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SUSTENTABILIDADE
Fortaleza será cenário do 2º Encontro Internacional para Sustentabilidade da Cadeia de Valor da Carnaúba
Foto: Wikipedia
Nos dias 17 e 18 de setembro de 2024, Fortaleza sediará o 2º Encontro Internacional Diálogos Pró-Carnaúba, evento crucial para discutir os desafios e avanços da cadeia de valor da carnaúba, essencial para a economia do Nordeste e indústrias globais.
O Encontro espera reunir 120 participantes, incluindo representantes de trabalhadores extrativistas, produtores rurais, industriais do setor, ONGs, órgãos públicos, academia e empresas que utilizam a cera de carnaúba na composição de seus produtos, como Natura, L'Oréal e Weleda, por exemplo. O evento será um espaço de articulação técnica e política, onde a troca de experiências e o debate entre os diversos atores da cadeia resultará na formulação de ações concretas para enfrentar os desafios do setor, como sustentabilidade, trabalho digno e inovação. Também está prevista a participação de empresas.
Erik Ferraz, da OIT Brasil, fala sobre a expectativa de um avanço mais estruturado para a cadeia. "Minha expectativa é que saiamos deste evento com um grupo mais comprometido para avançar rumo à criação de uma secretaria executiva do Diálogos da Carnaúba, para que possamos trabalhar de forma mais orgânica e estruturada. Esse é um processo que não acontece da noite para o dia, mas que precisa começar para que, daqui a cinco anos, possamos olhar para trás e ver o quanto avançamos, principalmente nas questões de trabalho decente", salienta o oficial de projetos da OIT Brasil.
Porquê do evento e os desafios sociais e ambientais da cadeia
O evento é promovido pela Cooperação Brasil-Alemanha para o Desenvolvimento Sustentável (GIZ), a Organização Internacional do Trabalho (OIT), a União para o BioComércio Ético (UEBT), o Projeto ArticulaFito, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA) e a Iniciativa Carnaúba Responsável (IRC), e busca promover a sustentabilidade, a justiça social e a inovação na cadeia produtiva da carnaúba, palmeira brasileira e recurso vital para a economia do Brasil, que gera milhões em exportações anuais, reunindo diversos atores para enfrentar desafios ambientais e trabalhistas.
Serão debatidos temas como estratégias para a promoção de um ambiente de negócios sustentável e inclusivo em todos os elos da cadeia, com especial atenção às comunidades extrativistas e produtores rurais, como promover ações sociais e culturais, como intercâmbios e feiras, para integrar os elos da cadeia e valorizar o trabalho dos extrativistas. Além disso, o evento ainda debaterá como desenvolver e aplicar tecnologias sociais que melhorem a qualidade de vida das comunidades extrativistas, preservando seus modos de vida e promovendo sua sustentabilidade. No evento, será formalizada a criação da Rede Diálogos Pró-Carnaúba, pensada como uma plataforma multissetorial de diálogo e cooperação voltada à promoção de práticas sustentáveis na cadeia produtiva da carnaúba. Dentre as marcas internacionais convidadas estão empresas do setor de cosméticos, higiene pessoal, beleza e alimentos, dentre outros.
Segundo Rik Kutsch Lojenga, Diretor Executivo da UEBT, a colheita da carnaúba enfrenta importantes desafios sociais e ambientais, como questões de saúde e segurança para os trabalhadores que realizam a coleta nas florestas, ameaças à biodiversidade local, condições de trabalho precárias e até a ocorrência de menores envolvidos no trabalho. "Diante desses desafios, é crucial reunir compradores e processadores de cera de carnaúba. Essas empresas precisam estar comprometidas em promover melhorias no setor, adquirindo cera de processadores locais que atendam aos critérios da IRC, incluindo a verificação independente de conformidade com padrões internacionalmente reconhecidos", destaca Rik.
Ele afirma, ainda, que, apesar das dificuldades, existe a convicção de que a união dos esforços pode melhorar significativamente as condições para os trabalhadores e a biodiversidade. "Por isso, na UEBT, estamos convocando todas as empresas que compram carnaúba, assim como os processadores de cera no Brasil, a se unirem à Iniciativa para a Carnaúba Responsável e a se comprometerem a enfrentar os desafios do setor de forma colaborativa", reforça Rik.
A carnaúba e sua importância mundial
A carnaúba (Copernicia prunifera), também chamada de carnaubeira ou carnaíba, é uma palmeira endêmica do semiárido da região Nordeste do Brasil, conhecida como a "árvore da vida", devido aos inúmeros usos que oferece às pessoas. Além de ser a árvore-símbolo dos estados do Ceará e Piauí, a carnaúba desempenha um papel essencial na economia global, já que a cera da carnaúba entra na composição de inúmeros produtos. Do pó da carnaúba é extraída a cera, amplamente utilizada em indústrias como a de cosméticos, alimentos, farmacêutica e automobilística. Além disso, todo o resto é aproveitado, por isso mesmo, a carnaúba é conhecida como árvore da vida.
Em 2022, por exemplo, o Nordeste produziu 645 toneladas de cera, 18.541 toneladas de pó e 1.490 toneladas de fibra de carnaúba, totalizando R$280 milhões. O Brasil se consolidou como o maior exportador mundial de cera de carnaúba, comercializando cerca de 88,7 milhões de dólares neste ano, embora tenha registrado uma redução de 19,5% em relação ao ano anterior.
Bruno Filizola, assessor técnico na GIZ Brasil, instituição que atua em mais de 30 projetos no país em áreas como bioeconomia e cadeias agrícolas, explica que a Alemanha, sendo um dos principais consumidores de cera de carnaúba, possui uma legislação de devida diligência rigorosa. “Essa legislação, que também é aplicada na União Europeia, exige que as empresas sejam responsabilizadas pela sustentabilidade em toda a cadeia produtiva, desde a origem até o consumo final, garantindo que as cadeias estejam livres de desmatamento e violações de direitos humanos”, explica.
Para Bruno, "os produtos adquiridos pela Alemanha, por exemplo, e utilizados em sua indústria, recebem grande atenção para que boas práticas sejam implementadas em todas as etapas da cadeia de valor. A carnaúba é uma dessas cadeias importantes, sendo a Alemanha um dos maiores consumidores de sua cera. Além disso, a carnaúba está diretamente relacionada a temas cruciais da cooperação, como mudança climática, geração de renda e conservação sustentável da biodiversidade, tornando-se relevante para nossas ações de cooperação internacional".
Os desafios da cadeia
Apesar de sua importância econômica, a cadeia produtiva enfrenta desafios significativos, como condições de trabalho precárias, impacto ambiental e falta de tecnologias adaptativas. A produção da cera, pó e fibra de carnaúba envolve extrativistas, agricultores e trabalhadores, que lidam com situações de trabalho análogo à escravidão e outros problemas trabalhistas.
Esses desafios exigem o engajamento de diferentes setores da sociedade para garantir a sustentabilidade e rastreabilidade dos produtos da carnaúba. Empresas do setor têm buscado por produtos sustentáveis, garantindo direitos humanos, preços justos e qualidade.
Moisés Savian, Secretário de Governança Fundiária, Desenvolvimento Territorial e Socioambiental do MDA, lembra que "o Brasil é o maior exportador da cera de carnaúba no mundo. Só em 2022 movimentou quase 90 milhões de dólares, de acordo com a plataforma Tridge. Esse é um potencial imenso, mas que ainda precisa dar oportunidades para os pequenos, para melhorar as condições de trabalho e a qualidade de vida de extrativistas e agricultores familiares da base produtiva".
Buscar soluções estratégicas, especialmente por meio de espaços de diálogos, é chave para a estruturação de uma cadeia mais justa e próspera: "Nosso objetivo é superar esses gargalos e construir relações justas e equitativas, com a repartição de benefícios entre todos. Nesse sentido, uma ação estratégica é estabelecer uma política de preço mínimo para a carnaúba – uma das pautas deste importante evento", destaca Moisés.
Valber Frutuoso, coordenador-geral do ArticulaFito e Assessor de Relações Institucionais da Presidência da Fiocruz, reforça a necessidade de inclusão social na cadeia produtiva da carnaúba. "Dentre os principais gargalos identificados estão a saúde e a segurança dos trabalhadores extrativistas, condições inegociáveis na perspectiva da garantia dos direitos humanos. Nosso objetivo agora é, junto aos parceiros da rede Diálogos Pró-Carnaúba, promover a inclusão socioprodutiva desses atores, com vistas ao enfrentamento dos condicionantes sociais, econômicos e ambientais da saúde nesse contexto", frisa Valber.
Serviço:
2º Encontro Internacional Diálogos Pró-Carnaúba
Data: 17 e 18 de setembro de 2024
Local: Hotel Mareiro, Av. Beira Mar, 2380 - Meireles, Fortaleza-CE
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