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LUTA ANTIRRACISTA
Em seminário na PUC-SP, secretária Isadora Brandão indica impactos do racismo e aponta reparação como caminho para não repetição de injustiças sociais
(Foto: Thaís Polato / ACI PUC-SP)
A secretária nacional de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos, Isadora Brandão, esteve presente na mesa de abertura da 3ª Semana da Consciência Negra “Reparação e Direitos Humanos”, evento realizado em parceria com a PUC-SP e transmitido ao vivo pelo YouTube do MDHC. Na oportunidade, Brandão abordou a importância do enfrentamento ao racismo e da implementação de políticas públicas de reparação pelo Estado brasileiro.
“A gente vive atravessado pelo racismo e pelas mazelas que ele produz. O racismo coloniza ainda hoje o nosso imaginário, as nossas perspectivas cognitivas, a maneira como nós atribuímos sentido e significado à experiência vivida. Ele também molda os nossos padrões de conduta, os nossos afetos, ele está impregnado nas nossas instituições políticas, jurídicas e econômicas. É de fato uma lógica, um fenômeno de cárter estrutural e estruturante das nossas relações e não é um exercício fácil fazer esse enfrentamento diário”, ressaltou a secretária.
Isadora Brandão complementou que o racismo, na sociedade brasileira, tem como principal estratégia de perpetuação e reprodução a negação de si mesmo. “Dada a natureza estrutural desse fenômeno, toda vez que a gente trata o racismo como preconceito, como discriminação ou como um mero fenômeno comportamental, a gente está em cumplicidade sistêmica com ele”, constatou.
A secretária enfatizou que não adianta fazer enfrentamento ao racismo de maneira pontual, localizada. Para a gestora, é preciso traçar estratégias variadas para fazer esse enfrentamento. A titular da SNDH também destacou a tradição autoritária presente na história de nosso país, lamentando que a regra tem sido o autoritarismo, intercalado com intervalos democráticos.
“A gente precisa aproveitar este momento que nosso país vive para consolidar a democracia e os direitos humanos enquanto valores, mas também para aprofundar essas discussões em relação às quais a gente avançou timidamente, como é o caso do debate sobre reparação, sobre a responsabilidade do estado em relação a todo tipo de desvantagem e violência que tenha acometido a população negra como herança do nosso passado colonial”, concluiu.
Reparação histórica
Isadora também reforçou a importância de discutir a reparação do ponto de vista do acesso à educação; da democratização da estrutura fundiária, da diversificação dos paradigmas culturais e estéticos. Para ela, a reparação é uma questão de justiça e também parte do caminho para a não repetição de graves violações de direitos humanos.
A pró-reitora de Cultura e Relações Comunitárias, Mônica de Melo, – que também compunha a mesa com a secretária da SNDH e a vice-reitora da PUC-SP, Ângela Brambilla Lessa, – enfatizou o compromisso da PUC-SP com a reparação e direitos das pessoas negras. “A PUC é uma universidade preocupada com a questão racial, e não só do ponto de vista de produção de saber, de produção de conhecimento científico. Neste semestre, passou a vigorar uma deliberação que prevê que, a partir de agora, sairão vários editais de concurso exclusivos para contratação de docentes negros. Queremos enegrecer a nossa universidade. É uma política também de reparação. É preciso reconhecer que o Brasil é, sim, racista e é preciso reparar”, afirmou.
O seminário também contou com a importante presença de Elísio Salvado Macamo, professor Catedrático de Sociologia e Estudos Africanos na Universidade de Basileia (Suíça). Após a mesa de abertura deu-se início à mesa de debates – Reparação e Direitos Humanos: Memória, Experiências Negras e Políticas Públicas, com a participação da coordenadora na Coordenação-Geral de Memória e Verdade da Escravidão e do Tráfico Transatlântico de Pessoas Escravizadas, Cristiane Souza. Pelo MDHC, também participou da atividade a assessora na SNDH, Letícia Pantoja.
Composição
O evento, que tem duração de dois dias e segue até esta sexta-feira (24), foi organizado em nove Grupos de Trabalho (GTs) que apresentarão 76 trabalhos, de forma presencial e virtual, com inscrições abertas neste link.
Integram os GTs os temas “Reparação tradicional: comunidades tradicionais e religiosidades”, “Reparação histórica: cooperação, projetos e agendas da África e das diásporas africanas”, “Reparação no ensino superior: políticas afirmativas no ensino superior: docência e discência”, “Reparação psíquica e social”, “Reparação das violências nas instituições estatais e privadas: Justiça, juventude e encarceramento”, “Reparação política e econômica”, “Reparação artística: música, arte e literatura”, “Reparação: raça, gênero e sexualidade” e “Reparação da memória: escravidão e pós-abolição”.
Assista à íntegra do seminário
Texto: N.L.
Edição: R.D.
Revisão: A.O.
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