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INFORME Nº 4 – REDE COVID-19 HUMANIDADES MCTI
A Rede Vírus MCTI comunica que a Rede Covid-19 Humanidades MCTI, liderada pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em colaboração com a Fiocruz, o InCT Brasil Plural - UFSC, a UnB, a Unicamp, a UNIDAVI e a UFRN, tem desenvolvido pesquisas qualitativas e quantitativas sobre os impactos sociais da pandemia entre profissionais de saúde e população em isolamento.
Além da pesquisa quantitativa envolvendo os profissionais de saúde, realizou-se pesquisa qualitativa por meio de entrevistas em profundidade com Agentes Comunitários de Saúde (ACS), Agentes de Combate a Endemias (ACE), Agentes de Promoção Ambiental (APA) e Agentes de Vigilância Sanitária (AVS) nos territórios de São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro. A pesquisa qualitativa na região sudeste com agentes de saúde almejou compreender o controle de vetores e arboviroses no contexto da pandemia da Covid-19, também com foco em questões relacionadas ao gênero. Desta forma, os principais resultados das pesquisas estão sintetizados a seguir:
a) Em ambas as pesquisas os agentes de saúde (ACS, ACE, APA, AVS) relataram a falta de equipamentos de proteção individual durante os primeiros meses da pandemia, pois não foram considerados “profissionais da linha de frente”, apesar de trabalharem em contato direto com a população. O recebimento de máscaras só foi garantido após reivindicações coletivas dessas categorias na justiça. Além disso, foram os últimos profissionais das equipes de unidades básicas de saúde e centros municipais de saúde a serem vacinados e não receberam treinamentos específicos para lidar com os desafios da pandemia;
b) Alguns centros de saúde estão com as equipes de agentes de saúde bastante reduzidas, devido ao afastamento de profissionais idosos, com comorbidades ou com suspeita de estarem com covid. A redução das equipes, que muitas vezes já eram pequenas para o tamanho da população que atendem, somada aos redirecionamento desses profissionais para atividades relacionadas à Covid-19 tem causado uma redução das visitas domiciliares e alteração da rotina de trabalho desses profissionais. Neste contexto, em ambas as pesquisas há relatos de desvio de função e de sobrecarga de trabalho, além da falta de treinamento para exercerem novas atividades;
c) Em ambas as pesquisas os agentes de saúde relataram que o maior impacto da pandemia sobre o seu trabalho tem sido não poderem entrar nos domicílios que visitam. Isso dificulta principalmente suas atividades relacionadas ao controle de vetores, uma vez que não conseguem observar se a população têm seguido suas recomendações;
d) Uma das principais reclamações de diferentes categorias de profissionais de saúde, em especial de agentes de saúde e técnicos de enfermagem, em relação ao seu trabalho é a falta de valorização tanto por gestores públicos, o que leva a precarização do trabalho, quanto pela população, que muitas vezes não entende a importância do trabalho preventivo que realizam. Muitos relatam uma resistência em relação aos cuidados preventivos de saúde principalmente por homens;
e) Em relação ao impacto da pandemia na população atendida, estes observaram um aumento de problemas de saúde mental, principalmente de pessoas idosas, e do desemprego, principalmente de mulheres, que passaram a ficar mais em casa. Além disso, alguns destacaram que a saúde da mulher foi impactada pela redução de atendimentos ginecológicos de rotina durante a pandemia, devido ao foco direcionado à Covid-19;
f) Em relação ao impacto da pandemia em suas vidas pessoais, assim como observado entre os profissionais de saúde, destaca-se o medo de contaminação e de transmissão da doença para seus familiares.
g) Os entrevistados na pesquisa qualitativa observaram uma queda na incidência de arboviroses durante a pandemia. Na opinião da maioria, essa queda não representa a realidade, mas seria resultado da atenção maior voltada para a Covid-19 e uma negligência das arboviroses. Para alguns, entretanto, essa queda poderia estar associada a um maior controle de vetores realizado pela população, devido ao aumento da permanência nos espaços domésticos e do cuidado com a limpeza dos domicílios, exercido predominantemente por mulheres.
Os resultados parciais das pesquisas conduzidas pela Rede Covid-19 Humanidades MCTI têm sido publicadas em artigos de periódicos nacionais e internacionais, capítulos de livro e em notas técnicas. Todas as publicações estão reunidas no website www.ufrgs.br/redecovid19humanidades e podem ser acessadas abertamente.
Rede Covid-19 Humanidades MCTI