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PERFIL
Filha da Amazônia: a trajetória de Symmy Larrat e a luta pela visibilidade LGBTQIA+
Exercício do pensamento crítico foi fundamental para a libertação da atual porta-voz da bandeira LGBTQIA+ dentro do Governo Federal (Foto: Clarice Castro - Ascom/MDHC)
“Sou Symmy Larrat, paraense, amazônida, travesti, militante pelos direitos humanos e pela causa das pessoas LGBTQIA+”. Assim começa esta entrevista que aborda a trajetória de descobertas, lutas e objetivos da primeira travesti a assumir cargo no segundo escalão do Governo Federal. De sorriso fácil, frases de efeito e muita sensibilidade, Symmy Larrat está à frente da inédita e desafiadora pasta do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC): a Secretaria Nacional dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+.
Em sua caminhada pela garantia de direitos desta população, Symmy sempre se destacou pelo vigor e espírito de liderança na luta pela pauta, mas nem sempre foi assim. “Elementos da minha trajetória me fortaleceram, me prepararam para assumir esse cargo e, sobretudo, me ajudaram a saber exatamente como fazer as políticas públicas chegarem aonde precisam chegar”, avisa.
Pensamento crítico
De origem tradicional cristã, Symmy subverte estereótipos do imaginário social ao defender a família e sua relação com a religião. “Nasci em uma casa ribeirinha tradicional de Belém do Pará, com formação Católica Apostólica Romana”, rememora. A gestora é filha de uma professora de história e sempre foi encorajada a exercer o pensamento crítico.
“Fui incentivada a ler desde muito cedo, agradeço imensamente minha mãe por isso. Eu vim do lugar da religiosidade, mas também da criticidade, da indagação e do incômodo com a injustiça. Esta é a base, a origem, o lugar que me emancipou e sempre será o fundamento da minha vida”, aponta. Ao contrário do que parece óbvio, Larrat não começou sua militância na causa LGBTQIA+.
Antes disso, a gestora se destacou em ações de igreja, organizações de bairro e movimentosestudantis. Cursou Comunicação Social e abraçou a luta pela democratização das comunicações. “Sempre fui convocada pela vida a lutar pelo que é justo para públicos específicos”, conta.
Descobertas
As vivências pessoais foram determinantes para a descoberta de Symmy como uma figura de referência dentro do movimento. “A indignação fez eu me mover politicamente. O processo de luta ideológica me fez externalizar opiniões. Foi por isso que, aos 16 anos, assumi para minha família a homossexualidade, pois entendi que, naquele momento, era o mais confortável a se fazer. Mesmo assim, ainda sentia que não era eu. Ainda não me enxergava naquele lugar”, revela.
Mais tarde, em sua saga pela sobrevivência e autoconhecimento, Symmy recorreu aos movimentos artísticos enquanto transformista. “Vi nas performances uma oportunidade de me expressar. Fiz apresentações como drag queen, comecei a organizar as paradas do orgulho gay e, assim, ganhar uma visibilidade no movimento lá no Pará”, relembra. A essa altura, a ativista começou a ficar conhecida, tornando-se uma personalidade da noite com muita opinião política.
No decorrer do tempo, já aos 30 anos, Symmy iniciou o processo de transição de gênero com base em percepções que se sobrepuseram diante da trajetória da gestora. “Ao viver a minha transgeneridade, na época das performances, foi que percebi que estava fingindo, e isso machuca demais”, expõe.
Libertação
Diante da inadequação entre o ser e o vir a ser, Symmy Larrat recorreu a quem pessoas LGBTQIA+ costumam buscar abrigo vital. “Nesse momento, chamei minha mãe e falei: eu não sou essa pessoa. Achava que se falasse que eu era travesti, minha mãe não ia me querer mais, que acharia um absurdo, mas foi o contrário”, revela.
Symmy assumiu que era travesti. A partir do episódio, a libertação assumiu o lugar do medo, do sentimento de estranheza e falta de pertencimento. “A partir desse momento, viramos mãe e filha de fato. O acolhimento dela me emociona diariamente,” conta em meio às lágrimas. É assim que Symmy revela sua sensibilidade em relação ao que, para ela, é considerado família.
“Lutei a minha vida inteira para defender minha família. Quando alguém chega e me fala que tal política não é para uma família como a minha, não está só me machucando, não está só ferindo as LGBTQIA+. Está ferindo mães, pais, irmãos, primos, amigos, colegas e todos que convivem com essas pessoas”, defende a secretária ao comentar sobre a invisibilização e luta diária contra o preconceito.
Visibilidade
Sobre a importância da criação da Secretaria Nacional dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+ no contexto do MDHC, a secretária é enfática ao definir o silenciamento de vozes como principal razão de existir da pasta. “Estou aqui para tornar visível tudo que desde sempre esteve escondido. Como vou criar políticas públicas se eu não enxergo os problemas em si”, questiona.
Para Symmy, certos assuntos não podem ser deixados para depois e esta é a justificativa para a criação da área e de tudo que será feito. “A visibilidade salva. A invisibilidade mata”, declara ao se referir ao fato de que o Brasil é o país que mais mata pessoas LGBTQIA+ no mundo.
Assim se inicia o mandato de Symmy como secretária nacional dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+ do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania. Com um ar de renovação e a força de vontade para construção, o sentimento de revolução se mostra presente no olhar dessa militante que, agora, é a porta-voz de todo um movimento.
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