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Na 3ª Caminhada do Silêncio em SP, Silvio Almeida ressalta que o Brasil ainda precisa superar traumas do passado
Com a sociedade civil. ministro Silvio Almeida participa da marcha da 3ª Caminhada do Silêncio, em SP. Na imagem, o ministro está ao lado do pedagogo e padre Júlio Lancellotti (Foto: Ruy Conde - Ascom/MDHC)
Último ato da Semana do Nunca Mais – programação promovida pelo Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) pela recuperação da memória, verdade e justiça -, a 3ª Caminhada do Silêncio aconteceu neste domingo (2) no Parque Ibirapuera, em São Paulo, com a presença do ministro Silvio Almeida e do assessor especial de Defesa da Democracia, Memória e Verdade do MDHC, Nilmário Miranda. A atividade é organizada pela sociedade civil desde 2019 e busca conscientizar a população sobre as mazelas da ditadura militar instaurada no Brasil há 59 anos.
Em sua fala, Silvio Almeida afirmou que os 21 anos de existência do golpe militar repercutem até os dias atuais. “Precisamos lidar com os traumas do passado para que a verdade apareça e possamos fazer justiça em nome dos nossos mortos. Nem eles estarão a salvo se não cumprirmos nosso papel histórico de construir um futuro melhor para todos os brasileiros e brasileiras”, enfatizou.
Para Almeida, as violações de direitos humanos propagadas pelo golpe civil-militar de 1964 estão ligadas a outros eventos históricos em nível mundial, como o fascismo, o nazismo e as ditaduras sofridas pela América Latina. “Elas são resultado de um processo histórico que faz parte da mesma linha de continuidade. As técnicas de tortura e violência têm uma relação direta que faz com que a escravidão, o nazifascismo e as ditaduras estejam interligadas”, apontou o ministro.
Na análise temporal, Silvio Almeida recorreu ao filósofo alemão Walter Benjamin para reiterar que o passado tem que ser parte de um processo de construção “para que nós nos lembremos dos perigos que o passado encerra a fim de que nós possamos fazer com que as reminiscências nos liguem a propósitos de esperança de um novo mundo”.
O ministro lembrou que as arbitrariedades do tempo presente ainda estão ligadas à ditadura militar. “Quando falamos dos jovens que morrem nas periferias do Brasil inteiro pela violência policial, estamos no presente. Estamos falando, portanto, de um passado que não passou”, declarou.
“Este ato acontece para que essas violências não ocorram novamente e não repercutam como têm repercutido na vida de cada um de nós, a exemplo do 8 de janeiro. Isso é resultado de um país que não consegue lidar com seus traumas”, relacionou.
Desaparecidos políticos
Mais cedo, Silvio Almeida esteve no Centro de Antropologia e Arqueologia Forense (CAAF), órgão complementar da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) responsável por identificar desaparecidos políticos durante a ditadura militar.
Ex-perseguido político, Nilmário Miranda contou que esteve na sexta-feira e no sábado na sede do antigo DOPS, departamento que serviu como centro de tortura. “Eu fui preso lá, 51 anos atrás. Soube que 85 mil pessoas por ano frequentam ali [aquele espaço]. Setenta por cento dos que estavam lá eram jovens, estudantes de escola pública. Mudar a cultura das pessoas [sobre o que foi a ditadura] é fundamental”, defendeu.
O humanista reiterou que a democracia é indissociável da busca por memória e verdade. “A democracia nunca irá se consolidar e prosperar na mentira, no ódio e no ambiente criado [recentemente no país]”, disse, ao relembrar a 1ª sessão pública da Comissão de Anistia , ocorrida na última quinta-feira (30/3). “A Comissão foi usurpada pelo governo anterior, que levou para lá uma pessoa adepta à tortura, um militar que escreveu o prefácio de um livro de um torturador condenado pela justiça. A anistia virou um tribunal de exceção”, criticou Nilmário.
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Reconstrução
Em sua fala, Nilmário antecipou, sob aplausos, que a procuradora federal Eugênia Gonzaga voltará a presidir a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos. “Ela foi profundamente desrespeitada pela gestão anterior e voltará à presidência da comissão pela relação com os direitos humanos e a trajetória que falam por si mesma”, destacou.
Sobre os trabalhos da Assessoria Especial da qual é titular, Nilmário ressaltou a reconstrução do Brasil como maior inspiração. “Quaisquer problemas que tenhamos são problemas da reconstrução. E trabalharemos em base correta, sólida e sustentável – inseridos em um projeto maior: o nosso Brasil”, frisou.
A secretária municipal de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo, Soninha Francine, destacou a honra da Prefeitura paulistana em apoiar o ato. “Precisamos conhecer, estudar, revirar, reverter as violações históricas, como a política, institucional e simbólica. Precisamos conhecer a história, respeitar a história e honrar a história. Liberdade, presente! Democracia, presente! Direitos Humanos, presente!”, bradou.
A Caminhada
Com atividades culturais e ritos em memória dos mortos e desaparecidos – como entrega de flores, fotos, cartas e velas ao Monumento dos Mortos e Desaparecidos Políticos, a caminhada seguiu após as declarações pelas ruas da capital paulista.
Incluída oficialmente no calendário oficial da cidade de SP em 2023, a Caminhada do Silêncio pelas Vítimas de Violência do Estado acontece desde 2019 quando a sociedade civil se organizou para lutar contra as injustiças ocorridas durante a ditadura militar no Brasil.
A atividade é realizada pelo Movimento Vozes do Silêncio e organizada pela Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania em parceria com instituto Vladimir Herzog e o Núcleo de Preservação da Memória Política.
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Texto: R.D.
Edição: P.V.
Revisão : A.O.
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