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INFORME Nº 11 – REDE COVID-19 HUMANIDADES MCTI
A RedeVírus MCTI comunica que a Rede Covid-19 Humanidades MCTI, liderada pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em colaboração com a Fiocruz, o InCT Brasil Plural - UFSC, a UnB, a Unicamp, a UNIDAVI e a UFRN, tem desenvolvido pesquisas qualitativas sobre os impactos sociais da pandemia entre profissionais de saúde e população em isolamento.
Desde julho de 2020, a Rede Covid-19 Humanidades MCTI tem desenvolvido o projeto A Covid-19 no Brasil: análise e resposta aos impactos sociais da pandemia entre profissionais de saúde e população em isolamento (fase 1 da pesquisa), cujos resultados parciais foram objeto dos dez primeiros informes aqui apresentados. Neste mês de março de 2022 encontra-se em situação final de implantação a segunda fase da pesquisa, intitulada A Covid-19 no Brasil - fase 2: análise e resposta aos impactos sociais da pandemia - imunização, tratamento, práticas e ambientes de cuidado e de recuperação de afetados, em caráter de continuação e desdobramento dos trabalhos realizados até aqui.
A pandemia tem se mostrado dinâmica, então a investigação dos seus impactos também precisa ser. Compreende-se que o conjunto de fenômenos analisados e os resultados já consolidados pelas pesquisas da Rede Covid-19 Humanidades MCTI confirmam o que Charters e Heitman (2021 - https://doi.org/10.1111/1600-0498.12370) afirmam sobre a dinâmica destes fenômenos - de que eles excedem às narrativas lineares de começo, pico e fim. Pandemias e epidemias são vividas em ciclos de intensidade e temporalidade cujo fim - ou fins - não implica a cessão da circulação do agente patógeno e da redução da contaminação e morte por meio da imunização ou do tratamento. Diferentemente da esperança idealista da “erradicação biológica”, o fim de uma pandemia depende muito mais de uma contínua negociação política, ética e social de “níveis aceitáveis”, que permitem a “administração de uma vida social normal” (Charters, Heitman, 2021).
O ponto-chave da segunda fase da pesquisa é justamente a análise e a resposta às disparidades e injustiças sociais implicados nesta zona nebulosa, complexa e incerta que é frequentemente descrita como “pós-pandemia”.
A fase 1 da pesquisa responde por um duplo e fundamental papel no desenvolvimento desta fase 2. Primeiro, porque ela motivou a criação e firmou a consolidação da Rede Covid-19 Humanidades MCTI. A sua equipe é formada por pesquisadoras e pesquisadores que acumulam importantes antecedentes de pesquisa de natureza similar com outras infecções e epidemias, como HIV/Aids, Dengue, Zika, Chikungunya, Febre Amarela, Malária, Leishmaniose, e outras doenças, emergentes ou negligencias. Esta característica singular da equipe tem permitido um olhar mais abrangente para a pandemia de Covid-19 por meio de análises comparativas com outros eventos agudos em saúde coletiva. Segundo, porque o formato qualitativo e longitudinal da fase 1 da pesquisa têm impelido ao acompanhamento contínuo das populações-objeto, fato este que permite uma compreensão mais apurada do caráter altamente dinâmico da pandemia e a recorrência de novas demandas e preocupações a ela associadas. O mesmo ocorre com o caso do impacto no sistema de saúde, de um modo geral, e dos profissionais deste setor, em particular, com a crescente demanda de atendimento pós Covid-19, que nos leva à busca da análise e resposta aos impactos sociais dos tratamentos, aos processos de enlutamento, recuperação de traumas e sequelas, reparação de danos e reorganização do cotidiano familiar, profissional e educacional, com especial atenção às práticas e ambientes de cuidado.
Além disso, cabe salientar que este projeto não se limita exclusivamente às populações já acompanhadas na fase 1 da pesquisa, mas se vale centralmente delas, em termos metodológicos, para expandir o seu alcance, já que grupos e espaços pesquisados nos permitem alcançar novas populações, como pessoas enlutadas ou em processo de tratamento e recuperação.
Enfatiza-se que o investimento em análises e respostas à pandemia abrem novas frentes em Ciências Humanas e Sociais, mas também para a população em geral, os setores produtivos e o Estado, uma vez que o seu olhar sobre crises sanitárias não tem o seu enfoque dirigido exatamente aos mecanismos técnico-biológicos que constituem estes eventos, mas para as relações e transformações que provocam nas sociedades. Conforme Singer e Rilko-Bauer (2021 - https://doi.org/10.1515/opan-2020-0100) os impactos da pandemia sobre diferentes grupos sociais precisa ser investigado considerando a sua característica sindêmica e as formas de violência estrutural que intensifica seus efeitos.
Nesta linha, este projeto busca subsídios para a análise da interação sinérgica adversa entre duas ou mais doenças ou condições debilitantes promovida ou facilitada por condições sociais e ambientais e as formas frequentemente ocultas de estruturas de desigualdade, como a pobreza, o racismo e a discriminação, que impactam negativamente a vida e o bem-estar das populações afetadas
Os resultados parciais e conclusivos de ambas as pesquisas conduzidas pela Rede Covid-19 Humanidades MCTI têm sido publicadas em artigos de periódicos nacionais e internacionais, capítulos de livro e em notas técnicas. Todas as publicações estão reunidas no website www.ufrgs.br/redecovid19humanidades e podem ser acessadas abertamente.
Rede Covid-19 Humanidades MCTI