas também pelo modo como a rede está constituída, o que gera lucro e receita”, observou.
Renato Cani defendeu a regulação das plataformas e reforçou que a pasta promove um grupo de trabalho para o enfrentamento da discriminação contra pessoas LGBTQIA+ em ambientes digitais. A ação conta com a participação de atores da sociedade civil que atuam “tanto no trabalho de ‘desradicalização’ desses grupos, que hoje são levados pelo extremismo, mas também no campo da responsabilização das empresas de plataforma digital”, comentou.
A escritora e pesquisadora de comunidades gamers, Flávia Gasi, explicou que, ao longo dos últimos anos, os videogames foram usados para propagar discursos de ódio. Segundo a especialista, isso permite que grupos se utilizem dessas ferramentas para o controle da população. Tal prática é classificada pelo Centro de Contraterrorismo da Europa como uma forma contemporânea de terrorismo.
Para a pesquisadora, o campo democrático precisa estar mais presente nesse tipo de mídia. “É preciso popularizar o que são direitos humanos numa questão não institucional. E esse é o papel das plataformas digitais: é poder falar com mais gente de uma forma menos academicista, mais real, e utilizar e ocupar esses espaços – que não estão sendo ocupados – pelo campo democrático”, defendeu.
Autor do livro “Racismo algorítmico”, o pesquisador Tarcízio Silva, defendeu que a convergência sobre direitos humanos digitais ou presenciais ou on-line é um dos grandes desafios contemporâneos. Segundo ele, supremacistas brancos e grupos extremistas neonazistas se apropriaram das plataformas digitais para promover a erosão de democracias, o que ele definiu como “uma nova era de conexão global”.
De acordo com o pesquisador, as big techs atuam como atores de erosão dos direitos humanos. Na avaliação de Tarcízio, é necessário regulamentar o setor dominado por empresas privadas. “Efetivamente, é possível pensar em promoção dos direitos humanos quando os ambientes em que a comunicação circula e a esfera pública se constrói são privatizados?”, questionou.
Bate-papo
O primeiro dia do seminário terminou com um bate-papo entre o historiador e criador do Canal Normose, Rodrigo Kenji, e a pesquisadora Isabela Kalil sobre a importância da ação coletiva que faz frente ao extremismo e a radicalização de juventudes. O historiador apresentou um estudo de caso do documentário sobre Maria da Penha, vítima de violência doméstica. A produção retrata a farmacêutica como vilã, destacando apenas a visão do agressor e diminuindo as dores e os fatos vivenciados por ela.
Impulsionados por criadores de conteúdo, memes e cortes do documentário foram transformados em ataques à vítima, ao feminismo e às mulheres. O investimento com impulsionamento chegou a R$ 22 milhões. Como consequência, Maria da Penha voltou a ser ameaçada e precisou ser colocada mais uma vez sob proteção do programa de direitos humanos.
Lógica reversa
Para Rodrigo Kenji, o caso enquadra-se no conceito de “construção da lógica reversa” que destrói as forças de confiança estabelecidas socialmente, deslocando uma parcela significativa da população às chamadas “câmaras de eco”. “Se essas pontes de confiança são destruídas, nós não temos mais coesão, não temos mais diálogo”, disse. “Professores não são ouvidos porque são comunistas, cientistas porque são pagos pelo globalismo, mulheres porque o feminismo destrói a família, e assim por diante”, explica.
Pontos de confiança
De acordo com o historiador, a instrumentalização do ódio e da paranoia nos leva à “sociedade da desconfiança” em que prevalece o clima psicológico de que alguém está escondendo algo de mim a todo momento. A solução, segundo Kenji, está na reconstrução de pontes de confiança que atuem em linha entre diferentes produtores de conteúdo. Um exemplo bem sucedido é a iniciativa Brasil Parasita, voltada à construção de um ecossistema que paute as redes ao invés de apenas reagir.
Assista à íntegra do primeiro dia do Seminário.
Texto: D.V.
Edição: B.N.
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