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Programa Reconecte ajuda famílias a enfrentar os impactos negativos da tecnologia
Brasileiros ficam, em média, 9 horas e 20 minutos por dia conectados, segundo estudo da Hoopsuite em parceria com a We Are Social
Problemas físicos, psicológicos, de relacionamento familiar e, em casos mais graves, pedofilia, abuso e exploração sexual. Essa é a face negativa do surgimento da internet e das novas tecnologias enfrentada pelas famílias brasileiras. Para auxiliar aos pais no enfrentamento dessa realidade, a Secretaria Nacional da Família, do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (SNF/MMFDH) criou, em 2019, o Programa Reconecte.
A iniciativa tem o objetivo de fortalecer vínculos, orientando e educando as famílias para que usufruam de forma coerente das novas tecnologias. A ideia é fornecer conhecimento científico à toda a população para que aprendam a lidar com o assunto de forma harmoniosa e consciente.
“É muito preocupante quando as relações pessoais deixam de ser o principal e as telas tomam esse lugar. Precisamos restabelecer as relações reais com a família e só assim o mundo virtual cumprirá o seu papel”, pontuou a secretária nacional da família, Angela Gandra.
Para auxiliar na disseminação do conteúdo do Reconecte, está sendo desenvolvido um curso à distância, na modalidade EaD, que irá formar facilitadores para orientar pais e mães que tenham filhos com idade entre 9 e 14 anos. O conteúdo será oferecido de forma gratuita a profissionais da área da saúde e educação de municípios que firmarem acordo com a Secretaria. A expectativa para o lançamento é agosto de 2021.
“Essa é uma preocupação social e humana. Precisamos trabalhar com prevenção e conscientização. Os pais não podem ter medo de impor limites. Isso não é controle, é uma parceria, um acompanhamento positivo”, ressaltou Angela Gandra.
Realidade
Durante transmissão pela internet, com a participação da secretária Angela Gandra, o psicólogo com pós-doutorado pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), Cristiano Nabuco, compartilhou o drama vivido por algumas famílias que têm membros que sofrem com o uso imoderado das novas tecnologias.
Entre as histórias estava a de uma mãe de um menino de apenas dois anos e quatro meses que já não conseguia realizar atividades básicas do dia a dia, como fazer refeições ou ir dormir, sem a companhia de um aparelho celular. Ela buscou ajuda no Ambulatório dos Transtornos do Impulso (AMITI) do Instituto de Psiquiatria da Fac. de Medicina da Universidade de São Paulo, setor coordenado por Nabuco. Segundo ele, histórias como essa são comuns no local.
“Essa mãe estava muito angustiada. Fiquei tocado pelo drama. Esse é o resultado do uso abusivo e incontrolado de aparelhos eletrônicos. Muitas questões de saúde mental e física estão diretamente ligadas ao uso desmedido da tecnologia nas mais diferentes idades. Precisamos levar a conscientização do uso da tecnologia para as famílias de todo o Brasil”, defendeu o psiquiatra.
As consequências da exposição prolongada às telas
Mencionado pelo especialista, um estudo realizado pela Hoopsuite em parceria com a We Are Social revelou que os brasileiros ficam, em média, 9 horas e 20 minutos por dia conectados por algum dispositivo eletrônico. O levantamento, que se baseou nos relatórios da GlobalWebIndex, GSMA Intelligence, Statista, Locowise, App Annie e SimilarWeb, ainda mostrou que no ranking internacional, o Brasil apareceu atrás apenas das Filipinas.
Nabuco explicou que essa exposição prolongada às telas digitais pode trazer uma série de doenças físicas e mentais. Segundo o estudioso, a inclinação do pescoço quando se manuseia um smarthphone por um tempo prolongado faz com que o peso da cabeça aumente, pelo menos, sete vezes, podendo causar problemas na cervical, por exemplo.
Além disso, esclareceu que, a partir do momento em que a criança interage com um conteúdo multimidiático, seu cérebro demanda mais energia e a queima metabólica dos neurônios aumenta de forma considerável. “O salto metabólico afeta a estrutura física do cérebro. Quanto mais tempo de exposição, menor a consistência de certas áreas do cérebro e isso compromete o desenvolvimento infantil”, disse.
O especialista alertou ainda que a luminosidade dos dispositivos, ao atingir o globo ocular, afeta as células fotossensíveis do corpo, responsáveis por informar ao cérebro a hora de dormir. “A luminosidade confunde o relógio biológico do cérebro resultando no atraso da liberação da melatonina – hormônio ligado ao processo de adormecimento. Assim, atualmente, é normal que as crianças e adolescentes não durmam direito e, quando não se dorme corretamente, surgem os problemas ligados a baixa fixação de memória”, afirmou.
“Além disso, existe outra questão importante que é a exposição à radiação exagerada emitida pelos aparelhos e que, também segundo pesquisas, colabora com a perda de memória recente. Inclusive, o National Institute of Health já emitiu alertas a respeito dos riscos que o uso das telas pode ocasionar, principalmente, em crianças”, orientou.
Uma outra pesquisa publicada pela revista americana Sleep demonstrou que 50% das crianças pesquisadas, com idade variando entre zero e oito anos, acordavam pelo menos uma vez na noite apenas para olhar as redes sociais. Já entre as adolescentes, um estudo disponível no CMAJ.JAC Journal indica que meninas entre 13 e 14 anos, que usam as redes sociais por mais de três horas por dia, têm 70% mais chances de se auto lesionar.
“Na adolescência, momento em que nos sentimos muito imperfeitos e inseguros, o sucesso dos demais gera um imenso desconforto pessoal. Ou seja, nas redes vemos uma outra realidade, preenchida com corpos maravilhosos e retocados. São vidas incríveis e isso pode, muitas vezes, gerar um colapso emocional”, descreveu o estudioso.
Além das implicações físicas e psicológicas, outros problemas que preocupam a rede de proteção de crianças e adolescentes são a pedofilia e o abuso e a exploração sexual em ambiente virtual. “Você deixaria uma criança de oito anos parada na porta de casa conversando com qualquer estranho que passa? Na medida em que se dá uma tela digital para um filho e não se entende os riscos, os desdobramentos são prejudiciais e perigosos”, afirmou o psicólogo.
“A família tem um papel fundamental nesse processo. O Estado também tem que proteger, mas não substitui o papel da família. O cuidado com o coração e o corpo das crianças é dos pais que precisam dialogar, criar um senso crítico e acompanhar. Estamos atentos ao impacto das tecnologias na exploração sexual e abuso de crianças. Precisamos encaminhar para o uso moderado das tecnologias, e os pais devem ser os supervisores, têm que se engajar na vida dos filhos”, completou Gandra.
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