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Crianças, adolescentes e jovens estão entre os grupos mais suscetíveis ao suicídio e automutilação, apontam especialistas
“Nós vamos ter que entender o que está causando esse sofrimento. E como mudar essas realidades. Por isso a campanha conta com consultores especialistas no tema”, observa a ministra.
Sobre as temáticas, a titular do MMFDH observa que fatores como bullying e cyberbullying, abandono, abusos físicos e sexuais, além de famílias desestruturadas, podem contribuir para o aumento dos índices de suicídio e automutilação.
“Vamos lutar pelas famílias. A promoção de ações voltadas ao fortalecimento dos vínculos familiares está entre os nossos principais desejos. Vamos continuar trabalhando”, ressaltou nesta quinta-feira (25).
Dados
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), de 5,0 a 9,9 mortes por 100 mil habitantes no Brasil tiveram o suicídio como causa no ano passado. “Estima-se que, anualmente, a cada adulto que se suicida, pelo menos outros 20 possuem algum tipo de ideação ou atentam contra a própria vida. O suicídio representa 1,4% das mortes em todo o mundo. Entre os jovens de 15 a 29 anos, é a segunda principal causa de morte”, afirmou a OMS sobre os dados referentes a 2017.
Acolhimento
De acordo com o psicólogo especialista em Prevenção do Suicídio e doutorando da Universidade de Brasília (UnB), Carlos Aragão, o suicídio e a automutilação são dois importantes problemas de saúde.
“No caso da autolesão, nós vemos o método mais prevalente, que é o corte. A prevalência deste comportamento autodestrutivo está na faixa etária que vai da pré-adolescência até o adulto jovem, ou seja, dos 10 até os 25 anos, aproximadamente, onde são encontrados o maior número de casos”, explica.
Segundo o profissional, se o problema não for tratado, pode evoluir para um quadro mais grave. Ele ressalta que, “ao verificar que alguém está com esse comportamento, você precisa, imediatamente, acolher essa pessoa”.
“Nessas situações, a recomendação é não agredir, não julgar, não agir com preconceitos ou dogmas. O que essa pessoa em profunda dor precisa, naquele momento, é de alguém que se importe, que se vincule de forma sincera e pergunte como está se sentindo. Deixe a pessoa falar. O desabafo em uma hora como essa, dividir essa angústia, é essencial”, destaca.
Sinais
O psicólogo aponta, ainda, sinais que podem demonstrar riscos. “Isolamento social, a perda do prazer em atividades que a pessoa gostava, crises de choro frequentes, tristeza profunda, queda no rendimento escolar e afastamentos no trabalho sem motivos aparentes estão entre os exemplos. Completam a lista, agressividade, impulsividade e as pessoas que falam muito em morte, que tomam providências de despedida.”
O profissional afirma que também é preciso estar atento às postagens nas redes sociais. “Isso não quer dizer obrigatoriamente a pessoa está pensando em tirar sua vida, mas isto é um sinal de que alguém está em sofrimento, e nós não devemos pagar para ver”.
Automutilação
Psiquiatra da Infância e da Adolescência com atuação no Hospital Universitário de Brasília (HUB), André Salles enfatiza que fatores como depressão e ansiedade podem contribuir para a dor que motiva os sofrimentos infligidos ao próprio corpo.
Sobre a automutilação, o médico afirma que “o estado emocional tem relação com raiva, desespero, aflição, além de adotar formas menos severas de atentar contra si e com uma maior periodicidade”.
“Estima-se que um a cada cinco adolescentes já praticou a autolesão não suicida pelo menos uma vez na vida. O fenômeno da autolesão, durante muito tempo, foi associado a personalidade emocionalmente instável. Porém, pesquisas recentes tendem a atualizar esses dados, associando a diversos fatores, entre eles, a depressão, o Transtorno Obsessivo Compulsivo, a ansiedade e outros”, disse.
O psiquiatra aponta que eventos adversos ocorridos, sobretudo, na infância e na adolescência, tornam-se tóxicos e comprometem o desenvolvimento psíquico do indivíduo. “Abuso físico e sexual, maus-tratos, separação parental, ciclo familiar instável e precário, condições sociais desfavoráveis são situações dramáticas e extremamente tóxicas”, completa.
Crianças e adolescentes
Para a psicóloga Priscila Moraes Henrique, que atualmente integra o quadro de profissionais de um centro clínico de Brasília/DF, a infância e a adolescência são fases nas quais os processos de formação vão acontecendo, do imaginário à personalidade. A especialista alerta que muitas vezes os principais atingidos não conseguem ainda ter a real noção de como a vida acontece e nem de como podem se defender em alguma situação de perigo.
“É muito mais fácil praticar certas coisas com crianças e adolescentes, uma vez que a reação pode não ser imediata, ou que eles não saberão se proteger, justamente por não entenderem que estão em uma situação perigosa. Ou, ainda, por serem amedrontados e facilmente desencorajados a recorrer a alguém que possa ajudá-los”, alerta.
Disseminação de informações
A especialista chama a atenção, ainda, para um fator que pode incidir principalmente sobre pessoas na fase da adolescência. Segundo ela, a disseminação de informações – seja pessoalmente, por WhatsApp, e-mail – e o anonimato fazem com que esse envio seja, muitas vezes, inconsequente.
“A adolescência é a fase em que a busca por grupos sociais é bem latente, com o anseio de fazer parte de um grupo, de se sentir interagindo com as outras pessoas que vivem as mesmas coisas, por essa e outras questões costuma ser uma fase delicada”, completa.
A terapeuta explica que, muitas vezes, os comportamentos dos adolescentes são formas de se sentirem parte de determinado grupo, uma questão de identificação.
“Um adolescente que possivelmente está inserido em um contexto de vida difícil, que já vive uma alta carga emocional, ao receber informações sobre casos de suicídio, de automutilação, de pessoas que vivem ou viveram um contexto parecido com o seu, essa identificação acontece. E para se ‘livrar’ de algo considerado ruim ou apenas para viver a mesma experiência que o outro, o adolescente pode agir da mesma maneira”, exemplifica.
Campanha
O Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH) lançou a campanha “Acolha a Vida” no último dia 12. A iniciativa visa prevenir suicídios e automutilação em todas as faixas etárias, especialmente crianças, adolescentes e jovens.
Entre os parceiros da iniciativa, está a atriz e empresária Luiza Brunet. Convidada pelo ministério, a artista não recebeu cachê para integrar a ação. “Pouca gente de fato consegue perceber que por trás de uma rotina aparentemente normal pode haver um profundo sentimento”, observa.
Observatório
Visando incentivar o desenvolvimento de estudos e pesquisas relacionados à temática da família, além de ser referência para a elaboração de políticas públicas, o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH) lançou o Observatório Nacional da Família (ONF). Entre os objetivos, a ferramenta tem a proposta de acompanhar casos, situações e fatores que influenciam os índices de automutilação e suicídio, a fim de direcionar as ações necessárias.
O Observatório integra as ações da campanha “Acolha a Vida”. O ONF está estruturado em nove eixos temáticos. Entre eles, a conciliação família-trabalho e projeção social e econômica; saúde, demografia e família; direitos humanos, sistema de proteção social e políticas familiares; a família no contexto da educação; desenvolvimento e fortalecimento de vínculos familiares e parentalidade contemporânea.
Integram os temas, casamento e conjugalidade; mudanças do ciclo de vida familiar e relações intergeracionais; políticas de prevenção ao suicídio e autolesão provocada sem intenção suicida entre adolescentes e jovens; e o impacto da tecnologia nas relações familiares.
Biblioteca
O Observatório Nacional da Família mantém um acervo com livros, periódicos, vídeos e materiais didáticos. Os itens estão disponíveis para consultas e reprodução por meio da aba “Produção”, no endereço eletrônico do ONF. Mais informações podem ser obtidas pelo e-mail observatorio.onf@www.gov.br/mdh/pt-br, com o título ACERVO.