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A herança violenta da escravidão e a luta de Fernanda Thomaz por memória e reparação ancestral
Fernanda Thomaz: conheça o perfil da gestora responsável pela Coordenação-Geral de Memória e Verdade da Escravidão e do Tráfico Transatlântico de Pessoas Escravizadas. (Foto: Duda Rodrigues - Ascom/MDHC)
Lutar por “justiça histórica, reconhecimento e reparação”. Esses são os três eixos estabelecidos pela professora e pesquisadora da história da África, Fernanda Thomaz, à frente da Coordenação-Geral de Memória e Verdade da Escravidão e do Tráfico Transatlântico de Pessoas Escravizadas. O setor está vinculado à Assessoria Especial de Defesa da Democracia, Memória e Verdade do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC).
Na visão da gestora, a inédita criação de uma coordenação voltada especificamente para a memória da escravidão “representa um grande passo para a reparação dos rastros que três séculos de exploração deixaram no Brasil”, aponta a professora.
Nesse sentido, a historiadora reflete que, por muitos anos, a história da escravidão foi contada a partir da perspectiva dos opressores que enalteceram a sua própria história. No entanto, essa narrativa oprime descendentes de escravizados e da ancestralidade do povo brasileiro, que há séculos são vítimas de racismo, discriminação e violência.
Cicatrizes ainda abertas
Para Fernanda Thomaz, é necessário ouvir e valorizar essas vozes. “A injustiça histórica está diretamente ligada ao reconhecimento, porque reconhecê-la é um caminho para se confrontar e desconstruir o apagamento dessa herança violenta”, ressalta em vídeo publicado no canal no YouTube @mindireitoshumanos .
A escravidão foi fundamentalmente uma das maiores violações de direitos humanos registradas na história. Por isso, Fernanda destaca a importância da memória para compreender as cicatrizes que milhares de pessoas ainda carregam.
“A memória é um espaço de disputa. No nosso processo histórico, a memória que teve mais visibilidade foi a memória produzida por um grupo específico e privilegiado, que esteve controlando o poder, inclusive essas relações sociais”, salienta.
Raízes ancestrais
Nessa disputa, reconhecer a importância de pessoas negras como referências e valorizar suas raízes ancestrais surge como uma tarefa urgente da contemporaneidade. Reconhecer e valorizar essas raízes é uma forma de promover o resgate da autoestima e da identidade de pessoas negras e de combater a negação e a invisibilidade histórica que permeiam a sociedade.
Uma forma de valorização é a presença de referências negras na vida acadêmica, fator que está diretamente relacionado à memória e reparação e à história da gestora.
Fernanda Thomaz foi a primeira da família a ingressar na faculdade e reconhece os desafios enquanto mulher negra. “Sabemos que a população negra é a mais afetada com as heranças da escravidão. Durante anos, fui a única aluna negra em sala de aula. Não tive sequer professores negros”, rememora.
A professora conta que a maior motivação para se aprofundar na história negra foi sua avó Conceição, nascida 31 anos após a abolição da escravatura, mas entendia sua inserção na história como “empregada da lavadeira do Getúlio Vargas”.
“Essa era a forma que ela tinha de se inserir na história oficial do Brasil, dizer que estava presente. Ela não entendia que provavelmente, poucos anos antes, seus avós haviam sido escravizados e suas histórias não seriam contadas oficialmente. Precisamos lutar contra esse apagamento da memória”, explica.
Desafios
A escravidão deixou um legado profundo de desigualdade e discriminação que persistem até hoje. Manter a memória da escravidão e reescrever os rumos da história são desafios importantes e contínuos de toda a sociedade.
“O trabalho dessa coordenação contará com a participação social. Neste primeiro momento, vamos ouvir para realizar um diagnóstico, contando com diferentes experiências”, detalha Fernanda.
Fernanda Thomaz complementa ainda que, a partir desse processo inicial, serão viabilizadas políticas de Estado que permaneçam independente do governo vigente.
“Temos quatro anos pela frente e não conseguiremos fazer tudo, afinal, são séculos de urgência. Mas faremos uma base para mudar, de fato, a vida das pessoas. Um caminho para reescrever a história”, conclui a gestora.
Assista à íntegra do perfil de Fernanda Thomaz
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Texto : N.C.
Edição : R.D.
Revisão : A.O.
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