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Setembro Amarelo impacta jovens com campanhas de conscientização
O Setembro Amarelo – mês de prevenção ao suicídio – se encerra com uma série de ações da Secretaria Nacional da Juventude (SNJ), do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH). Entre as iniciativas que valorizaram a importância do diálogo, a campanha "Acolha a Vida" e, em parceria com o Ministério da Saúde (MS), a campanha “Se liga! Dê um like na vida”.
“A juventude é a que mais mata e a que mais morre se você for ver os índices. Precisamos de campanhas que estimulem viver bem e com saúde mental. O suicídio e a automutilação são preocupantes e precisamos proporcionar programas que mudem essa realidade”, reforça a secretária nacional da Juventude, Jayana Nicaretta da Silva.
A campanha Acolha a Vida introduz o assunto do suicídio perante a sociedade, tendo como pano de fundo o fortalecimento dos vínculos familiares na construção de uma sociedade que dialogue sobre as temáticas que obedeça à transversalidade do tema.
Já a campanha “Se liga! Dê um like na vida” tem o objetivo de estimular o jovem a compartilhar momentos com a família e amigos, conversar mais, fortalecendo a importância do diálogo e desmistificando a vida virtual. A iniciativa reforça a necessidade de ficar atento aos sintomas da depressão e de buscar ajuda.
Entidades civis
O Centro de Valorização da Vida (CVV) oferece atendimento 24 horas a quem está com pensamentos suicidas ou que enfrenta outros problemas. O serviço pode ser acionado para um voluntário ir até a casa da pessoa ou conversar via chat, telefone (ligar 188) ou e-mail.
Uma outra alternativa é a Rede de Atenção Psicossocial (Raps), da qual os Centros de Atenção Psicossocial (Caps) são partes integrantes, que são as unidade do Sistema Único de Saúde (SUS) que atendem pessoas com algum tipo de sofrimento mental.
Em seguida, recomenda-se um tratamento continuado com profissionais da saúde mental, como psicólogo(a) e/ou psiquiatra, dependendo do caso. Isso porque essa vontade veio à tona como consequência de conflitos pessoais pelos quais a pessoa está passando e não por um acontecimento externo em si, mesmo que esse possa ter desencadeado a decisão. Desta forma, há grandes chances de não haver reincidência da tentativa da pessoa, além do efeito positivo em sua saúde mental a longo prazo.
Cenário preocupante
Em 2018, de acordo com o Ministério da Saúde, o Brasil registrou mais de 11 mil suicídios, dentre os quais mais de 10 mil foram cometidos por homens. Eles representam 79% dos casos mapeados entre 2011 e 2016, segundo dados do Ministério da Saúde. A taxa de mortalidade masculina é 4 vezes maior que a das mulheres e o suicídio é a terceira maior causa de óbitos entre homens de 15 a 29 anos (9 por 100 mil habitantes), perdendo apenas para agressões (110,6) e acidentes de transporte (41,3).
Esses dados falam muito do problema da violência no nosso país. Homens e jovens morrem por suicídio e por homicídio mais do qualquer outro recorte populacional.
Indicadores históricos
Segundo a psicóloga Paula Mancebo Fernandes, cultural e historicamente, o homem expor suas angústias é visto como uma demonstração de fraqueza. “Ensina-se a não falarem de seus sentimentos, e, por isso, aprendem a não procurar ajuda quando precisam. Desde cedo, familiarizam-se com contextos em que homens são autorizados a serem agressivos ou violentos. Veem, diariamente, avôs e pais usando da violência para resolverem problemas, entendendo esta como a alternativa mais óbvia”, explica.
Os homens se matam e matam outros, em uma frequência preocupante. Não ser capaz de identificar os sentimentos, de nomear o que se sente, é um dos motivos que leva inúmeros homens a utilizarem a violência como linguagem. E isso perpassa a linguagem com ele mesmo, com outros homens, com mulheres, com filhos; atingindo questões urgentes para nossa sociedade.
Os homens são 95% da população prisional no Brasil. De onde surgem tantos crimes?
Foi feita pesquisa que apontou que somente 1 em cada 10 homens já conversou com o pai o que significa ser homem. Apenas 3 em cada 10 homens têm o hábito de conversar sobre seus medos e dúvidas com os amigos. Eles sofrem calados e sozinhos. Além disso, 6 em cada 10 afirmam lidar hoje com distúrbios emocionais em algum nível, mas evitam buscar ajuda. Os problemas mais comuns são ansiedade, depressão, vício em pornografia e insônia.
“A falta de referência de uma masculinidade saudável, de uma figura paterna acolhedora e de outras possibilidades de ser homem - além da do homem másculo que não acessa seus sentimentos - restringe, nos meninos, suas expressões de afeto e busca por se conhecerem, fazendo com que se sintam menos homem por serem diferentes do que se espera”, explica Paula. Dessa forma, e, de acordo com o contexto familiar de cada um, muitos caem em desamparo, tornando-se violentos, vindo a considerar a violência como a melhor via de resolução de um conflito. Seja ele interno ou externo (e, muitas vezes, um está atrelado ao outro).
É preciso criar espaços que possibilitem às crianças e jovens pertencer ao mundo masculino de maneira saudável, valorizando o diálogo e o respeito mútuo, para que se humanize o significado do masculino, que se valorize ser humano em detrimento de ser alguém que não se abala. Porque todos se abalam, sem exceção.
Mulheres
Entre as mulheres de 15 a 29 anos, o suicídio é a oitava causa de morte, superada por óbitos decorrentes de gravidez, parto e pós-parto, acidentes de transporte, agressões (novamente) e outros. Entretanto, embora as mulheres consumem menos o ato de se matar, já que quase 80% dos óbitos são de homens, elas tentam mais. Das 48.204 tentativas de suicídio notificadas entre 2011 e 2016 no país, 69% foram praticadas por mulheres. Sendo que em 31,3% dos casos, elas tentaram o ato mais de uma vez.
“Aí está uma clara deficiência do sistema que merece atenção redobrada. A rede tem que acolher esse paciente para ofertar a assistência necessária e impedir a reincidência. O atendimento não pode acabar após o paciente ter se recuperado, já que a maior parte dos casos de suicídio tem relação com transtornos de humor, entre eles a depressão”, destaca a psicóloga.
Mas, se as mulheres tentam mais, por que os homens morrem mais? A principal hipótese é a de que usam meios mais violentos para o ato, portanto, mais eficazes, enquanto as mulheres tendem a usar métodos mais lentos e menos letais, o que aumenta as chances de salvamento.
Além disso, homens tem contato mais próximo com um maior número de fatores de risco, como abuso de álcool ou outras drogas e até mesmo o isolamento.
Percebe-se a urgência em ter um olhar atento e cuidadoso para o problema. Olhar mais para o que sentimos e também para as pessoas que amamos e convivemos. Por fim, acreditar que uma realidade melhor é possível.