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AQUILOMBAR
Um encontro nacional de resistência e luta
Fotos: Carolina Antunes/MDA
Mulheres, crianças, idosos, homens. O 2º Ato Aquilombrar, que aconteceu hoje (16/05) em Brasília, mostra a diversidade e a força da população quilombola do Brasil. Baseadas nas origens, na ancestralidade e em tradições culturais próprias, as comunidades quilombolas são movimentos de sobrevivência, luta e resistência.
Fabiana Mendes, professora quilombola do Quilombo Conceição das Crioulas, em Pernambuco, é atuante nesta luta e faz questão de inserir os três filhos como participantes no movimento. Dois deles, de 9 e 11 anos, logo contam sobre as bonecas Caruás produzidas pelas artesãs e artesãos do quilombo. As bonecas, chamadas também de Bonecas Vivas, homenageiam mulheres da comunidade pelos ofícios que desenvolvem como professoras, parteiras e rezadeiras.
A pernambucana contou entusiasmada a história das seis mulheres que deram origem à sua comunidade. “O quilombo Conceição das Crioulas é uma comunidade matriarcal, as pessoas mais velhas são o que temos de mais importante, foi com as lideranças mais velhas que aprendemos nossa história e a termos orgulho de ser quilombolas”. Além dos mais velhos, os filhos são como sementes. “Eles devem participar e conhecer as histórias e tradições para que elas não morram”, explicou.
Os jovens quilombolas são bastante participativos na comunidade e entendem a importância de manter essas tradições. Flávia Pimentel, de 25 anos, pertence à comunidade Cururupú, do Maranhão. Ela faz parte do Grupo de Conscientização Negra, que completou 30 anos, em 2024. Voltado para jovens e crianças, o coletivo promove oficinas de dança, percussão e artesanato durante todo o ano. “É um movimento de resistência e uma forma de mostrar nossa cultura e resgatar nossa ancestralidade”, ressaltou Flávia.
Do Quilombo Córrego de Inhambu (GO) vieram 42 pessoas, entre elas, Francisco da Silva. Para ele, educação, saúde e a titularidade da terra são as questões mais importantes a serem debatidas e conquistadas. Segundo Francisco, atualmente, mais de 220 famílias estão cadastradas na comunidade, que tem como atividades principais o artesanato, a congada e a cultura popular. “Hoje fazemos um trabalho de trazer os jovens para perto e, assim, não perdemos nossas tradições”, afirmou.
Reconhecimento e empoderamento
Com 80 anos, Dona Celestina Rosa fez questão de estar presente no Ato. Quebradeira de coco piaçava, extrai óleo do coco, faz sabão e faz a farinha. Dona Celestina trabalha no Quilombo e ensina aos mais novos o trabalho que exerceu durante toda a vida. Hélio Rosa, descendente de quilombolas calunga, é cientista político e está engajado nas lutas pela terra para que os descendentes e remanescentes possam voltar para o quilombo. Para ele, o Aquilombar é uma oportunidade para mobilizar os quilombolas e construir políticas públicas.
Preocupado em atuar de maneira efetiva e participar dos projetos, Hélio busca "passar meu conhecimento e minha cosmovisão para os calungas nativos. Meu interesse é contribuir para a criação e distribuição de recursos para que a comunidade calunga se desenvolva de uma maneira saudável, sem que se destrua sua cultura e tampouco o bioma do qual faz parte”, explicou.
O 2º Aquilombar representa um encontro fertilizador das relações entre os quilombolas do país, dando visibilidade às suas culturas, às suas práticas de luta e resistência, revelando muito de sua arte, suas memórias, histórias, seus sonhos de futuros. A vinda de representantes de diversas regiões do país para a capital expõe, além da força dessas culturas tradicionais, uma necessária mobilização para o reconhecimento e o empoderamento de suas comunidades.