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“Não precisamos de campanhas, mas sim de políticas de Estado”, defende gestora do MDHC responsável por enfrentar ecos da escravidão no Brasil
Símbolo da justiça em destaque com uma mulher negra ao fundo em tomada de decisão (Foto: Banco de Imagens/Internet)
O Dia Internacional em Memória das Vítimas da Escravidão e do Comércio Transatlântico de Escravos, marcado anualmente pela data de 25 de março, tem um significado ainda mais simbólico para o Brasil em 2023. Inédita no governo federal, a Coordenação-Geral de Memória e Verdade sobre a Escravidão e o Tráfico Transatlântico integra a estrutura do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) e está vinculada à Assessoria Especial de Defesa da Democracia, Memória e Verdade, liderada por Nilmário Miranda.
O setor será responsável pela histórica luta contra a injustiça social provocada pelo racismo escravocrata. À frente da coordenação, a professora e pesquisadora da história da África Fernanda Thomaz assume a pasta nesta segunda-feira (27) com a missão de contribuir para a elaboração de uma política de Estado que enfrente, permanentemente, a “herança maldita da escravidão”, como declarou o ministro Silvio Almeida na Organização das Nações Unidas (ONU) em fevereiro deste ano, em Genebra (Suíça).
“Pretendemos tratar as memórias da escravidão e do tráfico humano pelo viés da busca incessante por justiça social. A reparação e o reconhecimento dessas injustiças históricas precisam ser encarados pela população brasileira", defende Fernanda Thomaz.
Ampliação do diálogo
Para tanto, a gestora afirma que serão necessários amplo diálogo com a sociedade civil, mapeamento e diagnóstico das mazelas geradas pelas desigualdades sociais. “Não tem como não pensar na escravidão quando olhamos para as desigualdades estruturantes do nosso país”, indica.
Entre os destaques para a gestão, a coordenadora pontua a urgência em propor iniciativas pela preservação e memória do Cais do Valongo, principal ponto de desembarque e comércio de pessoas negras escravizadas nas Américas. Recentemente, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, assinou uma série de decretos e medidas pela igualdade racial – entre elas, a instituição de um Grupo de Trabalho (GT) que irá propor políticas contra o silenciamento sofrido na região do Rio de Janeiro em que fica o cais.
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Para a condução dos trabalhos na nova gestão, Fernanda Thomaz conta que trará contribuições de suas experiências enquanto pesquisadora e acadêmica de Juiz de Fora (MG), mas enfatiza que a união das mais diversas realidades brasileiras é primordial para os objetivos a serem conquistados.
“É urgente pensarmos que o Brasil é um país continental e, como tal, a memória das explorações geraram violências, apagamentos e silenciamentos que culminam no extermínio cultural da população negra, indígena e de todos aqueles postos à margem da sociedade em uma estrutura que nega acessos, vivências e dignidades”, exemplifica.
Fernanda Thomaz destaca, ainda, que o revisionismo pelo qual o Brasil passou nos últimos anos “institucionalizou um retrocesso muito grande”. De acordo com a gestora, a exploração e objetificação da população negra implica em inúmeras violações de direitos humanos e atinge seu pico em crises humanitárias – a exemplo da tragédia em território Yanomami e das recentes descobertas de centenas de trabalhadores em situação análoga à escravidão.
Humanização do sujeito
“Nossa cultura só não é completamente apagada graças à cultura que permanece pela resistência. É preciso encarar a escravidão com crime contra a humanidade, e isto alcança o Brasil e o mundo. Pois estamos tratando de seres humanos, de pessoas, e não de máquinas”, explica.
É nesta perspectiva que Fernanda Thomaz defende a inclusão de todos neste debate. “Nossa escuta contemplará membros dos movimentos negros, intelectuais de todo o país entre os mais diversos setores. Nossa missão é criar uma política de Estado. Não precisamos mais de campanhas”, sinaliza.
Nesse sentido, Thomaz reitera que a universalização da causa não contribui para a inclusão da pauta no debate público. Para a professora, será preciso individualizar as questões, envolvendo a parte urbana, rural e de todos os cantos do Brasil. “Vai dar trabalho, mas é urgente que a união caminhe na direção da reconstrução da dignidade humana de cada cidadão brasileiro”, conclui.
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Texto: R.D.
Edição: I.C.
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