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Governo Federal e OIM lançam pesquisa sobre deslocamento da população indígena refugiada e migrante venezuelana no Brasil
Representante do MMFDH, a secretária nacional de proteção global, Mariana Neris, integra a ação. (Foto: Divulgação)
A Matriz de Monitoramento de Deslocamento Nacional sobre a População Indígena Refugiada e Migrante Venezuelana é a primeira pesquisa de perfil populacional nacional sobre o tema realizada no Brasil. A inciativa, lançada na última quinta-feira (18), é uma parceria entre o Ministério da Cidadania (MC), o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH), a Fundação Nacional do Índio (Funai) e a Organização Internacional para as Migrações (OIM).
O estudo contribui para a discussão de ações e políticas públicas e a promoção de direitos sociais, culturais e econômicos voltados para esta população. Também facilita a elaboração de novas pesquisas e metodologias, ampliando o conhecimento e a comunicação com as comunidades indígenas.
“O lançamento da Matriz de Monitoramento de Deslocamento Nacional sobre a População Indígena Refugiada e Migrante Venezuelana significa um grande salto nos estudos sobre a população indígena no Brasil”, ressaltou a secretária nacional de proteção global do MMFDH, Mariana Neris. “Na prática, os resultados vão contribuir na qualificação da discussão sobre a população indígena, com dados e evidências que poderão subsidiar as ações e políticas públicas em diversas áreas, na promoção de direitos sociais, culturais e econômicos desta população. Parabenizo a todos os envolvidos dessa iniciativa. O Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos segue trabalhando pela melhoria da qualidade de vida dos migrantes e refugiados venezuelanos de origem indígena residentes no Brasil", complementou.
O diretor de proteção social especial do Ministério da Cidadania, Danyel Iório, destacou que “essa pesquisa entrevistou diversos indígenas venezuelanos que vivem no Brasil, ampliando assim nosso conhecimento sobre esse grupo, o que é fundamental para a construção de políticas públicas mais adequadas às necessidades deles".
Foram mapeadas 3.328 pessoas de 825 famílias e 91 grupos de 7 etnias diferentes, originárias dos estados venezuelanos de Tamacuro, Monagas e Bolivar. Dentre os entrevistados, encontram-se indígenas das seguintes etnias: Warao (70%), Pemón (22,5%), E’ñepá (3%), Kariña (0,3%), Wayúu (0,2%), Ye’Kwana (0,1%) e Baniva (0,1%), sendo estes dois últimos povos indígenas mapeados primeira vez em registros oficiais referentes ao fluxo venezuelano.
“Desde 2017 a OIM trabalha com os indígenas no fluxo da Venezuela para o Brasil. Após a realização de estudos técnicos pioneiros avaliamos com nossos parceiros no governo e na sociedade civil que era fundamental um estudo detalhado de perfil para orientar nossa atuação futura. É isso que pretendemos entregar com a publicação deste DTM”, informa o chefe de missão da OIM Brasil, Stéphane Rostiaux.
Quanto ao perfil das pessoas, a maioria é do sexo masculino (52%) e metade (50%) está na faixa de 0 a 18 anos. Entre os idiomas falados pelos entrevistados, foram identificados sete, sendo o Warao (92%) o mais abrangente. A população também fala em grande parte o espanhol (77%) e o português (40%).
O estudo traz ainda dados a respeito das principais motivações para os indígenas migrarem, como a situação econômica e a insegurança alimentar, mostra rotas utilizadas internamente no Brasil, indica que a situação documental das pessoas está regular na maioria dos casos e aponta para o nascimento de indígenas das etnias entrevistadas no país.
Entre os entrevistados, a indígena Warao de Antonio Díaz, município do Delta Amacuro, Alicia Arangure, diz ter chegado ao Brasil “buscando trabalho, procurando acolhimento e uma boa educação”. Yimi Mendonza Blanco, também indígena Warao, informa de ter vindo o Brasil “buscando uma melhor vida para nossos filhos”.
Quanto à integração econômica, o principal desafio para se inserirem em atividades produtivas no país apontado é o aprendizado da língua portuguesa. As principais ocupações já exercidas pelas pessoas mapeadas são o artesanato (47% das mulheres e 13% dos homens) e o trabalho rural (37% dos homens e 13% das mulheres).
Na educação, destacam-se os índices de analfabetismo (24%), de ensino fundamental incompleto (15%) e passagem pelo ensino indígena (22%) em todas as faixas etárias. Na saúde, os dados indicam que 90% das pessoas possuem cartão de vacinas, enquanto 20% das pessoas responderam espontaneamente ter o Cartão do SUS. Entre os grupos que buscaram atendimento no Sistema Único de Saúde, 90% disseram ter recorrido primeiro às práticas de cura tradicionais indígenas.
Com a participação de governos locais e da sociedade civil, o levantamento foi realizado em três regiões brasileiras nas cidades de Pacaraima (RR), Boa Vista (RR), Altamira (PA), Belém (PA), Itaituba (PA), Parauapebas (PA), Santarém (PA) e Manaus (AM) na região Norte; Imperatriz (MA), São Luiz (MA) e Recife (PE) no Nordeste; e Goiânia (GO) e Brasília (DF) na região Centro-Oeste. A Funai e o Sistema Único de Assistência Social (SUAS) e de Direitos Humanos apoiaram na realização das entrevistas.
As equipes de entrevistadores receberam treinamento técnico e foram orientadas aos procedimentos e recomendados pelas autoridades sanitárias de prevenção ao Covid-19, no contato com as comunidades mapeadas. As lideranças e demais indígenas desempenharam um papel ativo nas consultas iniciais de validação e consentimento da participação na pesquisa.
Estudo
A Matriz de Monitoramento de Deslocamento (DTM, na sua sigla em inglês) é uma ferramenta da OIM aplicada no mundo todo desde 2004. No Brasil, sua primeira edição data de março de 2018. As oito edições realizadas no país cobriram principalmente o movimento de venezuelanos que chegavam ao estado de Roraima, produzindo informações relevantes sobre o perfil e as necessidades dessa população, facilitando a execução da acolhida emergencial humanitária e o desenho de políticas públicas de proteção e integração.
A realização da DTM no Brasil faz parte da estratégia da OIM para apoiar o país na acolhida e integração dos refugiados e migrantes que chegam da Venezuela e conta com o apoio financeiro do Escritório de População, Refugiados e Migração (PRM) do Departamento de Estado dos Estados Unidos da América.
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