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INFORME Nº 16 – REDE COVID-19 HUMANIDADES MCTI
A Rede Vírus MCTI comunica que a Rede Covid-19 Humanidades MCTI, liderada pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em colaboração com a Fiocruz, o InCT Brasil Plural - UFSC, a UnB, a Unicamp, a FGV, a UFRN e a UNIPAMPA, tem desenvolvido pesquisas qualitativas sobre os impactos sociais da pandemia de Covid-19 no Brasil.
A Covid Longa e suas múltiplas manifestações é tema de pesquisa sobre os impactos sociais da pandemia de Covid-19 no Brasil, desenvolvido pela Rede Covid-19 Humanidades MCTI. Ele compõe uma frente preocupada com a análise e a resposta às disparidades e injustiças sociais implicados na zona nebulosa, complexa e incerta que é frequentemente descrita como “pós-pandemia”. Quais os impactos sociais da Covid-19 para quem ainda convive com sintomas persistentes? Quem decide e como se dimensiona a manutenção de níveis aceitáveis da doença? Qual o papel dos ambientes e das práticas de cuidado, de recuperação e de reparação de traumas, sequelas na decisão e na administração de uma “vida normal” para quem ainda se sente afetado e limitado pela doença?
A Covid Longa ainda se mostra como uma questão em aberto, a despeito dos importantes avanços já consolidados. O principal problema é a ausência de diagnóstico diferencial. Mas, pesquisas microbiológicas em curso tentam compreender os diferentes efeitos do vírus no corpo humano; outras, de cunho médico, analisam o modo clínico das manifestações por meio do atendimento/tratamento de pacientes; outras ainda, de cunho epidemiológico caracterizam as incidências da persistência de sintomas da Covid-19 entre diferentes populações. A pesquisa aqui em tela se junta a estas demais somando a elas a perspectiva de quem vive a doença nos seus corpos, na sua vida cotidiana, analisando os diferentes sentidos, experiências e modos de convivência com a Covid Longa, no espectro do que se convenciona chamar de “impacto social da pandemia”. Por meio da formação de grupos que relatam suas experiências em forma de narrativas, a pesquisa se concentra na caracterização narrada das manifestações prolongadas da Covid-19 entre os atingidos pela doença; na autodescrição dos tratamentos, incluindo as intervenções medicamentosas e a identificação e descrição de práticas e de ambientes de cuidado e de recuperação.
O ponto é que os parâmetros biomédicos correntes têm focado nas sequelas múltiplas, inexplicadas e invalidantes da Covid-19 observadas em pessoas hospitalizadas em virtude de formas agudas da Covid-19. Acontece que muitos dos relatos coletados na pesquisa também apontam para manifestações entre atingidos por suas “formas leves”, ou seja, por pessoas que não precisaram de hospitalização. Trata-se de população jovem e de classes trabalhadoras, com dificuldade de acesso a acompanhamento e tratamento. Entre quem buscou atendimento médico, a informação de que sintomas não durariam mais do que quatro semanas é prevalecente, em outros, de seis meses. Também são relatadas maior concentração de atenção na identificação de possíveis problemas de ordem respiratória, cardíaca e circular, ignorando as demais narrativas de sofrimento. A queixa mais comum é de que na falta de diagnóstico de Covid Longa a partir dos parâmetros biomédicos foi preciso retomar a rotina de trabalho mesmo com dificuldades relacionadas a dores, fadiga crônica e a sensação de descaso, o que leva esta frente de pesquisa a se preocupar com a potencial invisibilização da Covid Longa entre determinadas populações ante a insuficiente constituição de equipes multidisplinares de atenção em saúde voltadas para os efeitos prolongados da Covid-19.
Os resultados parciais das pesquisas conduzidas pela Rede Covid-19 Humanidades MCTI têm sido publicadas em artigos de periódicos nacionais e internacionais, capítulos de livro e em notas técnicas. Todas as publicações estão reunidas no website www.ufrgs.br/redecovid19humanidades e podem ser acessadas abertamente.