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Manifestações, religiosidade e unidade marcam a abertura da IV CONAPIR
A abertura da IV Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial (CONAPIR), promovida pelo Ministério dos Direitos Humanos, foi marcada por manifestações de vários grupos participantes, por uma forte presença religiosa e muita unidade entre delegados(as) e convidados(as). Num ambiente de muita democracia, as diversas delegações manifestaram suas posições políticas e reforçaram a luta contra o genocídio da juventude negra, contra a violência que afeta os templos e sacerdotes das religiões de matrizes africana, ameríndia e contra o feminicídio. A vereadora carioca Marielle Franco, assassinada há cerca de dois meses, símbolo de todas estas lutas, foi lembrada pelos delegados e pelo secretário da Igualdade Racial, Juvenal Araújo.
“Estamos vivendo mais um marco na história da promoção da igualdade racial, protagonizada pela atuação dos movimentos sociais, legitimado pelas ações do Governo Federal. Nosso compromisso é marchar em frente e ratificar a responsabilidade do governo e em parceria com toda sociedade brasileira com as políticas de promoção da igualdade racial, como fundamento à ampla democracia e ao crescimento amparado por harmonia coletiva”, afirmou o ministro dos Direitos Humanos, Gustavo Rocha.
A presidente nacional da União dos Negros pela Igualdade (Unegro), Ângela Guimarães, e Byany Sanches, da Rede Amazônia Negra (RAN), falaram oficialmente representando as organizações da sociedade civil no Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial (CNPIR).
Após lembrar que o Brasil é o segundo país do mundo com a maior população negra fora da África, com cerca de 107 milhões de pessoas, e o último país do mundo a abolir a escravidão, Ângela Guimarães criticou “o disfarce da 'democracia racial'” que “escondeu a realidade dos morros, das disparidades no acesso à educação, ao trabalho e a tantos outros campos do dia-a-dia do país”. Em seguida lembrou os “quase 20 anos de construção e consolidação de políticas de ações afirmativas” e acrescentou: “Os últimos 15 anos foram de total efervescência e de rupturas profundas nas políticas públicas universalistas voltadas à população brasileira e um avanço num círculo virtuoso, de uma política que sinalizava o reconhecimento do racismo e de medidas para sua superação. Essa construção é política e tem o movimento negro brasileiro como maior protagonista”.
“A IV Conapir fará uma apreciação das iniciativas que já estão executadas e apresentará todo planejamento de sua pauta junto a sociedade civil que é nossa principal ferramenta e que nos auxilia a exercer o controle social na consolidação das políticas de promoção da igualdade racial. Nossa Conferência tem como natureza elementar a participação e a inclusão da maior parcela da população brasileira – os negros – e de povos ciganos, quilombolas, religiosos de matriz africana, indígenas e demais grupos vulnerabilizados da população, nos espaços de decisão a fim de assegurar o equilíbrio e os interesses dessa diversidade étnico-racial”, acrescentou o secretário, Juvenal Araújo.
Carlos Calon, do Centro de Estudos e Discussões Romani (Cedro) também se pronunciou, apontando a situação que vive historicamente as comunidades ciganas. “Nós ciganos vivemos uma situação de muita precariedade e muito preconceito e desrespeito às nossas tradições, inclusive sendo importunados pela polícia, que não nos vê com bons olhos”, reclamou.
O secretário Juvenal abriu parte do tempo de sua fala para Henoc Pinto Neves e sua companheira, que falaram em nome das comunidades indígenas presentes à Conferência. “O povo indígena continua sendo perseguido e massacrado. Não podemos retroceder. Este é um momento de luta e resistência”, afirmou Henoc, lembrando das investidas dos latifundiários contra os povos indígenas.
O ato de abertura iniciou com uma manifestação das religiões de matriz africana. Junto à cerimônia religiosa, o clamor por justiça e a denúncia dos ataques criminosos contra os templos e a violência, inclusive com assassinatos dos sacerdotes. Na plenária, num sentimento de unidade e luta, os delegados gritavam suas palavras de ordem, com seus conteúdos políticos e exaltando bandeiras de luta das diversas representatividades na conferência.