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PARTICIPAÇÃO SOCIAL
GT de combate ao discurso de ódio do Ministério dos Direitos Humanos discute estratégias para enfrentar intolerância religiosa
Por meio do diálogo, integrantes da sociedade civil apontam estratégias e desafios diante da intolerância religiosa enquanto ameaça aos assuntos democráticos (Foto: Reprodução/Videoconferência)
A educação e a revisão de estratégias de comunicação surgiram como instrumentos para enfrentar a intolerância religiosa na 2ª reunião do Grupo de Trabalho (GT) de combate ao discurso de ódio, nesta segunda-feira (13). O relator do grupo, Camilo Onoda Caldas, conduziu o 2° encontro do grupo com objetivo de colher contribuições apresentadas por professoras, acadêmicos e pesquisadores do tema ao longo da última década.
Dos membros do GT, contribuíram para o debate as professoras Esther Solano, Magali Cunha e a teóloga, luterana e pastora Lusmarina Campos Garcia. Entre os destaques, está a necessidade de incorporar ao enfrentamento ao discurso de ódio, no âmbito das intolerâncias religiosas, aspectos educacionais e culturais que sejam favoráveis à democratização da sociedade brasileira.
Para a professora da Universidade Federal de São Paulo e especialista em pesquisas de opinião pública, Esther Solano, é preciso enxergar o fundamentalismo religioso como braço do radicalismo de manifestações religiosas dentro do debate público. Nesse sentido, é oportuno observar em que momento estão contextualizados seguidores de dogmas que subvertem os conceitos fundamentais dos direitos humanos.
“Há esgotamento e descontentamento de fiéis moderados diante do extremismo e da radicalização violenta observada nos últimos anos dentro das igrejas. Observamos, por exemplo, uma hiperpolitização da igreja para compra e venda de voto”, apontou a professora. Solano indica que é preciso desvincular o ódio da fé a fim de que o Brasil recupere o sentido de respeito, empatia e amor ao próximo.
Para ela, é preciso atuar nos caminhos narrativos que cooperam para a manipulação de seguidores do chamado “mercado da fé”. “Desconstruir a falsa dicotomia entre o campo democrático progressista e o cristianismo é urgente. As ditas pautas morais, na verdade, são existenciais”, refletiu a professora.
Estratégias
Para o GT, as múltiplas notícias falsas que impulsionam a extrema-direita globalmente devem ser enfrentadas de forma concreta. Uma revisão das estratégias de comunicação, nesse sentido, faz-se necessária quando observadas as motivações dos interlocutores radicalizados.
“A família é um motor gerador de políticas públicas. E é justamente nessa base social que o discurso de ódio cresceu tendo como ingrediente o medo. É preciso oferecer alternativos concretas contra o medo, que é um dos alicerces que fundamentam as chamadas fake news”, apontou Solano. Ela afirma que houve manipulação dentro das narrativas extremistas, mas reconhece que existiram “falhas do campo democrático em termos de comunicação pública”.
“Além da manipulação brutal, nós falhamos em reapresentar pautas existenciais de forma que não colida com a visão cristã. Como falar de feminismo com mulheres conservadoras? Precisamos criar pontes de diálogo, em especial com mulheres jovens periféricas, e insistir no campo educativo”, indica a professora, ao falar em pedagogia do convívio democrático e do Estado laico.
Desconstrução
A teóloga Lusmarina Campos Garcia levantou contradições observadas dentro das manifestações religiosas que cooperam para a disseminação de uma cultura de guerra. O arcabouço discursivo da extrema direita, na visão da pastora, foi construído pelas pautas ligadas a gênero e questões étnico-racial.
“É evidente que precisamos desconstruir, com argumentos religiosos, o campo extremista. Pela linguagem de guerra, determinadas igrejas neopentecostais constroem a ideia de um inimigo partindo do ponto do racismo atrelado ao capitalismo neoliberal e à destruição do Estado Democrático de Direito”, elenca.
Por outro lado, a professora Magali Cunha colocou em perspectiva temporal o histórico de intolerâncias não apenas como um elemento religioso, mas ideológico. “Graves violações foram perpetradas contra indígenas e africanos escravizados. Há registro de violência contra protestantes, judeus, religiões de matriz africana, entre as mais diversas manifestações ao longo dos séculos XVI e XVII”, apontou.
“A demonização de certas manifestações religiosas está ancorada no racismo estrutural e no racismo religioso”, disse Magali, ao relembrar a importância de instrumentos como o Relatório sobre Intolerância e Violência Religiosa no Brasil (2011 – 2015).
Desafios
No debate, o GT indicou como desafios o fortalecimento dos canais de denúncia, a exemplo do Disque 100, a sistematização dos dados e a qualificação de agentes públicos. Além disso, compreender o cotidiano dos grupos religiosos em sua abrangência também entra como uma das necessidades para o avanço do enfrentamento ao discurso de ódio.
Respeitar a pluralidade religiosa – inclusive daqueles que não têm religião – também esteve presente como bandeira no encontro virtual. Nesse sentido, o GT defendeu que a educação deve ser promovida nos mais diversos centros, como na política, nas mídias, nas comunidades, entre outros.
Também estiveram presentes no encontro representantes da Confederação Israelita do Brasil (Conib) e da Federação das Associações Muçulmanas do Brasil (Fambras). A secretária nacional dos Direitos das Pessoas com Deficiência, Anna Paula Feminella; e a assessora especial de Participação Social e Diversidade do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) e da Cidadania, Anna Karla Pereira, também integraram a reunião.
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