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INFORME Nº 10 – REDE COVID-19 HUMANIDADES MCTI
A RedeVírus MCTI comunica que a Rede Covid-19 Humanidades MCTI, liderada pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em colaboração com a Fiocruz, o InCT Brasil Plural - UFSC, a UnB, a Unicamp, a UNIDAVI e a UFRN, tem desenvolvido pesquisas qualitativas sobre os impactos sociais da pandemia entre profissionais de saúde e população em isolamento.
O eixo de atuação sobre população em isolamento desenvolve pesquisas entre diferentes populações, entre as quais, aquela que se dedica à cicloentrega de comida - um tópico conduzido por pesquisadores da UFRGS. O trabalho com entregadores de comida foi pensado logo no início da pandemia e contava com a hipótese de que o trabalho destes profissionais facilitaria o isolamento de outras pessoas durante o tempo que se imaginaria ser uma quarentena. No caso, eles realizariam serviços que exigiriam a circulação pela cidade. Contudo, a nossa preocupação era a de que esta população colocaria em risco a sua saúde, do seu meio familiar ou mesmo daqueles a quem prestavam serviços, já que estariam, mais facilmente, em eventual exposição ao vírus. No entanto, o que este eixo de trabalho logo nos mostrou é que a pandemia colocava sobre a mesa cálculos e negociações de um complexo mais amplo de riscos, de vulnerabilidades e de agendas sociais. Destacamos os seguintes pontos:
- No início da pandemia, no primeiro semestre de 2020, trabalhadores do setor de entrega de comida relatavam alta demanda de serviços, por conta dos restaurantes fechados ao público e operando apenas por tele-entrega/aplicativos. No entanto, a partir do segundo semestre de 2020, os relatos começaram a mudar: com perdas de postos formais de trabalho, o setor de entregas de alimentos se tornou uma alternativa para muitas pessoas desempregadas, o que fez com que a alta demanda inicial fosse “pulverizada”. Além disso, com a reabertura dos restaurantes ao público, a demanda do serviço voltou a cair, mas continuou “pulverizada” entre o contingente inflado de trabalhadores do setor. Em 2021, relatos de profunda insatisfação e de iminente abandono da atividade, que já não era mais sustentável, se multiplicaram;
- Entregadoras do sexo feminino relatam medo de sofrer violência sexual durante a sua jornada de trabalho. Muitas mulheres entregadoras dizem se sentir obrigadas a usar roupas largas e compridas e esconder os cabelos debaixo do capacete mesmo no forte calor do verão, em razão de ser comum o assédio de homens na rua (cantadas, gritos e perseguições) durante a rotina de trabalho;
- Prevalecem também as queixas sobre a segurança. Foram frequentes os relatos de roubo de bicicletas e de bags (caixa que é carregada nas costas). Além desse problema, era frequente a queixa sobre a “falta de respeito a quem pedala”. O relato de um entrevistado sintetiza bem este ponto: “tu fala do coronga, mas tu já pedalou em Porto Alegre? A gente lida com a morte o tempo todo aqui”;
- Por fim, a falta de respaldo sindical e de reconhecimento formal da categoria é uma queixa onipresente. Entregadores reclamam de “não ter nenhum direito” e de serem explorados pelas plataformas que gerenciam os pedidos online. Emerge, assim, intensas preocupações com a hostilidade do trânsito, com os assaltos, o assédio, o preconceito na rua e a falta de respaldo sindical.
Os resultados parciais das pesquisas conduzidas pela Rede Covid-19 Humanidades MCTI têm sido publicadas em artigos de periódicos nacionais e internacionais, capítulos de livro e em notas técnicas. Todas as publicações estão reunidas no website www.ufrgs.br/redecovid19humanidades e podem ser acessadas abertamente.
Rede Covid-19 Humanidades MCTI