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INFORME Nº 7 – REDE COVID-19 HUMANIDADES MCTI - Eixo Profissionais de Saúde: impacto da pandemia em gestores de hospitais e profissionais da atenção primária
A Rede Vírus MCTI comunica que a Rede Covid-19 Humanidades MCTI, liderada pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em colaboração com a Fiocruz, o InCT Brasil Plural - UFSC, a UnB, a Unicamp, a UNIDAVI e a UFRN, tem desenvolvido pesquisas qualitativas e quantitativas sobre os impactos sociais da pandemia entre profissionais de saúde e população em isolamento. O presente informe trata da pesquisa que está sendo desenvolvida pela equipe (cinco professoras e oito estudantes de iniciação científica) do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Brasil Plural da Universidade Federal de Santa Catarina (IBP-UFSC), que foca os impactos sociais entre profissionais de saúde.
A coleta de dados primários nos municípios de Florianópolis (litoral do estado) e de Curitibanos (região Alto Vale do Rio do Peixe) tem sido realizada por meio de entrevistas semiestruturadas, de forma remota com uso de aplicativo de videoconferência, com profissionais e gestores de saúde que atuam no enfrentamento à pandemia. Em Curitibanos, foram entrevistados/as profissionais do Hospital Hélio dos Anjos Ortiz e da Secretaria Municipal de Saúde (atuantes nos serviços e na gestão); em Florianópolis, foram incluídos/as trabalhadores/as do Hospital Universitário Polydoro Ernani de São Thiago da UFSC e da Secretaria Municipal de Saúde (atuantes na atenção primária e na gestão).
Os resultados não são homogêneos e acompanham a variabilidade e a sucessão de fatos que acompanham um fenômeno tão complexo quanto uma pandemia. As primeiras entrevistas apontam para questões relativas aos medos de contaminação de familiares por parte dos/das profissionais de saúde. Em Curitibanos, relataram que sofriam preconceito de pessoas que sabiam que trabalhavam no hospital, que tinham muito medo de adoecerem e da morte, e que sofriam devido à sensação de impotência face a uma doença sem tratamento. Esses/essas profissionais na linha de frente afirmaram que o sofrimento também era relativo ao isolamento a que os/as pacientes eram submetidos/as, sendo a ventilação mecânica percebida como um limiar entre a vida e a morte. Além disso, os protocolos elaborados durante a pandemia para o manejo de corpos foram percebidos pelos/pelas trabalhadores/as como desumanização da morte, gerando sofrimento especialmente nos/nas técnicos/as de enfermagem, responsáveis pela preparação dos corpos para a entrega aos agentes funerários.
À medida que a pandemia avançava, entre os meses de fevereiro e maio de 2021, tanto em Florianópolis quanto em Curitibanos os relatos trouxeram o medo da falta de medicamentos, especialmente dos anestésicos para o procedimento de introdução da ventilação mecânica. Esse período foi percebido pelos/pelas profissionais como o mais crítico até o momento.
Na atenção primária, em Florianópolis os dados apontam para a importância de uma gestão local focada na reorganização dos processos de trabalho dos/das profissionais, passando pela redefinição dos espaços físicos - salas e fluxos próprios para o acolhimento e atendimento das pessoas com sintomas respiratórios -, pelo uso de tecnologias (como Whatsapp e formulários online) para o teleatendimento das demais demandas de saúde das comunidades atendidas e pela contínua atualização de protocolos. Nesse nível de atenção, o medo de se contaminar e de contaminar familiares e pessoas próximas também foi relatado pelos/pelas trabalhadores/as, principalmente no período anterior à vacinação.
Outra frente de estudo tem sido desenvolvida por meio da coleta de dados secundários nos boletins do Núcleo de Estudos de Economia Catarinense (NECAT-UFSC) e em matérias publicadas na imprensa regional (Florianópolis e Curitibanos) desde o início da pandemia, tratando sobre os/as profissionais de saúde em particular e questões relativas à pandemia em geral. No caso dos boletins, publicados semanalmente, tem sido possível acompanhar a situação epidemiológica da pandemia no estado. A análise das notícias jornalísticas aponta para temas que trazem à tona a dinâmica de disseminação do vírus e o contexto sócio-político da pandemia, destacando-se:
- As controvérsias sobre o tratamento precoce e uso de medicamentos;
- O uso de máscara;
- A sobrecarga de trabalho dos/as profissionais de saúde, gerando situações de afastamento devido ao estresse ocupacional, seguido de trabalhadores/as considerados/as com maior risco para contraírem a Covid-19;
- A disseminação nas mídias de notícias falsas sobre a pandemia.
- As dificuldades de gestão hospitalar e a superlotação de leitos de tratamento intensivo;
- As aglomerações e a baixa adesão a medidas não medicamentosas;
- O esgotamento físico e emocional dos profissionais de saúde.
Os resultados parciais das pesquisas conduzidas pela Rede Covid-19 Humanidades MCTI têm sido publicadas em artigos de periódicos nacionais e internacionais, capítulos de livro e em notas técnicas. Todas as publicações estão reunidas no website www.ufrgs.br/redecovid19humanidades e podem ser acessadas abertamente.
Rede Covid-19 Humanidades MCTI